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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dar e receber

Numa sociedade em que a economia constitui doutrina dominante, o comércio, ritual sagrado e, o lucro, uma espécie de nova divindade, o Natal corresponde, hoje, a uma oportunidade mais para elevar o consumo a níveis desmesurados.
Consumo que busca num enviesado entendimento da tradição as razões convenientes que justifiquem as desmesuradas trocas de presentes que sustentam, nos nossos dias, quase totalmente, a actividade natalícia.
São prendas e oferendas, iluminações de rua e marketings exacerbados, centrados na figura mais ou menos burlesca do Pai Natal. São montras, compras e decorações, embrulhos multicores, pinheiros artificiais ornamentados e rodeados, ainda e sempre, de presentes.
É o exagero de consumo próprio, dos períodos festivos tradicionais na verdade, mas elevado aqui a um frenesim raiando os limites do irracional!

Como estamos longe da comemoração secular do nascimento do Deus/Menino (do “Menino Jesus”, lembram-se?) que a Igreja passou a celebrar a partir do século IV, de forma a combater a crescente importância do nascimento de Mitra, o Deus solar de barrete frígio.
Dos presépios que, a partir do século XII, vêm permitir a recriação ritual do acto primevo do nascimento e, assim, em cada lugar, beneficiar-se propiciatoriamente das qualidades regeneradoras e purificadoras que aquela faculta.
Das fogueiras que, de fenómenos solares de consagração divinatória, irão evoluir para a funcionalidade mais prosaica, concerteza, mas igualmente eficaz de “aquecer o menino” e, através dele, o coração dos crentes.
Dos cantos natalícios, modelo ambivalente de “louvar o Senhor” e solicitar ao mesmo tempo de forma mais pragmática e muitas vezes irreverente, dádivas de alimentos consumidos depois em festivas refeições comunitárias.

Na verdade, na economia de mercado em que vivemos nenhuma área vivencial se encontra imune à omnipresente lógica mecanicista e mercantilista.
Lógica corruptora de valores rituais associados, durante milénios, à comemoração de sucessivos nascimentos de divindades solares: arquétipos, afinal, de todos os nascimentos.
Lógica em que, por exemplo, medimos cada vez mais a dimensão dos nossos sentimentos, pelo valor de mercado do presente ofertado.
Esquecendo, até, que a dimensão de uma dádiva não deve ser medida pelo seu valor material ou pelo seu custo económico.
Não deve ser medida pelo valor daquilo que damos!
Mas por aquilo com que ficamos, depois de dar!

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