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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Investigação antropológica de Aurélio Lopes sobre a Santa da Ladeira

A Santa da Ladeira conseguiu ao longo dos anos uma sempre crescente adesão de gente. Os crentes vinham de todo o lado, até do estrangeiro, em peregrinação até à Meia Via para as celebrações mensais.
A sua história toda a gente a conhece – o fenómeno é nacional - mas por cá, parece que ninguém que acreditava nela. Como pode isto ser?
As gentes de Riachos, tão orgulhosas dos produtos da sua terra, nunca enalteceram o facto de Maria da Conceição Mendes Horta ser natural de Riachos, onde nasceu, cresceu, começou a divulgar o seu milagre e também a ser censurada.
Esta é uma das questões que o olhar antropológico de Aurélio Lopes tenta esclarecer sobre o fenómeno que ficou conhecido entre os crentes por Santa da Ladeira do Pinheiro. Outros trabalhos foram feitos anteriormente, mas o do investigador ribatejano focou o contexto social, a evolução religiosa ambivalente que o culto teve, o seu crescimento interno e a situação actual, já depois de institucionalizado “ortodoxo”.
O antropólogo ouviu dezenas de testemunhos na Meia Via, Riachos, Entroncamento e também de pessoas que eram devotas.
Independentemente das razões académicas que lhe estão subjacentes, o recente trabalho de Aurélio Lopes surge na sequência de um percurso de investigação na área da tradição e cultura popular, com particular foco na área da religiosidade popular.
Os dois anteriores estudos deste antropólogo foram, um sobre as aparições de Fátima e outro sobre as mudanças das práticas religiosas dos avieiros, incluído no projecto de candidatura da cultura avieira a património nacional.
A tese de doutoramento, a que a investigação se destina, estará concluída em meados de 2012, mas em inícios desse ano será publicada em livro uma versão reduzida.


“Mercado de religiões”
Durante muito tempo, este tipo de práticas esteve perfeitamente enclausurado entre a possibilidade de aceitação eclesiástica, que era rara, e o não reconhecimento ou ostracismo, como aconteceu na Asseiceira/Rio Maior ou em Vilar Chão/Trás-os-Montes, casos mais ou menos idênticos ao modelo de Fátima.
A Santa da Ladeira persistiu até uma altura em que, à semelhança do que está a acontecer no Escorial ou Palmar de Troya (aparições marianas em Espanha), existe já um “mercado religioso” em Portugal. Tempo em que o cristianismo já não é “a” religião, mas “uma” religião.
Essa foi a sua maior proeza!
Apesar de a religião católica ser a que possui maior número de crentes e possuir ainda um conjunto de privilégios, muitos deles com uma explicação histórica, a mudança e abertura religiosa permite que líderes carismáticos desta natureza, como a Maria da Conceição (que, provavelmente, noutras circunstâncias seriam tidos como loucos), possam (embora com dificuldade), rodeando-se de indivíduos com conhecimentos administrativos e políticos, criar elas próprias, as estruturas em que podem assentar novos cultos.
Constituem, assim, variantes mais ou menos próximas dos cultos existentes, algumas vezes cismáticos, flutuando entre a aprovação e rejeição de determinados sectores da Igreja, mas que permitem, algumas vezes, a sua sobrevivência. Foi o que aconteceu na Ladeira do Pinheiro.
Aliás, a parceria com as igrejas ortodoxas nunca teria acontecido se não fosse o 25 de Abril.


Sozinha conseguiria?
A área do sagrado é essencialmente feminina. Normalmente são mulheres muito simples, suficientemente simples para acreditarem em coisas impossíveis. Impossíveis em termos transcendentais e impossíveis em termos organizacionais.
Portanto, porque acreditam em impossíveis, algumas vezes tornam possíveis, os improváveis.
Quando ela começou a desenvolver uma série de acções taumatúrgicas - e deixamos de lado até que ponto é que ela acreditava ou não - se alguém dissesse que daí a 50 anos iria haver, ali, um santuário com uma grande catedral, ninguém acreditaria.
Para isto acontecer foi preciso reunirem-se um conjunto de circunstâncias. Uma pessoa mesmo que seja analfabeta, como era o caso, e pobre, não tem nada a perder. São pessoas que acreditam que Deus escolhe os mais simples e ingénuos para comunicar. São pessoas que possuem, frequentemente, um carisma e forte personalidade, como ela tinha. Capazes de arranjar um grupo que lideram, motivam e fazem avançar em determinada direcção.
Estas pessoas são quase sempre convictas daquilo que fazem.


Como é, uma pessoa acredita numa coisa destas?
As pessoas acreditam sempre num desígnio mais elevado, e outros aspectos podem levar a isso.
As pessoas acreditam neste e “noutro” mundo. E acreditam que entre este e o “outro” há como que um canal, que algumas pessoas, tempos e situações podem abrir.
A relação com o divino torna-se, assim, quotidiana. Ela falava, tu cá tu lá, com os santos, com Deus, com a Virgem.
Isto acontece com a maior parte deste tipo de fenómenos. As pessoas, muitas delas relacionadas com uma religião respeitável mas anquilosada (cuja relação com o divino é feita através dos sacerdotes e mesmo assim de uma forma não visível), de repente vêem-se em ligação directa com os deuses. Isto é muito atractivo para pessoas mais zelosas (digamos assim), visionárias, muito carentes de afeição e capacidade de se imporem. Acredito que ela sentia que era mais capaz que outros, alguém que tem capacidades que noutros contextos poderiam dar origem a outro tipo de resultados. Aqui deu resultados a um nível que atraiu sectores da população muito crentes, místicos, pessoas que andam normalmente à procura obsessivamente do divino, seja através de espiritismo, das possessões populares, seja através de vidências, misticismos ou de outro tipo de situações.
Caíram ali todos criando uma feira de necessidades e originalidades.
Maria da Conceição teve assim capacidade para gerir todo um conjunto de interesses que foram aqui confluir: estamos em relação com o divino, esta pessoa é o canal da relação, o mundo está numa situação difícil e tenderá a acabar se não fizermos alguma coisa e, é através dela, que vamos salvar o mundo!
Este tipo de interpretação é mais ou menos inevitável em situações deste tipo.
A criação de organismos como o “exército branco”, que dão dignidade e solenidade e a atracção dos padres que dão respeitabilidade e institucionalidade, constituem mecanismos de formalização e acreditação cultual.


Aproximação à igreja católica e depois ortodoxa.
Maria da Conceição preferiu sempre o culto católico e até 1977, deu centenas de mensagens nesse sentido. Apelos à vinda de padres, dirigidos ao Bispo de Santarém, ao Cardeal Patriarca e naturalmente aos sacerdotes, por exemplo. Sempre quis um reconhecimento por parte da Igreja mas não o conseguiu, por razões óbvias.
Aliás, nunca conseguiria com o método e estratégia traçados por ela. A Igreja não aceita, normalmente, imposições. Mesmo aqueles cultos que, em determinadas alturas, foram considerados adequados e deu jeito a sua aceitação acabaram por ser disciplinados e domesticados, como Fátima.


Concorrência a Fátima?
A própria igreja católica tinha consciência disso. A determinada altura, o bispo de Leiria fez sair um postulado onde se dirige aos peregrinos de Fátima e a quem organiza excursões, para não virem à Ladeira do Pinheiro. Até diziam que quem viesse à Ladeira do Pinheiro não valia a pena ir a Fátima!
Rivalizou com Fátima e vivia um pouco à sua custa. A Maria da Conceição percebeu que Fátima só trazia vantagens e os discursos divinos pela boca dela passaram a incluir os temas fatimitas que estavam na ordem do dia e passaram a apresentar a Ladeira como uma continuação de Fátima. Mas a Igreja é uma instituição universal e não cede facilmente. Esta questão, aliás (tanto quanto se percebe dos dados disponíveis, nunca se pôs) e ela foi-se apercebendo disso.
Afinal, os representantes de qualquer religião (católica ou não) reservam-se o direito de avaliar os acontecimentos e definir a sua validade ou invalidade, de acordo com os cânones e, não só. Para as igrejas apenas existem, assim, duas situações: ou a pessoa é uma verdadeira santa ou é uma fraude, podendo ser voluntária e propositada (o que é mais grave), ou uma pessoa ingénua e iludida, exacerbadamente crente, que acredita naquilo que lhe está a acontecer.


Ainda antes da sua morte, em 2003, a igreja ortodoxa desvinculou-se.
Em 1977, um grupo de padres ortodoxos, regressados no 25 de Abril, agrupados na recém-fundada Igreja Católica Ortodoxa Portuguesa e liderados por D. João Gabriel, aceitaram os fenómenos da Ladeira.
Desde aí a ortodoxia entrou no culto e os cultos ortodoxos e católicos coexistiram durante mais de duas décadas. Segundo um padre ortodoxo que esteve ligado a esse processo ela aceitou porque não era aceite pela Igreja católica e porque acreditou que ali era possível criar um centro ecuménico onde todas as igrejas confluíssem. Por isso fazia todo o sentido a parceria com a igreja ortodoxa e as outras que se seguiriam. Mesmo pequenas igrejas, até católicas de outras confissões, quase sem representatividade, acabaram por lá ir celebrar, o que veio a criar uma certa ilusão de ecumenismo.
Mas ela sempre quis manter o culto cristão. A maioria esmagadora das pessoas que a rodeavam eram, naturalmente, cristãos romanos.
Durante esse tempo, a Maria da Conceição construiu uma igreja, logo à entrada. Depois, criou a catedral ortodoxa, mas onde exigiu um altar cristão católico, e mais tarde, entre 2000 e 2002, construiu outra igreja só para o culto católico. Depois de morrer, o altar na catedral foi retirado. A igreja católica está encerrada.
Houve, assim, um processo de ortodoxização completa do culto, que parece nunca ter sido intenção de Maria da Conceição.
Daí existir alguma conflitualidade de quem esteve ao lado dela e de quem está à frente da Fundação. De quem a vê numa lógica essencialmente institucional e de legalização do culto, e de outros que a vêem, ainda, numa lógica de voluntarismo e de relação pessoal com a considerada santa.
Após a saída, em conflito, da Igreja Católica Ortodoxa em 2003, a Ladeira ficará ligada a uma igreja ortodoxa búlgara, que só foi legalizada em Portugal em 2004, um ano depois da morte de Maria da Conceição. Esta, a Igreja Ortodoxa Alternativa Búlgara (de que Estevão da Costa é Bispo Metropolita de Portugal e Espanha), foi criada depois da queda do muro de Berlim após um conjunto de acusações, feitas ao Cardeal Primaz da Bulgária, de ter pactuado com os comunistas.
Virem para aqui, foi como espetar uma lança em África: ganharam audiência e um espaço de culto, num país onde a Igreja Católica é omnipresente.


Situação actual
A afluência baixou muito. Há pouco tempo contei quatro ou cinco autocarros e algumas dezenas de carros, embora já tenha estado presente após o ritual principal. Têm cultos diários e no primeiro domingo de cada mês a grande celebração mensal. Os dias da aliança, sete vezes por ano, têm a ver com dias importantes do culto, como a data em que foi destruída a casa de Maria da Conceição, ou datas do calendário religioso como a sexta-feira Santa.
Presentes diversos padres ortodoxos, mulheres do Exército Branco, e algumas pessoas devotas da Maria da Conceição.
Alguns não assistem ao culto por ser ortodoxo. É sintomático ver que parte daquela gente se posiciona preferencialmente perto da igreja da entrada, que está fechada.
A pacificação está ainda por fazer. Existem casos onde este tipo de conflitualidade está exacerbada.
Contudo, tal era, de alguma forma, inevitável. Depois do desaparecimento da mentora do culto, era óbvio que quem viesse atrás iria institucionalizar. Foi esta igreja ortodoxa que o fez, como poderia ser outra.
Quem conheceu e teve uma relação directa com Maria da Conceição, quem desempenhava papéis importantes lá dentro, foi posto de lado, assim como a sua sucessora indigitada, a “Teresinha”. uma das crianças que ela criou.
Prevendo o futuro, escolheu-a para sucessora, fazendo questão que isso fosse avalizado por Deus. A “Teresinha” manteve-se lá entre 2003 e 2009, altura em que, segundo diversos devotos, foi expulsa do santuário.
Por conseguinte, não só deixou de haver um culto católico, como deixou de haver uma personagem que simbolizasse esse culto. Logo as pessoas que estavam ligadas ao mesmo sentiram-se órfãs.


Os peregrinos são hoje menos.
A única dúvida que persiste, é até que ponto quantitativamente isso aconteceu e teríamos de saber como evoluiu a afluência das pessoas.
Sabe-se que aconteceu e porque aconteceu. É um processo que já vem de trás; com a retirada do altar católico e com a expulsão da “Teresinha”, a afluência de peregrinos diminuiu radicalmente.
Mas a grande alteração deu-se, naturalmente, com a morte da santa.
A igreja ortodoxa lida hoje com uma ambivalente necessidade: não darem azo a um maior afastamento das pessoas, mas igualmente não perderem o controlo do culto.
Alguns peregrinos continuam a vir: uns por habituação, outros por não terem para onde ir, outros porque se converteram, outros porque consideram a igreja católica e ortodoxa mais ou menos a mesma coisa.
Afinal, os responsáveis, agora, só têm que ir incrementando lentamente a ortodoxização daquele local de culto, pois Portugal, hoje, possui já um apreciável número de ortodoxos; muitos dos emigrantes que vieram do Leste.


Santos ao pé de casa não fazem milagres
Maria Conceição era de Riachos e dificilmente seria vista como santa em Riachos ou na Meia Via. As outras terras em volta estão igualmente muito próximas para gerar uma considerável afluência de pessoas. Mas das localidades que não têm relação directa de conhecimento com a família já é possível atrair mais seguidores.
Se repararmos, nunca são das terras onde as pessoas nascem que surgem os movimentos que os elevam à santidade. Não é por acaso que os padres das paróquias onde existem aparições são sempre contra, á semelhança de Fátima, La Salette, Lourdes, etc.
É muito difícil considerarmos uma pessoa conhecida como santa, pois sabemos de quem é filha, os seus defeitos e suas limitações. É muito difícil!
Embora em termos argumentativos seja fácil explicar, para nós como seres humanos, é muito difícil aceitar isso. Daí o povo ter perpetuado o dito que “os santos de ao pé da casa não fazem milagres”.
É natural que as pessoas da Meia Via tendam a ignorar aquilo. A pessoa nem é de lá, não a conhecem suficientemente para lhe apontar o dedo, mas também não a valorizam e até a ignoram.
Já as pessoas de Riachos que a conheceram têm normalmente uma reacção mais activa, do género irem lá para dizer mal, como aconteceu diversas vezes.
Este tipo de situações têm assim a ver com uma relação de proximidade comunitária com o sujeito. Quando temos uma relação de proximidade com o mesmo, dificilmente conseguimos perceber as singularidades e potencialidades que os outros vêem nele. Para o bem e para o mal.
Não é por acaso que grande parte dos devotos vinham de Santarém, Setúbal, Lisboa, Trofa, Rio Maior, etc. sítios onde existiram “milagres”, ou melhor, pessoas que tinham doenças e terão ficado curadas.
É mais comum haver este tipo de relação com pessoas que a conheceram, já, como líder religiosa, como figura carismática, como mística, do que com aqueles que a conheceram como criança.


As pessoas continuam a acreditar?
Ou acreditam ou não, não há meio-termo. Nunca se acredita mais ou menos.
Costumo dizer que existem três crenças que são gradualmente irracionais: a crença política, a crença religiosa e a crença desportiva/futebolística. Percorrendo as mesmas verifica-se um grau crescente de irracionalidade. Já somos um pouco irracionais na política, no caso das religiões é mais evidente e no futebol ainda mais.
As pessoas mudam de partido, dificilmente mudam de religião, mas nunca mudam de clube.


A grande maioria das pessoas que acreditava nos fenómenos místicos aí acontecidos, continua a ter a mesma ideia da Maria da Conceição.
Mesmo que hoje reajam mal ao que está a acontecer, não a consideram culpada. Pelo contrário, têm até uma crença messiânica de que ela há-de voltar um dia!
O próprio culto tem laivos de sebastianismo. Não só personagens bíblicas como Elias e Enoch são feitos regressar aí, como há alturas em que é dito que D. Sebastião vem ajudar a Ladeira, que é extremamente curioso.
As pessoas que acreditavam que ela é santa vão continuar a acreditar, e tendem a acreditar que se as coisas não estão melhor a culpa é da igreja católica que não apoiou, ou da igreja ortodoxa que estará a apropria-se daquilo e a deformar o culto.
A culpa nunca será, é, da Maria da Conceição.
Já quem nunca acreditou, continua a não acreditar.
Neste caso, na melhor das hipóteses, relevam a sua preocupação social, a preocupação com os lares, a aceitação das crianças, esse tipo de coisas. Muitos relevam isso, mesmo quando acham (e isso é mais ou menos comum), que ela era uma pessoa com feitio difícil… era uma patinha negra, que era alguém que nem acreditava naquilo que dizia.


E ela? Acreditava?
Tenho muitas dúvidas que uma pessoa consiga fazer tudo aquilo sem acreditar, e quem lida com estas áreas sabe como, afinal, é fácil acreditar: tanto para o místico ou vidente, como para o seguidor.
Dou um exemplo: na entrevista com Maria da Conceição ao jornal O Riachense em 1978, verificam-se alguns testemunhos de pessoas acerca de milagres acontecidos na Ladeira. Por exemplo, sobre um grupo de “anjos” que, num determinado dia, se viram aí voando. Um deles diz, a propósito, que olhou para o céu mas apenas viu um bando de patos a voar, embora acreditasse que fossem anjos!
É sintomático. As pessoas querem acreditar: ali como em Fátima e noutros lados. Ora, quando queremos acreditar nalguma coisa, acreditamos.
Portanto, só acredita nesses milagres quem é crente e (e isto é extremamente importante), quem é crente, quer acreditar.
Não ver, não indica, assim, que o milagre seja inexistente, mas apenas que o indivíduo não é suficientemente crente, devoto, puro!
Podem-se ver coisas diferentes, como em Fátima. Uma pessoa olha para o céu e vê o céu a rodar, outros vêem a cara de Nossa Senhora, outros o Menino Jesus, um cálice, etc,.… cada um vê aquilo que o seu sentir interior concebe e deseja ver.


Curas milagrosas?
A questão das curas milagrosas perspassa todo este tipo de fenómenos. Fátima, Escorial, Vilar Chão, Lourdes, Asseiceira, há sempre curas milagrosas.
As curas milagrosas acontecem quando uma pessoa tem uma doença que se considera definitiva. Para isto acontecer basta a mesma acreditar que a doença é aquilo que não é. Não existe referência médica em como Maria da Conceição tinha leucemia, mas isso não é importante. O importante era ela acreditar que tinha leucemia, o importante é que as pessoas acreditavam que ela tinha e que se curou.
E essa cura é sempre milagrosa. É um indício e um sintoma de sacralidade, a partir do qual aparecem os outros prodígios.
Na crença popular a medicina popular está sempre ligada ao transcendental, por isso existem as mezinhas e as práticas oratórias. Qualquer pessoa que é crente e tem uma doença e depois aparece curada (ou supostamente curada) torna-se, ela própria, condição de sacralidade e essas pessoas tendem a tornar-se mártires, místicas, chefes de seitas e em última instância, santas!


Versão integral da reportagem publicada no Jornal O Riachense de 19 de Maio de 2011.

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