*********************************************************************************************************************************************************************

Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


**********************************************************************************************************************************************************************


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fartar vilanagem

Há algum tempo fui confrontado com as novas leis (que supostamente destinadas a contribuir para equilibrar as contas públicas, fazem tábua rasa dos mais elementares direitos de cidadania) sob a forma de uma carta-aviso. Emanada pelo Ministério da Saúde, reclamando o pagamento de uma taxa moderadora no valor de 2,20 euros.
Até aí tudo bem! Embora irrisória e não voluntária, uma dívida é uma dívida!
Contudo, a dita, não se limitava a solicitar a liquidação do débito referido, com bons modos e num prazo admissível.
Não! De acordo com determinação criada já em 2011, dava-se um prazo de dez dias (nem sequer dez dias úteis) e ameaçava, acto contínuo, que o não pagamento no prazo prescrito acarretaria uma penalização cinco vezes superior e, não contente com isso, num mínimo (atente-se) de cem euros!
Quer isso dizer que um cidadão a quem por exemplo não tenham solicitado a referida taxa (se quiserem eu explico porque é que isso acontece frequentemnete) é avisado da famigerada existência da mesma e por razões mais diversas (por exemplo estar ausente e só receber a missiva fora do escasso tempo útil) demora 11 dias a pagar os tais 2,2 euros, será obrigado a pagar 100 euros!
Qualquer coisa como quarenta e cinco vezes mais! Um agravamento de cerca de dois mil e trezentos por cento!
Imagine-se, agora, que é um dos felizes contemplados com o ordenado mínimo nacional, que mal chega (quando chega) para as inevitáveis despesas fixas, ficando o comer e beber por conta de uma dieta, dir-se-ia “a pão e água”!
É desta maneira, pelos vistos, que o Governo pretende equilibrar as contas públicas!
Dito de outra maneira, que a classe politica portuguesa pretende colmatar as nefastas consequências de duas ou três décadas de sucessivo desleixo e incompetência governativa!
Da sua única e exclusiva responsabilidade!
É um facto que o primeiro-ministro (tudo leva a crer) ganhou a licenciatura, como usa dizer-se) “na Farinha Amparo!”
Não sei, mas calculo, que as suas competências como engenheiro não sejam brilhantes!
Sei, sem necessidade de as calcular (já que saltam aos olhos) das suas incompetências como governante!
Não obstante, tendo em conta o assunto em epígrafe (e aquilo que ele revela) é bem verdade que possui outras e consideráveis capacidades!
Infelizmente, muitas delas impronunciáveis num blog respeitável!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dar e receber

Numa sociedade em que a economia constitui doutrina dominante, o comércio, ritual sagrado e, o lucro, uma espécie de nova divindade, o Natal corresponde, hoje, a uma oportunidade mais para elevar o consumo a níveis desmesurados.
Consumo que busca num enviesado entendimento da tradição as razões convenientes que justifiquem as desmesuradas trocas de presentes que sustentam, nos nossos dias, quase totalmente, a actividade natalícia.
São prendas e oferendas, iluminações de rua e marketings exacerbados, centrados na figura mais ou menos burlesca do Pai Natal. São montras, compras e decorações, embrulhos multicores, pinheiros artificiais ornamentados e rodeados, ainda e sempre, de presentes.
É o exagero de consumo próprio, dos períodos festivos tradicionais na verdade, mas elevado aqui a um frenesim raiando os limites do irracional!

Como estamos longe da comemoração secular do nascimento do Deus/Menino (do “Menino Jesus”, lembram-se?) que a Igreja passou a celebrar a partir do século IV, de forma a combater a crescente importância do nascimento de Mitra, o Deus solar de barrete frígio.
Dos presépios que, a partir do século XII, vêm permitir a recriação ritual do acto primevo do nascimento e, assim, em cada lugar, beneficiar-se propiciatoriamente das qualidades regeneradoras e purificadoras que aquela faculta.
Das fogueiras que, de fenómenos solares de consagração divinatória, irão evoluir para a funcionalidade mais prosaica, concerteza, mas igualmente eficaz de “aquecer o menino” e, através dele, o coração dos crentes.
Dos cantos natalícios, modelo ambivalente de “louvar o Senhor” e solicitar ao mesmo tempo de forma mais pragmática e muitas vezes irreverente, dádivas de alimentos consumidos depois em festivas refeições comunitárias.

Na verdade, na economia de mercado em que vivemos nenhuma área vivencial se encontra imune à omnipresente lógica mecanicista e mercantilista.
Lógica corruptora de valores rituais associados, durante milénios, à comemoração de sucessivos nascimentos de divindades solares: arquétipos, afinal, de todos os nascimentos.
Lógica em que, por exemplo, medimos cada vez mais a dimensão dos nossos sentimentos, pelo valor de mercado do presente ofertado.
Esquecendo, até, que a dimensão de uma dádiva não deve ser medida pelo seu valor material ou pelo seu custo económico.
Não deve ser medida pelo valor daquilo que damos!
Mas por aquilo com que ficamos, depois de dar!