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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Paradoxos

Aconteceram eleições. Para o bem e para o mal nos próximos quatro anos temos de aturar os autarcas agora eleitos.

Quer sejam um pouco piores do que desejaríamos, quer sejam um pouco melhor que temíamos.

No que respeita a Santarém bem que merecemos algumas melhorias.

E se a situação económica está na última das misérias, pelo menos que os novos eleitos tenham a perceção de que nem tudo se consegue (só) com dinheiro.

Às vezes bastam o bom senso, a imaginação, o espírito de iniciativa: a competência afinal.

Basta olhar para o trânsito no Centro Histórico. Se quisermos um exemplo paradigmático dos resultados da incompetência, este serve às mil maravilhas.

-Afinal, se o centro histórico de Santarém é tudo menos central.

-Se o trânsito viário é, aí, inevitavelmente, difícil e pouco escorreito.

-Se o recente parqueamento tornou mais grave a já grave desertificação em curso.

-Se a inexistência de transporte públicos adequados foi agravando, ainda mais, a deplorável situação.

Então… pelo menos que a circulação possível fosse aí facilitada. E que os trabalhos frente à Igreja da Graça não imitassem os seus congéneres de famosa Santa Engrácia.

Mas há coisa mais graves. Ó se há!

Tão macarrónicas que só se podem explicar por reflexões superiores, muito acima do alcançável pelo comum dos mortais.

Mesmo assim arriscar-me-ia a pedir que me explicassem uma coisa: de preferência devagar e pausadamente, para ver se percebo:

Porque diabo não se há-de poder transitar através do Largo do Seminário?

Obrigando os condutores a sair da cidade por becos e travessas para depois acabarem por vir parar ao mesmo sítio?!

Estará, o mesmo, tão sistematicamente repleto de pessoas, de iniciativas culturais, de dinâmicas sociais e recreativas e de diversificadas atividades comerciais, que não possa circular, pelo seu limite inferior, um simples sentido de trânsito?

Quem foi a alma esclarecida que de tal se lembrou?

E já agora, que estamos com a mão na massa, expliquem-me também o seguinte: se é suposto dinamizar-se o Centro Histórico e se não se pode dinamizar o mesmo sem atrair as pessoas, como diabo é que estão a pensar levar as pessoas para aí?

-Se, como parece evidente, não se deseja que os carros aí transitem.

-Se o centro histórico é particularmente afastado do resto da cidade, logo não existem estacionamentos de apoio nas zonas limítrofes e portanto as pessoas não se podem deslocar facilmente a pé.

-Se não existem transportes públicos adequados, frequentes e baratos (nem sequer inadequados, esporádicos e caros) e portanto, também dessa forma, as ditas não poderão, aí, viajar.

Então, qual é a estratégia preconizada?

Se é que há alguma?

Gostava que alguém me explicasse isto!

Preferencialmente, soletrando a resposta, sílaba a sílaba.

Talvez assim consiga perceber!

Cidade morta


Resolvi, num dia pré-autárquico destes, dar uma volta pelo centro histórico de Santarém. A triste desolação, onde se sucedem ruínas, degradação e portas fechadas enforma, cada vez mais, tal espaço.

Como era previsível (e tive oportunidade de atempadamente prevenir), o parqueamento do mesmo veio a constituir a “machadada final” em hipóteses, ao tempo, já de si escassas, de impedir a completa decadência.

 
Mas, aquilo que mais prendeu a minha atenção foi, na verdade o, assim chamado, Jardim das Portas do Sol.

Incluído na renovação paisagística dos jardins scalabitanos (desenvolvida no consulado de Moita Flores) esta parece ser, afinal, a situação menos conseguida.
 

Para lá das sempre discutíveis opções paisagísticas, a escolha de materiais perecíveis em aplicações facilmente degradáveis, teria sempre de criar um potencial de degeneração cujos encargos para o município, seriam sempre significativos.

Aliás, a sua degradação é já visível, e nalguns casos começa até a constituir um perigo para os utentes, principalmente mais novos.

Também a inserção dos elementos simbólicos do antigo jardim não foi, na verdade, muito feliz.

Mas, mais importante ainda, o espaço não corresponde àquilo que se espera, afinal, de um jardim (mais, ainda, se sediado naquele sitio): espaço agradável e aprazível que atraia as pessoas e as faça desejar estar e permanecer.

Que não é, manifestamente, o caso daquele.

 O que é pena; porque este Jardim foi, durante largas décadas, o “ex-libris” desta cidade.

E com a morte anunciada do mesmo (já visível, hoje, na compreensível escassez da sua utilização) a cidade histórica de Santarém é cada vez mais numa cidade fantasma.

Cidade dispersa: sem centro vivo ou periferias dinâmicas.

Fruto de sucessivos erros de planeamento e visões estratégicas assentes em interesses pessoais e circunstanciais.

 PS – Aliás a política paisagística nesta cidade e concelho, parece ter sido, nos últimos anos, construir para “alguém” ver e não para a população viver!
É igualmente o caso do Jardim do Vale de Santarém. Mais de cem mil euros gastos há pouco mais de oito anos (sem ter em conta condições de sustentação), transformados hoje num baldio árido e seco.

Os Empatas


Reflexões de travesseira de Passos Coelho na noite da decisão do Tribunal Constitucional

 
Arre porra, que é demais!

(esclareça-se que estas são reflexões interiores, daí os eventuais excessos pictóricos de linguagem)

Submete-se uma pessoa estoicamente a um processo eleitoral, serve o povo em condições austeras e draconianas, é alvo de injustas incompreensões e inconstantes marés presidenciais e está, ainda, sujeito a fiscalizações judiciais e parlamentares e, ignomínia das ignomínias, bloqueios constitucionais.

Não se pode ser padre nesta freguesia!

O que é que terá dado aos acéfalos dos juízes, para se lembrarem de respeitar a constituição?!

Logo numa altura destas. Que falta de senso!

E depois querem que o Governo os livre do buraco onde “os outros” os meteram.

Que raio, custava muito um pouco de mobilidade… perdão, de flexibilidade!

Não bastava já a oposição?

A externa e… a interna?

(Nesta altura, o crescente desagrado vai-se toldando-se por uma teimosa sonolência e o cérebro do P. M. dá mostra de alguma confusão o que, face às circunstâncias, é perfeitamente compreensível)

E porque diabo é que tem de haver Constituição?

Para defender as pessoas, é?

De quem? Não se importam de me dizer?

E, afinal, porque é que as pessoas têm de se defendidas?

Não seria melhor (como clara e atempadamente defendi) terem emigrado?

Irra, que são broncos!

(A indignação, domina agora, definitivamente, tão esclarecidas meditações. O efeito do alvarinho bebido (para esquecer) no Tavares Rico, contribui para uma amarga euforia pouco controlável)

E porque raio precisamos de tantos juízes?

E professores? E funcionários públicos?

E pensionistas? E idosos?

E trabalhadores, já agora? Sim! E trabalhadores?

Não se pode, mesmo, exterminá-los?

Aliás, cada vez estou mais convencido que o maior problema de Portugal é estar infestado de portugueses!

Que praga!

 

O edifício misógino


 
Depois de ter reconhecido um “lobby gay” no Vaticano, o Papa Francisco surpreendeu tudo e todos ao assumir, agora, como natural, a inclinação sexual dos padres gays e dessa maneira (e por maioria de razões) dos gays não padres.

Um enorme passo em frente na milenar hipocrisia canónica. Com o qual, contudo, muitos cristãos discordam.

Até, porque está aqui implícita, a tolerante compreensão para com aqueles que tendo tendências homossexuais as exercem ou manifestam.

Afinal, muito deles vivem em universos predominantemente masculinos; às vezes quase exclusivamente.

E também porque, tal tolerância, levanta algumas interrogações no seio da Igreja. Interrogações merecedoras de reflexão.

Tolerância que traz à baila as questão da castidade e do celibato.

Ou será que se compreende a homossexualidade e espera-se que os homossexuais, em ambientes propícios, manifestem absoluta e completa contenção?

Ou são só os heterossexuais que têm de ser castos?!

Ou admitem-se as relações homossexuais masculinas e não as heterossexuais?

Ou é tudo apenas uma questão de celibato?

Admitindo-se as reações sexuais, desde que os sacerdotes não se casem?

Dito de outra maneira, o problema continua a ser a abominável mulher que o cristianismo recebeu de uma pastoril herança semita?

Fonte de pecado e tentação!

Criada para assistir e servir o homem.

De quem, ainda em 1930, Pio XI dizia: “o casamento (…) implica o primado do marido sobre as mulheres e os filhos e a submissão solícita da mulher, assim como a sua obediência espontânea6”.

Fazendo, assim, o estigma transitar do “abominável pecado da carne” e concentrar-se, ainda mais, na misógina subvalorização da mulher.

Que persiste há dois milénios!

Suportada hoje, afinal, pela inércia da tradição e milenar conservadorismo.

E, se quisermos, por bizarros interesses corporativos de género.

 

Não praticantes


 

O assim denominado Papa Francisco tem conseguido, em poucos meses, abalar o edifício da sumptuosidade formal em que assenta a estrutura conservadora de valores e se processam as conceções vivenciais do catolicismo romano.

Assumir que lhe não compete criticar o homossexualismo sacerdotal, constitui atitude, no mínimo, revolucionária.

Mas que tende a acarretar, como já vem acarretando, não só resistências várias no seio da Igreja mas, ainda, inconvenientes implicações doutrinárias.

Ser tolerante para com aqueles sacerdotes cujas inclinações sexuais são minoritárias e estigmatizadas é atitude corajosa e dignificante; apesar de nestes tempos modernos o “amai-vos e multiplicai-vos” ser mais problema que solução.

Ou será que se toleram homossexuais desde que “não praticantes?!”

Seja como for, aceitar tacitamente relações sexuais (envolvendo sacerdotes) de um mesmo sexo (masculino não o esqueçamos) e não os aceitar entre sexos diferentes (naturalmente bem mais frequentes) parece constituir uma distorcida e macarrónica tolerância.

Mas aceitar relações entre homem/sacerdote e mulher e continuar defender o celibato (que não a virgindade) é, admitamo-lo, estapafúrdio!

A não ser, mais uma vez, que se defendam os “celibatários não praticantes!”

Atá porque o estigma cai agora (ainda mais) não sobre o ato sexual, mas sobre o casamento!

Sobre a união (mesmo que dita sagrada) entre homem e mulher!

Estigmatizando, ainda mais, a mulher!

Numa misoginia completamente despropositada!

É evidente que estamos já longe dos primeiros séculos do cristianismo em que, os assim chamados “padres da Igreja” (Jerónimo, Cipriano, Gregório de Nisse, Gregório Magno, Justino Mártir, Agostinho o próprio Paulo de Tarso) abominarão a mulher e a maternidade

Em que Jerónimo chegará a dizer que a maternidade dá à mulher um “aspeto repugnante”.

Em que Gregório de Nisse pretende divinizar as virgens e proclama: “felizes as estéreis”.

Em que Gregório Magno defenderá a negação da comunhão às mulheres parturientes.

Em que Cipriano chega a aconselhar às mulheres que se “unam entre si”!

Em que Orígenes se castrará a si próprio!

Estamos já longe. Será?

A não ser que, afinal, passado todo este tempo, defendamos ainda mulheres e mães, também elas “não praticantes!”