Realizou-se no passado domingo, desta feita no Cartaxo a, assim anunciada, VII Grande Festa do Folclore e Amizade*, organizada pelo programa “O Povo a Cantar”, da Rádio Íris.
Mais uma vez seis dezenas de grupos de diversas zonas do país passaram pelos palcos em nove ou dez horas ininterruptas de danças populares, supostamente folclóricas!
Mais uma vez foi dado um mau exemplo e prestado um mau serviço aos esforços que vêm sendo feitos de dignificação das representações tradicionais que, grosso modo, denominamos de folclóricas.
Um mau exemplo, dir-se-á, por um infindável conjunto de razões:
- Porque se trata de folclore a esmo, sem qualquer critério minimamente coerente de exigência de qualidade.
- Porque se trata de folclore a metro. Sem permitir o respeito que é devido a qualquer representação da tradição cultural portuguesa.
- Porque se trata de um espectáculo interminável, praticamente sem público a não ser os grupos que vão esperando para entrar em palco.
- Porque não existe a menor condição de permanência para alguém que, por razões ignotas, ali resolva ficar um par de horas. Nem cadeiras ou bancos, nem sequer (o que é bem mais grave) uma simples sombra que impeça o cérebro de torrar!
- Mas, principalmente, porque revela os grupos folclóricos como os pobres de espírito que não percebem que se não forem eles a exigir dignidade por aquilo que fazem, ninguém o faz por eles!
Porque apresenta, os mesmos, como sempre dispostos a actuar em quaisquer condições, mesmo que gratuitamente (como é o caso), mesmo que se tenham de deslocar centenas de quilómetros (como alguns destes casos), mesmo que tenham de pagar do seu bolso para participar.
Uns patuscos! Que os poderes públicos usam e abusam para compor cenários mais ou menos festivos, por um custo mixoruca, remido a cervejas e sandes de couratos!
O simples facto de se conseguir, tão facilmente, realizar uma iniciativa desta dimensão quantitativa é bem exemplo do baixo nível de auto-estima que grassa neste sector.
O problema é que sem auto-estima não há exigência! E sem exigência não há qualidade!
Que é aliás, grosso modo, aquilo que ali se vê!
Uns por não saber o que é isso! Outros por não querer saber! Outros, ainda, por não saber sequer que não sabem!
*Espero, pelo menos, que tenha valido pela amizade!
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