A impassibilidade
doutoral, supostamente convicta, com que o Ministro das Finanças anuncia cortes
de rendimento atrás de cortes de rendimento e taxas fiscais atrás de taxas
fiscais, face a estratégias falhadas que há poucos meses considerava doutoral e
convictamente firmes e sustentadas é, não só inquietante, como tenebrosa.
Inquietante
porque o cariz impassível que adota não revela o menor vestígio de solidariedade
com a miséria que, metodicamente, vai gerando!
Tenebrosa,
porque reformula estratégias por si recentemente defendidas como se a falha das
mesmas fosse, afinal, resultado de eventuais determinações divinas, de todo
exteriores à sua ação!
Apresentando
a mais completa das impassividades. Sem vestígio de culpa ou corresponsabilização.
Um
robot! Inumano e insensível. Destituído de emoções. Escondido por detrás da
lógica fria dos números e da suposta inevitabilidade de uma vontade superior.
Para
ele, como para a troika que diviniza, as pessoas são meros números.
Índices
de incumprimento!
Taxas de
insuficiência contributiva!
Graus de
exígua produtividade!
Tenebrosa,
ainda, porque se insere numa prática politica que vigora entre nós há décadas:
em que ninguém é responsável por nada!
Pelos recorrentes
falhanços! Pelos mais gravosos fiascos políticos. Pela estrutural corrupção.
Pelas sistemáticas derrapagens. Pelas engenheiras financeiras que apenas
mascaram realidades estruturais cada vez mais graves. Pela multiplicação de tachos
e boys, direções, gabinetes, comissões e fundações. Pelos exorbitantes ordenados
dos gestores públicos. Pela impunidade judicial dos poderosos!
Ninguém
é, afinal, responsável!
Apenas,
o são, pelos êxitos!
Reais ou
hipotéticos!
Não
admira, assim, que a nossa vida politica tenha parecido (até recentemente) tão
recheada de êxitos!
Com os
resultados que agora se comprovam!
PS –
Subjacentes a esta sanha fiscal que ultrapassa até o mercantilismo da troika,
estão afinal as eleições. As tais que, para português ver, foram mandadas, ostensivamente,
“lixar”!
Apertar,
agora, para no ano das eleições poder oferecer de novo (àqueles que ainda
sobrevivam), algum pão e muito circo e, mais uma vez, eleitoralmente eternizarem-se!
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