A recente intervenção pública
do Secretário-Adjunto Carlos Moedas, respeitante ao “Relatório do FMI”,
constitui o mais chocante ato político a que tive a desventura de assistir nos
últimos tempos.
Sabemos bem como o mercantilismo
está implantado nas nossas classes dirigentes. Como as pessoas são, para elas,
meros números, rácios e índices económicos.
Contudo, a sua natureza
de políticos eleitos tem os obrigado, pelo menos, a circunspetos fingimentos de
pesar, quando as medidas que preconizam se anunciam dramáticas para quem os
elegeu!
Com Vítor Gaspar, tinha-se
passado a um outro nível; o da impassibilidade! Suportada, esta, por supostas competências
financeiras. Qual potestade, serena e imperturbável, o mesmo estaria, assim, acima
destes irrelevantes danos colaterais a que chamamos fome e miséria!
Com Moedas, atinge-se
aquilo que se pode chamar o terceiro nível de desplante: manifesta-se, agora, uma
indisfarçável e incontida satisfação com soluções que se sabe irem tornar ainda
mais desgraçado, o já desgraçado povo português.
O encantamento com o
famigerado “Relatório”, naturalmente alvo de anteriores conversas e apreciações
ministeriais, foi de tal maneira intenso, que o dito “boy” se esqueceu de mudar
o discurso antes de enfrentar as câmaras!
Mostrando, assim (num impressionante
momento de imprudência e insensibilidade) uma cândida euforia; só comparável com
criança brincando com saltitante bola colorida.
O choque é assim duplo!
Por um lado, a demonstração
clara de estarmos a ser governados por personagens sem pingo de vergonha ou
comiseração pela miséria que vão criando em seu redor!
Por outro, a constatação
de que algumas das ditas personagens nem sequer parecem já incomodar-se com o
facto do seu dourado futuro político passar, naturalmente, pela capacidade
cíclica, e sucessivamente reinventada, de enganar o povoléu!
Povoléu, esse, que entretanto
bate recordes de audiência em telenovelas e “reality shows”!
Talvez por isso mesmo os “yuppies”
que nos governam não se incomodem a fingir. A fingir, sequer, que se incomodam!
Acéfalos e anestesiados (como
estamos), desistimos de lutar, desistimos de acreditar, desistimos de nos
indignar! Desistimos…
E, se até aqui, ainda nos
prometiam um mundo novo, apesar de sempre convenientemente adiado…
Agora, nem a isso, já, se
dão ao trabalho!
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