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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A América de Trump

  Inquietações ao correr da pena 
 

A crise das assim chamadas democracias ocidentais, com a nova ordem económica e o surgimento de novas causas e valores como a ecologia, a multiculturalidade, as questões de género e de transgénero que os partidos tradicionais não representam mas cujas adesões ou rejeições são susceptíveis de capitalizar apoios por parte de personagens especialmente populistas, constitui um dos aspetos que explicam de alguma forma o, à primeira vista inesperado, resultado presidencial no E U.
Constituindo bandeiras de muitos, facilmente são usados como ódio de estimação de muitos outros: como um convite à insegurança, como um desrespeito pelos valores tradicionais, como obstáculo ao desenvolvimento económico, como fomento de indecências e, em última instância, como feira de aberrações.
E, afinal, sejam qual forem as ideologias que os partidos veiculem, as mesmas são, hoje, pouco mais que balizas enquadradoras de muito largo espectro.
São assim, cada vez mais, as personagens que ganham as eleições.
Como aliás se tem verificado recentemente na Europa e se verificou agora (de forma aberrante), na direita americana.
Provocando-se estados emocionais intensos e polarizadores, mesmo que apresentando programas bizarros e totais inexperiências.
Mas, pelo menos, diferentes do monocórdio discurso de quem nada tem, de novo, a dizer.
A não ser a repetida alternativa de nenhures.
Ora, encontram-se hoje, os EUA, ameaçados no seu estatuto de potência hegemónica mundial.
Se quisermos, cavalgando um ciclo de decadência económica e politica cujas consequências, a médio prazo, facilmente se advinham.
Não só por razões próprias mas pela emergência de novas economias (como a China) cujas condições de afirmação global são, afinal, bem mais eficazes.
Com cinco vezes a população dos Estados Unidos, mão-de-obra abundante e barata, não reivindicativa, sociedade estável, motivação empresarial e regulação económico-administrativa forte e inquestionada, esta usufrui de uma conjugação das vantagens da motivação ideológica e centralidade musculada marxista com as vantagens de um capitalismo despudorado, consumista e produtivo.
Neste momento é já a maior economia do planeta. A reivindicação de papéis correspondentes,  políticos e militares, suceder-se-á.
Afinal, como todos os impérios (atuais ou não) também este quer ser mais que uma potência regional. Que até aqui se tem limitado a manter um visível controle na sua área (dir-se-á natural) de influência. De que a Formosa e o Tibete são exemplos paradigmáticos.
Para os americanos a maneira mais fácil de explicar toda esta situação tende a ser encontrada em insuficiências internas. A radicalização de princípios e ações passa a ser, quase sempre, vista como opção justificável E justificada.
As culpas são, muitas vezes, atribuídas àquela parte da população que por particularidades étnicas ou mais tardia integração é vista como minando a anteriormente existente (ou, supostamente existente) homogeneidade nacional.
Com implicações claras; políticas e económicas.
Da primeira, emerge uma certa maneira de ver (não assumida, totalmente) que culpabiliza a multiculturalidade existente por qualquer coisa como a degeneração da raça; dos valores e capacidades nacionais.
Minorias como os muçulmanos são, também, vistas como potenciais de insegurança e inquietação; trazida agora para a vizinhança dos cidadãos.
Dirigentes vistos como eleitos por essas e outras minorias (ou fazendo, inclusivamente, parte das mesmas) são encarados como responsáveis maiores por uma inaceitável fraqueza de liderança interna com implicações externas.
Afinal, a ação moderadora de Obama, a sua maior flexibilidade política e militar e a melhoria de relações com inimigos ancestrais como Cuba, indispôs com certeza muita gente, principalmente da área conservadora.
Também do ponto de vista económico são naturalmente as minorias e a fracas lideranças que as toleram que, são encaradas, como criando condições para a situação existente.
Neste sentido, para lá das estapafúrdias posições face ao aquecimento global (visto como um obstáculo à livre industrialização), as violações da fronteira sul por contrabando de bens e pessoas, surge como algo que ameaça não só à economia, como impregna, cada vez mais, de latinidade corruptora, quem se reivindica (de alguma forma) de uma purista origem anglo-saxónica; contudo, convenhamos, historicamente sempre muito mestiçada.
Daí o apoio eleitoral da Ku Klux Klan.
Daí a pretensão de construir um muro para isolar os americanos do vírus corruptor mexicano. À semelhança do “muro de Berlim” de triste memória e do atual “muro de Israel”, sobre o qual pende uma cortina de silêncio.
Afinal, a arte de encontrar culpados alheios para culpas próprias ou não, constitui uma das mais úteis capacidades políticas. 
Até onde irão os devaneios xenófobos e discriminatórios de Trump?
De que forma tal virá a influenciar os diversos conflitos em que o país está envolvido?
De que maneira a questão segurança vai obcecar a sua ação?
Será que iremos assistir a uma nova “caça às bruxas”?
Na verdade, ensina-nos a história,  que poucas coisas são piores que um dirigente bronco e autoritário à frente de uma grande potência!
Afinal, o mesmo congrega valências populistas, nacionalistas e, pouco disfarçadamente, racistas.
O que é que isto nos faz lembrar?