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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Dois Mundos



 Os horários nobres dos canais abertos encontraram-se, cada vez mais, repletos de programas televisivos dotados de uma frivolidade inacreditável; tal com frívola se apresenta, crescentemente, a sociedade contemporânea.
Proliferam aí, por exemplo, os inefáveis programas relacionados com a saúde e bem-estar dos animais de estimação.
Dos hotéis e hospitais caninos. Que de “pecaninos” não têm nada!
Da alimentação saudável que, naturalmente, não pode incluir restos. Mas sim bifes de vaca: de preferência, devidamente grelhados.
Dos campos de verão para animais domésticos. Dos floridos e florescentes cemitérios e cerimoniais fúnebres. Das rigorosas e científicas dietas.
E dos mais afamados terapeutas. De males do corpo e de males de espírito: stress, depressões e síndromes semelhantes.

E, enquanto isto, grande parte da população mundial vive abaixo dos limites inferiores da pobreza!
Mais de 900 milhões de pessoas são vítimas crónicas da mais absoluta fome.
Cento e cinquenta milhões de crianças com menos de cinco anos (uma em cada três que vive neste mundo) é, simplesmente, subnutrida.
Crianças que, durante toda a sua miserável vida, nunca souberam o que é estar saciadas!
Os tais meninos que nunca foram crianças. Cuja vida é uma luta, degradante e ingrata, para conseguir sobreviver mais um dia.
E as estatísticas atingem contornos abomináveis.
Calcula-se por exemplo, que, a cada três segundos, nalguma parte do mundo, morre um ser humano de fome!
Enquanto dezenas de milhões (agrupados nas cloacas periféricas das grandes cidades), sobrevivem dos restos que os abastados atiram para o lixo.
Mesmo que, para isso, tenham de lutar com outros esfomeados.

Mas sobre isso não existem programas no horário nobre. Pelos menos regulares.
Quanto muito (se associados a um episódio especialmente dramático de guerra, genocídio ou de morte em massa por subnutrição) merecem alguma referência nos serviços noticiosos.
Referência, depressa afastada para horários menos propensos às ditaduras das audiências. Já, que as imagens, podem ferir susceptibilidades.
Ou então remetendo-as para uma rara reportagem num canal codificado.
Sim, que a morte quotidiana de dezenas de milhares de crianças (por fome, genocídio ou pobreza mais extrema), não é, afinal, notícia.
É algo que, há muito, aprendemos a relativizar. A menorizar e ignorar.
Até porque fere a nossa sensibilidade.

São dois universos diferentes; neste universo que o nosso mundo é.
Um mundo, em que os animais são tratados melhor que Homens!
E um outro, em que os Homens são tratados pior que animais!


Aurélio Lopes
Aurelio.rosa.lopes@sapo.pt aesfingedebronze.blogspot.com

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