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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Os Messias



Surgiu o messianismo mediterrâneo num contexto histórico-social muito peculiar. Surgiu e desenvolveu-se entre um povo, cujas singularidades começam pela sua teologia e, assinale-se, não apenas pelo seu carácter monoteísta, à altura particularmente incomum.

Circunstâncias colaterais hão-de tornar este desígnio hebraico um dos elementos mitológicos mais marcantes da bacia mediterrrânea, e daí difundir-se por todo o mundo, dito contemporâneo revestindo, como elemento hierofânico determinante, o messiânico e redentor  mito cristão.

Mas, até chegar aí, o “mito do salvador” há-de evoluir na teologia hebraica, atravessando épocas diversificadas de ocaso e apogeu, de esperança e frustração, que diversificadamente o hão-de marcar e configurar.

E é, precisamente, nos últimos séculos do último milénio, agora dito “Antes de Cristo”, que tal conceito se irá incrementar, e a figura do Messias humanizar e politizar.

Na verdade o aproximar da nossa Era irá encontrar os Hebreus em níveis de poder e autonomia cada vez mais baixos sendo sucessivamente vencidos e escravizados por poderosos vizinhos, vindos tanto dos lados da Caldeia (como os Assírios e os Babilónios), do Egipto ou, ainda, hipoteticamente, da Anatólia, como os Filisteus! Persas, Selêucidas e Romanos mais, recentemente hão-de tornar, tal situação, quase estrutural.

Longe vão já os tempos áureos de Salomão em que, aproveitando do melhor modo uma conjuntura (diríamos hoje geo-estratégica) especialmente favorável, Israel se tinha erguido ao nível de grande potência regional. Longe vai o tempo mítico do Grande Rei e das suas “minas africanas”, da sua frota que transportava o ouro de ignotos territórios. O tempo da Rainha do Sabá e do grandioso templo em honra do Yavé; o fabuloso “Templo de Salomão”! Longe vão os tempos épicos de David; herdeiro dos grandes heróis de antigamente. Como Sansão, como Josué!

Agora Yavé o impronunciável, fero e austero na sua inflexibilidade, tinha-os abandonado. O terrível e temeroso deus único levantara os olhos do miserável e humilhado povo que durante tanto tempo se tinha considerado a si próprio “o povo escolhido!

E no entanto tinha sido para si que Deus tinha criado o mundo! Para si, o ”povo eleito” por Deus, para dominar sobre todas as outras nações! Como perceber tal incongruência!?

Agora os povos idólatras dominam a seu belo prazer. Deuses estranhos reinam novamente na antiga Canaã. Afundado na apostasia o povo hebreu agoniza sob jugos estrangeiros.

Então, numa derradeira atitude de desespero os seus olhos erguem-se para Deus. Porquê, Ele os tinha abandonado?!

Tratar-se-ia de mais um castigo purificador? Um novo cativeiro da Babilónia? Um novo exílio de quarenta anos no deserto? Quais os erros que tinham cometido?

Seria por muitos adorarem, agora, deuses estrangeiros? Seria por se preocuparem mais com a riqueza e a letra da lei que com a pureza e a virtude? E que fazer para ultrapassar tal situação?

A resposta só podia ser uma: tornar mais puros os puros e rezar com mais fervor ao Senhor que não se esquecesse do seu povo martirizado. E, mais tarde ou mais cedo, Deus haveria de os ouvir, como, aliás, sempre os ouvira!

Enviaria então um novo Josué, como aquele que vencera os Cananeus e que obtivera para os Hebreus o domínio da “terra prometida”.

Ou então um profeta, condutor do povo tresmalhado e mensageiro da palavra e dos desígnios de Deus, como em tempos passados. Um novo Elias ou Jeremias! Ou ainda, quem sabe, talvez um novo Juiz como Sansão!

Por outro lado poderia enviar um líder como aquele outro Josué, filho de Josedec, que em 538 A.C. conduzira o povo de regresso do cativeiro da Babilónia e que por tal mereceu o epíteto de Messias. Este Josué, neto de Saraias, sumo sacerdote à data da conquista de Jerusalém por Nabucodonossor, ir-se-á tornar ele próprio, depois da restauração, sumo sacerdote, e juntamente com Zerobadel (que deterá o poder temporal), serão considerados messias: "…os dois ungidos que assistem diante do dominador de toda a terra" (Crónicas IV, 14)

Portanto, fosse como fosse, o Messias, o escolhido do Senhor, mão e instrumento da vingança divina, haveria de surgir! E, quando surgisse, tremessem os inimigos e os idólatras!

E o crente, fanatizado pela frustração e revolta, consciente da sua impotência material, erguia as suas preces num estertor dramático de apelo e adoração. Fosse ele Fariseu, Saduceu, Zelota ou Essênio, fosse apenas um simples pastor da Galileia, pescador de Tiberíades ou agricultor de um dos escassos vales férteis da Judeia.

É assim, num contexto particularmente favorável que o messianismo ganha particular intensidade, conforme se vai aproximando a, agora denominada, Era Cristã!

- E é assim que, Judas Macabeu, “o Martelo do Senhor”, também ele aclamado como Messias, irá em 166 A.C., erguer o cutelo sagrado e conduzir o povo numa vitoriosa luta de libertação contra uma enfraquecida liderança Selêucida.

Daí em diante (durante cerca de trezentos anos), irão proliferar os lideres messiânicos, protagonistas de sucessivas tentativas para arrancar o ”povo de deus” primeiro do domínio pervertido dos Asmoneus, depois das garras dilacerantes da águia romana.

- Em 88 A.C. Alexandre Janeus (o Trácio), o mais corrupto dos Asmoneus, irá fomentar a introdução dos cultos helénicos e provocar, por isso, sucessivas revoltas populares. As repressões daí resultantes ocasionarão entre outras coisas a morte, provavelmente por crucificação, do enigmático “Mestre da Justiça”, líder Essénio cujo perfil prefigura singularmente o de Jesus.

- Em 6 D.C. por ocasião de um recenseamento romano eclode uma revolta liderada por um tal Judas de Gamala, dito "o Galileu". Uma terrível repressão irá ocorrer na sua sequência; cerca de dois milhares dos seus partidários são crucificados.

- Em 33 D.C. surge o processo de Jesus, depois chamado "o Cristo", que irá ser crucificado em Jerusalém nas vésperas da Páscoa sob as ordens de Pôncio Pilatos. Os seus seguidores ainda hoje o consideram o Messias.

Mas, ainda na primeira metade do século I, outros personagens claramente não insurreccionais e até, em rigor, não judaicos, adquirirão pelos seus prodígios um prestígio místico que os leva a ser considerados Messias pelos seus seguidores. Dosíteo, Apolónio de Tianos e Simão "o Mago", contam-se entre os mais célebres.

- Entre 44 e 46 D.C. eclode uma outra insurreição. Menos conhecida, foi liderada por um chefe que ficou conhecido como Tendas "o Egípcio".

- Em 66 D.C. dá-se a Grande Revolta Zelota. Sabe-se que os Essênios participaram igualmente desta insurreição. A guarnição romana de Jerusalém irá ser massacrada. A reacção imperial verificar-se-á através do general Tito, filho do Imperador Vespasiano e que irá, aliás, mais tarde suceder ao pai. Em 68 D.C. o Mosteiro Essênio de Qurâm é arrasado. Dois anos depois será a vez de Jerusalém ser destruída, a população passada à espada e o templo reduzido a cinzas. Os últimos resistentes refugiam-se em Massada que irá cair em 75 D.C. não sem que antes todos os ocupantes, homens, mulheres e crianças, se tenham suicidado.

 

- Finalmente, em 132, Simão Bar Kosebash levanta novamente a população contra os ocupantes romanos e proclama-se Messias. Tudo irá terminar, em 136, numa nova repressão e deportação da população judaica.

É a grande fase da Diáspora.

Com o fim da ilusão de autonomia política, espiritualizou-se e interiorizou-se a ideia de salvação. Os judeus foram-se aproximando das ideias gnósticas de auto-aperfeiçoamento e de comunhão com Deus.

O mito de Jesus vai impregnando as mentalidades messiânicas dos judeus (principalmente das comunidades da Diáspora), substituindo o chefe político-religioso pela imagem de um Messias sofredor, de que, aliás, não existe qualquer modelo na história de Israel.

À semelhança de outras divindades suas contemporâneas (como Mitra, Adónis, Ossíris, ou Átis), Cristo ir-se-á, gradualmente, tornar um deus redentor. Bode expiatório dos pecados do mundo, modelo mítico a seguir no percurso soteriológico da salvação!

Deuses e demónios



A polémica acerca do eventual exorcismo realizado recentemente pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, reacende uma polémica tão velha como a igreja, mas abre, igualmente, um processo a longo prazo que, ou muito me engano, há-de elevar o referido pontífice a santo canonizado pouco depois da sua morte, sucedendo, assim, ao precocemente canonizado João Paulo II: o “papa sofredor”.

Na verdade a imagem do Diabo (ou dos diabos) saltitando de pessoa em pessoa em sucessivos processos de possessão demoníaca mais ou menos estapafúrdios, constitui uma reminiscência medieval, com que a Igreja lida, hoje, com algum desconforto.

Afinal, não pode negar a existência (nem sequer a importância) do Demónio. Tanto por razões ideológicas (bíblicas, naturalmente) e doutrinárias, como por razões operativas: a desvalorização da ação do “príncipe do mal” implica, necessariamente, a desvalorização de Deus.

Deste modo, novas conceções ideológicas, no interior da Igreja, inclinam-se cada vez mais para encarar entidades ou lugares como o Diabo ou o Inferno, de um ponto de vista mais simbólico: não corporalizável na matriz configurativa popular.

E, embora não o esqueçamos, a Igreja detenha a competência divina no combate ao Demo e, as práticas exorcistas (digamos, canonicamente legais) requeiram a aprovação clerical e a respetiva delegação de competências, este é um assunto que não sendo tabu se pretende, preferencialmente, secundarizar e relativizar.

Assunto incómodo, hoje como ontem!

Ou se quisermos, hoje, mais ainda que ontem!

E isto leva-nos ao segundo ponto atrás referido: porquê esta questão relacionada com o novel pontífice? Porque não, com os seus antecessores?

Quando, afinal, reações destas são perfeitamente normais; tendo em conta o clímax momentâneo e os personagens em presença?

Provavelmente, porque este é um Papa oriundo de uma Igreja latino-americana.

O primeiro não europeu há mil e trezentos anos. Aliás, se considerarmos que os restantes foram oriundos da bacia mediterrânea à altura sacro-culturalmente plasmada do cimento imperial ou pós-imperial, podemos dizer, o primeiro de sempre!

Ao que parece, assumidamente (e não apenas como imagem de marca) simples e humilde. Mais direto, menos rebuscado e menos formal. Mais próximo de uma igreja popular que, com estas questões maniqueístas, convive mais intimamente.

Um “papa do povo”, afinal.

Foco de um pontificado a seguir com atenção.

 

Crónica de uma canonização anunciada


 
 Corria o ano de 2005 e João Paulo II, após uma dramática luta com doença degenerativa, falecia a 2 de Abril.

Em artigo na altura publicado no Correio do Ribatejo dizia, a propósito, que a sua morte prefigurava um processo previsível, rápido e inevitável, de canonização.

Mais concretamente, dizia que a sua imagem de papa sofredor o faria ascender rapidamente “ao panteão cristão. Bem mais cedo, provavelmente, que os malogrados pastorinhos de Fátima”, prisioneiros da sua insuficiência intercessora e encalhados, perpetuamente, na fase de beatos.

Quatros anos mais tarde (em 2009) no livro “Vidente e Confidentes: um Estudo sobre as Aparições de Fátima”, a propósito do assim chamado “Terceiro Segredo”, seu esperado carácter catastrófico e sua dececionante revelação, tive oportunidade de tecer as seguintes considerações:

O esperado apocalíptismo não se concretizou, transmutando-se num frustrado episódio de pontificídio. João Paulo II, o papa mártir, em processo anunciado de canonização, já na altura (Maio de 2000) previsível, não hesitou em revelar o dito, relacionando-o com o atentado que sofrera em 1981 na Praça de São Pedro”.

Sabe-se, agora, que o referido pontífice (beatificado em 2011) vai ser canonizado no próximo mês de Outubro! Oito anos, apenas, após a sua morte!

Comprova-se, assim, que tal personagem estava, desde muito cedo, destinado à santificação.

Ora, como não sou suposto possuir dons proféticos ou de premonição, a razão tinha de estar, já, a vista! Para quem a soubesse ver, bem entendido.

Afinal, foi este o Papa que abriu a Igreja ao mundo!

Não em termos ideológicos! Mas social e politicamente!

Um Papa que, oriundo do Leste, carregava com ele o fascínio do perseguido!

Um Papa que transformou o resignado sofrimento, tão caro à Igreja, numa imagem de marca!

Um mártir moderno! Numa altura em que a Igreja tem de lutar contra competidores cada vez mais ativos e dinâmicos.

Em que acusações de vício e corrupção ameaçam, fortemente, a sua reputação.

Enfim! O homem certo, com o certo e estoico padecimento, na altura certa.

 

O circo e a cidade


 
Aproximam-se mais umas eleições autárquicas. 

Pesem embora situações de falência técnica em grande parte dos municípios, candidatos é que não faltam.

Em Santarém, desde algum tempo, caras mais ou menos “larocas” começaram a surgir por praças e avenidas.

Passado o terramoto Moita Flores, abrem-se, de novo, perspectivas que estavam suspensas.

Gradualmente o circo regressa à cidade!

O PS abre as hostilidades, apresentando como candidata uma recente ex-governante; numa área social mediática e pouco desgastante.

O PSD, a CDU e o BE, apresentam candidatos de uma nova geração, com maior ou menor experiência política. Uma Candidatura Independente constitui sintoma de alguma vitalidade democrática.

Como sempre, a vitória vai dirimir-se entre socialistas e sociais-democratas. Os restantes lutam pela eleição de um vereador; encontrando-se a CDU, como também é usual, mais perto desse desiderato.

O PS parte com alguma vantagem potencial: candidata mediática, experiência autárquica e governativa, num tempo de vacas magras (hoje de rosto laranja) e num concelho que (não o esqueçamos) excetuado o efeito Moita Flores, deu sempre a vitória aos socialistas.

Algum défice de empatia, está a ser gerido por uma campanha precoce e de proximidade: a proximidade possível nesta altura do campeonato.

Mas o PSD não deixa de ter hipóteses, já que o seu candidato é, neste momento (após o episódio mais ou menos rocambolesco do abandono de Moita) o Presidente do Município.

Para isso, “basta-lhe” tirar partido politico-eleitoral da situação. De um exercício de poder que, mesmo em tempo de crise, pode perfeitamente ser populista.

E estabelecer, ou reforçar, as tais condições de empáticos afectos que, há décadas, elegem sistematicamente e perpetuam, entre nós, inúmeros presidentes de câmaras. Alguns, interruptamente, desde os tempos, já remotos, do 25 de Abril.

É um grande “basta-lhe”. Mas não é impossível!

Afinal, face a um eleitorado idólatra e pouco informado que vota por devoção e não por opção (leia-se independentemente das prestações políticas e de gestão, de competências e honestidades) um presidente que perde as eleições dificilmente merece ser presidente.

Pelo menos neste país de analfabetos funcionais!

Em que os “reality shows” são os acontecimentos públicos do ano e os governantes tiram cursos sem sequer ter posto os pés nas aulas*.

Em ridor absoluto, sem sequer serem alunos.

 

*Pelo menos, de forma a que os seus potenciais colegas e professores tenham, alguma vez, dado por isso!