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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cíclicas ilusões

Sucedem-se as avaliações ao novo Governo e aos seus ministros, vistos, pelos imperativos da necessidade, como uma espécie de salvadores da pátria, agora que as organizações de poder alternaram mais uma vez e nos esquecemos, já, das concomitantes responsabilidades de umas e outras.
Os analistas políticos, críticos, comentaristas e toda a fauna de politólogos (encartados ou não), tecem considerações de circunstância sobre as circunstâncias da formação de um governo que, de acordo com os deploráveis circunstancialismos actuais, deveria merecer um esforço o mais abrangente possível, de conjunção e adição de vontades e competências.
Percebe-se logo, contudo, que, mais uma vez, algumas das primeiras escolhas preferiram calçar as pantufas e assistir de poltrona a um difícil e naturalmente impopular processo económico e financeiro, necessário à superação de uma situação de facto que muitos deles, convenhamos, ajudaram a criar.
O nosso sentido de responsabilidade política e de solidariedade nacional é um espanto!
Tenhamos, porém, poucas ilusões, o próximo Governo, fosse ele qual fosse, estaria sempre (leia-se, estará sempre) fortemente condicionado pela desgraçada situação económica em que estamos mergulhados e pelos compromissos que assumimos ou assumiram em nosso nome.
Não nos iludamos, também, acerca das competências das troikas que nos enviam, como uma espécie de anjos vingadores dos erros e incompetências nacionais. A sua competência não é, afinal, maior (pelo menos, significativamente) que a dos políticos portugueses que nos meteram neste imbróglio.
Têm, contudo, algumas vantagens:
- Não necessitam de ser, periodicamente, submetidos a sufrágio eleitoral.
- Não se incomodam se as suas impopulares e draconianas soluções nos vão fazer ficar, ainda, mais de tanga do que já estamos.
- Não respondem a lobbys nacionais: partidários, corporativos ou outros.
Respondem a outros! Para os quais somos, apenas, um apêndice insignificante.
Para quem a pobreza é apenas um índice numérico de desenvolvimento.
E, a miséria, um efeito colateral de um desígnio global maior!

Folclore a metro

Realizou-se no passado domingo, desta feita no Cartaxo a, assim anunciada, VII Grande Festa do Folclore e Amizade*, organizada pelo programa “O Povo a Cantar”, da Rádio Íris.
Mais uma vez seis dezenas de grupos de diversas zonas do país passaram pelos palcos em nove ou dez horas ininterruptas de danças populares, supostamente folclóricas!
Mais uma vez foi dado um mau exemplo e prestado um mau serviço aos esforços que vêm sendo feitos de dignificação das representações tradicionais que, grosso modo, denominamos de folclóricas.
Um mau exemplo, dir-se-á, por um infindável conjunto de razões:
- Porque se trata de folclore a esmo, sem qualquer critério minimamente coerente de exigência de qualidade.
- Porque se trata de folclore a metro. Sem permitir o respeito que é devido a qualquer representação da tradição cultural portuguesa.
- Porque se trata de um espectáculo interminável, praticamente sem público a não ser os grupos que vão esperando para entrar em palco.
- Porque não existe a menor condição de permanência para alguém que, por razões ignotas, ali resolva ficar um par de horas. Nem cadeiras ou bancos, nem sequer (o que é bem mais grave) uma simples sombra que impeça o cérebro de torrar!
- Mas, principalmente, porque revela os grupos folclóricos como os pobres de espírito que não percebem que se não forem eles a exigir dignidade por aquilo que fazem, ninguém o faz por eles!
Porque apresenta, os mesmos, como sempre dispostos a actuar em quaisquer condições, mesmo que gratuitamente (como é o caso), mesmo que se tenham de deslocar centenas de quilómetros (como alguns destes casos), mesmo que tenham de pagar do seu bolso para participar.
Uns patuscos! Que os poderes públicos usam e abusam para compor cenários mais ou menos festivos, por um custo mixoruca, remido a cervejas e sandes de couratos!
O simples facto de se conseguir, tão facilmente, realizar uma iniciativa desta dimensão quantitativa é bem exemplo do baixo nível de auto-estima que grassa neste sector.
O problema é que sem auto-estima não há exigência! E sem exigência não há qualidade!
Que é aliás, grosso modo, aquilo que ali se vê!
Uns por não saber o que é isso! Outros por não querer saber! Outros, ainda, por não saber sequer que não sabem!

*Espero, pelo menos, que tenha valido pela amizade!