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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O impassível



A impassibilidade doutoral, supostamente convicta, com que o Ministro das Finanças anuncia cortes de rendimento atrás de cortes de rendimento e taxas fiscais atrás de taxas fiscais, face a estratégias falhadas que há poucos meses considerava doutoral e convictamente firmes e sustentadas é, não só inquietante, como tenebrosa.

Inquietante porque o cariz impassível que adota não revela o menor vestígio de solidariedade com a miséria que, metodicamente, vai gerando!

Tenebrosa, porque reformula estratégias por si recentemente defendidas como se a falha das mesmas fosse, afinal, resultado de eventuais determinações divinas, de todo exteriores à sua ação!

Apresentando a mais completa das impassividades. Sem vestígio de culpa ou corresponsabilização.

Um robot! Inumano e insensível. Destituído de emoções. Escondido por detrás da lógica fria dos números e da suposta inevitabilidade de uma vontade superior.

Para ele, como para a troika que diviniza, as pessoas são meros números.

Índices de incumprimento!

Taxas de insuficiência contributiva!

Graus de exígua produtividade!

Tenebrosa, ainda, porque se insere numa prática politica que vigora entre nós há décadas: em que ninguém é responsável por nada!

Pelos recorrentes falhanços! Pelos mais gravosos fiascos políticos. Pela estrutural corrupção. Pelas sistemáticas derrapagens. Pelas engenheiras financeiras que apenas mascaram realidades estruturais cada vez mais graves. Pela multiplicação de tachos e boys, direções, gabinetes, comissões e fundações. Pelos exorbitantes ordenados dos gestores públicos. Pela impunidade judicial dos poderosos!

Ninguém é, afinal, responsável!

Apenas, o são, pelos êxitos!

Reais ou hipotéticos!

Não admira, assim, que a nossa vida politica tenha parecido (até recentemente) tão recheada de êxitos!

Com os resultados que agora se comprovam!

 

 

PS – Subjacentes a esta sanha fiscal que ultrapassa até o mercantilismo da troika, estão afinal as eleições. As tais que, para português ver, foram mandadas, ostensivamente, “lixar”!

Apertar, agora, para no ano das eleições poder oferecer de novo (àqueles que ainda sobrevivam), algum pão e muito circo e, mais uma vez, eleitoralmente eternizarem-se!

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