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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Deslize e pouca-vergonha


 
A recente intervenção pública do Secretário-Adjunto Carlos Moedas, respeitante ao “Relatório do FMI”, constitui o mais chocante ato político a que tive a desventura de assistir nos últimos tempos.

Sabemos bem como o mercantilismo está implantado nas nossas classes dirigentes. Como as pessoas são, para elas, meros números, rácios e índices económicos.

Contudo, a sua natureza de políticos eleitos tem os obrigado, pelo menos, a circunspetos fingimentos de pesar, quando as medidas que preconizam se anunciam dramáticas para quem os elegeu!

Com Vítor Gaspar, tinha-se passado a um outro nível; o da impassibilidade! Suportada, esta, por supostas competências financeiras. Qual potestade, serena e imperturbável, o mesmo estaria, assim, acima destes irrelevantes danos colaterais a que chamamos fome e miséria!

Com Moedas, atinge-se aquilo que se pode chamar o terceiro nível de desplante: manifesta-se, agora, uma indisfarçável e incontida satisfação com soluções que se sabe irem tornar ainda mais desgraçado, o já desgraçado povo português.

O encantamento com o famigerado “Relatório”, naturalmente alvo de anteriores conversas e apreciações ministeriais, foi de tal maneira intenso, que o dito “boy” se esqueceu de mudar o discurso antes de enfrentar as câmaras!

Mostrando, assim (num impressionante momento de imprudência e insensibilidade) uma cândida euforia; só comparável com criança brincando com saltitante bola colorida.

O choque é assim duplo!

Por um lado, a demonstração clara de estarmos a ser governados por personagens sem pingo de vergonha ou comiseração pela miséria que vão criando em seu redor!

Por outro, a constatação de que algumas das ditas personagens nem sequer parecem já incomodar-se com o facto do seu dourado futuro político passar, naturalmente, pela capacidade cíclica, e sucessivamente reinventada, de enganar o povoléu!

Povoléu, esse, que entretanto bate recordes de audiência em telenovelas e “reality shows”!

Talvez por isso mesmo os “yuppies” que nos governam não se incomodem a fingir. A fingir, sequer, que se incomodam!

Acéfalos e anestesiados (como estamos), desistimos de lutar, desistimos de acreditar, desistimos de nos indignar! Desistimos…

E, se até aqui, ainda nos prometiam um mundo novo, apesar de sempre convenientemente adiado…

Agora, nem a isso, já, se dão ao trabalho!

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