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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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sábado, 11 de junho de 2016

Sapiência e pensamento



                                                                                                                         
A importância do refletir sobre o pensar (numa sociedade em que pensar o pensar é, frequentemente, confundido com pensar que pensamos) surge, nos nossos dias, como inquestionável.
Num tempo em que a informação se transmite em intensos e interruptos fluxos, através dos mais diversos canais, dotando os indivíduos dos dados necessários e suficientes a um sustentável entendimento do mundo, poder-se-ia julgar que a capacidade ideal de refletir sobre as mais diversas realidades existenciais estava, agora, bem mais próxima.
Contudo, não é isso (necessariamente) que acontece.
A secular dinâmica de poder que assenta no controle das ideias e emoções das massas populacionais continua, nos nossos dias, com tanta eficácia como até aqui.
Aliás, o exercício do poder arrastou sempre, como funções indispensáveis, mecanismos de controlo da vontade das populações.
O alargamento das fontes e fluxos informativos e a criação de uma opinião pública mais ou menos autónoma, foram sempre acompanhados de um correspondente reforço das técnicas de condicionamento de ideias e pensamentos; sublimando-se estratégias, refinando-se discursos e atitudes populistas, desenvolvendo-se comportamentos demagógicos cada vez mais subtis e criativos.
O ditador de antanho aprendeu com o tempo a movimentar-se em complexos cenários de interesses públicos muitas vezes contraditórios, a tirar partido de discrepâncias e desarmonias sociais e a assumir uma imagem de marca: artificial, mas sociologicamente sustentada.
De uma maneira geral, a atual maior dimensão e diversidade noticiosa, tem sido acompanhada de novas e mais sofisticadas estratégias de controlo psicossocial, com origem  nas respetivas multinacionais de informação e suas perversas teias de interesses nacionais.
Estratégias em que, ao silêncio (quantas vezes atroador) dos temas incómodos, se alia uma, mais ou menos subtil, instrumentalização dos temas convenientes.
Instrumentalização que se faz de explícitas ou implícitas manipulações (às vezes, quase, subliminares) que começam logo pela estrutura noticiosa (por mais simples que a mesma possa parecer): quem fala, como fala, de que parte, em que ordem sequencial, que imagens se utilizam, títulos e paragonas; síntese final ou inicial, etc.,…
E, continua, com a intervenção direta ou não, formal ou informal (em texto, voz ou imagem) do respetivo jornalista (locutor, pivot ou repórter) cuja análise de conteúdo (mesmo que superficial) revela clara parcialidade, expressa através de títulos tendenciosos, calculados enfâses, estratégicos compassos de espera, repetições recorrentes, exclamações assertivas e, até, comentários a propósito.
E como os jornalistas são hoje figuras mediáticas, também a sua opinião exerce, naturalmente, forte influência.
Tudo isto, muitas vezes, procurando obter determinadas reações emocionais (sejam de indignação, sejam de incondicional adesão) sociologicamente criadas e direcionadas.
São mecanismos contra os quais estamos praticamente indefesos.
Até porque, em grande parte, nem sequer nos apercebemos de tal.
Adquirem, assim, particular importância, iniciativas como aquela que levou recentemente à criação em Santarém da AIESMP: Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (vulgo Associação sobre o Pensar) cujo objetivo é, precisamente, refletir sobre a forma de construção do pensamento a partir das diversas experiências de vida: sociais, culturais, políticas, históricas e afins.
Sobre a importância das práticas na criação das teorias que nos enformam e que, muitas vezes, vemos como princípios intemporais: quase sagrados.
Afinal, conhecer melhor como se forma o nosso pensamento do qual emergem ideias e opiniões é dotarmo-nos de melhores condições que nos permitam afirmar num mundo global: tendencialmente consubstanciador de perspetivas unívocas. Ao serviço de interesses que nem sempre são os nossos.
Que nos permita, afinal, pensar melhor.
E, principalmente, pensar pela nossa cabeça.
E não por qualquer uma outra. Por mais brilhante que seja.