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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Personagens e actores

Confrontando-se com a escassez de elementos masculinos entre os seus componentes, alguns agrupamentos folcoricos têm optado por transvestir algumas raparigas, vestindo-as com trajes masculinos e criando assim um simulacro de representação que podemos definir como algo burlesco.
Ora bem, os novos condicionalismos sociais que fazem dos nossos jovens indivíduos dotados de outras perspectivas e sujeitos de outras motivações, vai retirando aos grupos folclóricos o papel tradicional de elemento social integrador e oportunidade basilar de convívio um pouco por todo o país e, pontualmente, pelo estrangeiro.
Assim o seu papel de aglutinador de anseios e expectativas vai-se naturalmente diluindo. E a sua capacidade mobilizadora, naturalmente decaindo.
È mais um efeito da mudança social em curso, sobre a qual os responsáveis desta área, nomeadamente a Federação, se deveriam debruçar! Se, naturalmente percebessem, pelo menos, o que isso é!
Perceber, por exemplo, que os grupos folclóricos têm, cada vez mais, obrigação de fomentar e diversificar as suas capacidades de atracção de novos elementos. Diversificando iniciativas e formas de representação. Delegando competências directivas e não só! Contextualizando os padrões culturais apresentados. Atraindo jovens e não jovens sensibilizados para as questões culturais e patrimoniais e não apenas para a actividade recreativa da dança, de motivação mais intensa mas muito mais efémera.
Já não chega, hoje, simplesmente existir! É preciso algo mais!
É assim normal que alguns grupos se vão debatendo com lacunas nas suas fileiras. De raparigas e mais frequentemente de rapazes, ainda hoje (apesar de tudo), com mais autonomia social e alvo de maiores solicitações lúdicas.
Isto e o facto de muitos responsáveis por agrupamentos não fazerem, muitas vezes, ideia da matriz conceptual que está ligada à representação folclórica, leva-os a fazer disparates desses.
É um facto que, como o nome indica, a apresentação de um espectáculo de folclore é, enquanto actividade, essencialmente uma representação. Composta de um conjunto de personagens que resultam do desempenho de determinados papéis por um determinado conjunto de actores.
È também um facto que, em última instancia, o encarnar de qualquer personagem pode ser desempenhado por um qualquer actor: homem ou mulher!
È até verdade que nos primórdios do teatro só os homens eram actores, desempenhado aí, indiferentemente, papéis masculinos e femininos.
Tudo isto é verdade!
Mas...
Mas, não estamos no século XVIII, em que a uma mulher minimamente respeitável era interdito participar em qualquer espectáculo. Principalmente público!
Nem a representação folclórica é, enquanto essência, semelhante à representação de uma peça teatral de autor, cuja reinterpretação ou manipulação apenas tem limites nos limites da criatividade artística do encenador ou dramaturgo.
Uma representação folclórica pretende ser uma aproximação o mais rigorosa possível, às vivências seculares; preferencialmente representadas tanto na forma como no conteúdo.
Quer isto dizer que colocar homens a fazer o papel de mulheres ou, como é o caso, mulheres a fazer o papel de homens surge como uma incongruência no contexto socio-cultural da representação.
Numa representação que tenta recriar em palco (e não só) de uma forma coerente, o modelo vivencial ancestral em que se movimentavam os membros das comunidades aí representados, tal subterfúgio soa, naturalmente, a falso!
È afinal tal situação é absolutamente desnecessária!
Por isso é um erro maior ainda!
É que os grupos folclóricos não têm que ter (como muitas vezes se pensa) nem um determinado número de pares (“requeridos” apenas por razões de eficácia coreográfica, a maior parte das vezes falaciosas) nem, naturalmente, o mesmo número de rapazes e raparigas.
Se se der o caso dos rapazes serem em maior número, tudo se resolve gerindo em alternância a participação dos mesmos No caso referido (excesso de raparigas), a solução é ainda mais simples: simplesmente porque, as ditas, dançavam tradicionalmente, muitas vezes, umas com as outras!
Por razões diversas, em alturas diversas, de forma temporariamente mais breve ou demorada mas, principalmente, de forma natural, espontânea e... frequente.
Deste modo, se encarada enquanto mecanismo de representatividade, tal situação (ao invés de um défice) pode e deve ser encarada, até, como uma mais valia!
Para isso, contudo, muitos dos responsáveis dos grupos folclóricos para quem estas coisas são a “quadratura do círculo”, terão de parar um bocadinho para pensar!
Eu sei que essa coisa de pensar, muitas vezes, faz dores de cabeça! Mas,... façam lá um esforçozinho!
Comecem por fazer esta pergunta: o que é que eu estou a aqui a fazer? O que é que eu quero representar?
Vão ver que vão chegar à conclusão, que pretendem (nem mais nem menos), que representar os bailes e iniciativas afins que, duma forma ou doutra, em tempos idos, animavam as nossas comunidades especialmente do interior; as nossas aldeias rurais se quisermos.
Depois, só têm que saber como eram os tais bailes! Qual a lógica e a funcionalidade dos mesmos!
Em suma,.. têm que saber como era, para puderem, agora, contar como foi!
Será que é assim tão difícil?!!


Forum Ribatejo


O tratamento de polé que o Ribatejo tem merecido dos seus dirigentes políticos (afinal aqueles que mais o deveriam ter defendido) levou recentemente á criação de uma singular movimento, denominado “Fórum Ribatejo”, dedicado ao estudo, defesa e divulgação da cultuar ribatejana.
Movimento singular, este, desde logo pela sua abrangência: englobando pessoas todos os concelhos que, de alguma forma, e nalguma altura, estiveram integrados na antiga região ribatejana, sem deixar de fora, naturalmente, agentes culturais ligados culturalmente á mesma, mesmo que aqui não residam actualmente.
Singular por ser transversal á artificial bipartição do Ribatejo que as ultimas décadas vieram cavando; em Lezíria do Tejo, Médio Tejo, Templários, Alto e Baixo Ribatejo e quejandos, e assumir a matriz Tejo e a territorialidade Vale do Tejo como elementos aglutinadores.
Singular, ainda, por estar organizado de maneira pouco orgânica; funcionando como uma plantaforma de rede (tirando partido das incomensuráveis vantagens comunicacionais das tecnologias informáticas) mas, não obstante, realizando semestralmente encontros tendentes a facultar a necessária relação face a face, indispensável nestas condições.
Singular, finalmente, por constituírem os elementos culturais e patrimoniais o seu móbil e cimento aglutinador, algo que o pais que temos na região que vivemos não está habituado a assistir a testa dimensão territorial.
A surpreendentemente favorável receptividade á ideia (integrante hoje de personalidades de 17 concelhos do Habito, de Benavente á Abrantes) é bem reveladora da maturidade das condições que fazem as personalidades culturais da Região (em grande parte sem ligação orgânica ás estruturas partidárias) sentir intensamente a incongruência de uma situação politico-amistartiva em que sob o pretexto económico e político se tem desagregado e, deste modo, menorizado, os potenciais de afirmação e identificação regional.
Comunicação em rede, troca de ideias e conjunção de projectos, criação de substratos culturais regionais, organização solidária assente nas sinergias locais, relações de conhecimento entre agente culturais da região espalhados pela mesma, visão holística e abrangente das problemáticas regionais, numa óptica de diferenciação cultural como valor enriquecedora da dimensão regional.
Enfim, uma unidade de interesses, assente num modelo cultural intrinsecamente ribatejano de diferenciações, naturalmente, feito!
Paradigma de um certo modelo vivencial que ancestrais relações d trabalho, actividades económicas e produtivas e vivências mais ou menos ribeirinhas, consubstanciaram no tempo, num contexto geofísico singular no território nacional.
Após a sua constituição, em Setembro de 2009, reuniu no passado dia 26 de Março pela primeira vez, estando a próxima reunião marcada para Setembro, em Tomar.
Das suas iniciativas destacam-se um ciclo de debates a realizar em diversos concelhos ribatejanos: em Maio, em Alpiarça, em Junho, em Alcanena, em Setembro, em Santarém, em Novembro, em Rio Maior, em Abrantes em Fevereiro de 2011 e, finalmente, em Constância em Abril do mesmo ano. Outras se seguirão e, atempadamente, reveladas.

domingo, 4 de abril de 2010

Festas de São José em Santarém

Esclareça-se, desde já, que não tenho nada contra a maneira como decorreram as Festas de São José, em Santarém.
Passei por lá e constatei facilmente a maior dignidade deste espaço do campo Emílio Infante da Câmara. A afluência era considerável e as actividades tendentes à promoção dos arquétipos turístico-culturais ribatejanos e escalabitanos mais conhecidos: Folclore, toiros, fado, música popular, largadas, artesanato, gastronomia, etc.,.. mescladas, quanto baste, de iniciativas mais eruditas, que os cofres camarários não estão para loucuras.

Perpassa-me porém, de tudo isto, uma sensação de esterilidade! De não potenciação futura!
E a constatação, mais uma vez, que Santarém continua sem umas verdadeiras festas do concelho!

E isto porque a brevidade conjuntural das lideranças municipais e a sua resistência a opções político-culturais de fundo, geradoras de controvérsia (e, quiçá, pouco populistas) continua a apostar numa temática invocadora (São José) de praticamente nula dimensão devocional local e mais nula, ainda, capacidade regeneradora.

Ora, se há concelho ribatejano que necessite de uma grande festa anual, pólo de atracção das freguesias rurais, mecanismo de coesão territorial do concelho e instrumento de reforço do tecido social municipal é, de facto, Santarém.

Santarém que sempre viveu de costas viradas para as freguesias rurais*!
Aliás, o nome corrente pelo qual são conhecidas (“Festas da Cidade”) é bem sintoma de que estas não são, nem têm pretendido ser, festas do concelho!

Se há concelho que necessite de uma iniciativa promotora do orgulho e auto-estima do corpo municipal, condição necessária (embora longe de suficiente) para a sua afirmação como pólo regional dominante é, igualmente, Santarém.

E de facto não o consegue com Festas de São José; fazendo de conta que existe um culto (ou, se quisermos, fazendo de conta que ainda existe um culto) de São José em Santarém!
Suportando institucionalmente a promoção das mesmas e contentando-se com os sofríveis resultados obtidos. Cujas estratégias, as mudanças de projectos executivos vão fazendo flutuar ao ritmo das marés das lideranças municipais.

Se o quiser, tem de apostar ou numa devoção existente embora devocionalmente localizada como o “Santíssimo Milagre”, numa devoção de declínio recente como a “Senhora da Saúde” ou, sei lá, numa temática temporal profana mas susceptível de ser sacralizada como a questão (hoje já parcialmente mitificada) da “conquista de Santarém”.

Em todas, dir-se-ia, menos São José!
É claro que, para isso, é necessário começar de novo. Ter a coragem de afrontar algumas consciências. Assumir o ónus de eventuais fracassos. E, essencialmente, pensar alternativas e suas previsíveis consequências.

É um facto que dá um trabalhão!

Porém, outros, bem próximos, o têm conseguido. E, com condições de partida bem mais modestas!


* Freguesias que representam cerca de 80% do território municipal e mais de 40% da população concelhia.



Aurélio Lopes