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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Entrevista concedida à EGO Edições, a propósito da publicação, próxima, do estudo "A 13 de Maio na Cova da Iria: Uma visão antropológica das Aparições de Fátima"



1 - Para quem não o conhece, quem é Aurélio Lopes?
As auto caraterizações são quase sempre pouco rigorosas e pouco sinceras, já agora. Portanto (e para falar apenas da valência cultural) poderei dizer que, mais que alguém que é um observador da realidade por disposição, sou professor por opção e, essencialmente, investigador por vocação.

2 – Os fenómenos religiosos, tais como as Aparições de Fátima, despertam a sua curiosidade? O que vê nestes fenómenos que o fascina?
Todas as áreas do conhecimento me fascinam.
Especialmente aquelas em que tentamos perceber o universo que nos envolve e da qual somos parte ínfima; embora não irrelevante.
E dentro dessas, aquelas que mostram que os Homens, desde sempre, lidaram mal com respostas temporárias e parciais. E buscam na transcendentalidade (doutrinária ou não) respostas acabadas e absolutas.

3 – Com a publicação do livro “A 13 de Maio na Cova da Iria”, revela detalhes desconhecidos do grande público sobre as Aparições de Fátima. Qual o impacto que antevê que essas revelações possam ter na sociedade?
Os detalhes (sejam eles quais forem) resultam da análise e interpretação de documentos não herméticos ou ignotos e, portanto, à disposição de quem os procure. As conclusões (sempre as possíveis) resultam, do enquadramento dos mesmos em conhecimentos estruturais de base e da aplicação de conhecidos processos de metodologia científica.
Não se trata, portanto, de nenhuma revelação ou inspiração divinas.
Mais, com certeza, de uma certa dedicação e transpiração profanas.

4 – Pensa que poderá haver alguma alteração da forma como o Santuário de Fátima e as Aparições são percecionadas pelo público católico com a publicação deste livro? 
Não acho que isso venha a ser muito visível. Para alguns servirá, com certeza, como repensar de verdades que se julgavam pacíficas. Para outros, como reforço (positivo ou negativo) de interpretações em aberto.
Contudo tal tenderá a acontecer enquanto processos individuais e íntimos.
Afinal, este estudo é mais uma contribuição no sentido de fornecer aos crentes e não crentes uma outra forma de entenderem os respetivos fenómenos.
Vivemos num mundo em que a nossa perceção se vai construindo a partir da súmula de dados e opiniões a que vamos tendo acesso.
Que este livro seja mais uma ferramenta para formarmos (ou reformarmos) as nossas convicções.

5 – A 13 de maio deste ano, o Papa visita o Santuário por ocasião do centenário das Aparições. Pensa que a Igreja poderá vir a canonizar os três pastorinhos sem a necessária realização de um milagre por sua intercessão? 
Acho que a canonização é inevitável (até para abrir caminho à necessária canonização de Lúcia, de forma a prestigiar a personagem que, afinal, esteve na origem do grande “altar do mundo” que Fátima, hoje, é.
E daí, também, a Igreja ter admitido canonizar, os ditos, mesmo na ausência do determinante milagre probatório. Tal como, há algum tempo, o admitiu o Cardeal português Saraiva Martins; responsável pela Congregação da Causa dos Santos.
Mas não foi preciso recorrer a tal.
Foi tornado público, muito recentemente, o despontar do tão ansiado e conveniente milagre (relacionado com a cura, por intermediação dos “pastorinhos”, de uma criança brasileira) confirmando-se, assim, o esperado acelerar dos processos.
Não conheço, naturalmente, o plano de atividades da Igreja. Mas, de forma conclusiva ou simplesmente de predisposição, esse será um assunto, aí, provavelmente anunciado.

6 – Tem planos para próximos títulos?
Manter-se-ão na área temática da cultualidade popular. Entre outras opções avulta o processo de investigação (já em curso) relacionado com o culto peculiar de São Gonçalo, numa investigação transatlântica: leia-se efetuado, simultaneamente, em Portugal e no Brasil; de forma convergente e numa óptica da perceção dos processos e condições de mudança.