1 - Para
quem não o conhece, quem é Aurélio Lopes?
As auto caraterizações são quase sempre pouco rigorosas e pouco sinceras,
já agora. Portanto (e para falar apenas da valência cultural) poderei dizer que,
mais que alguém que é um observador da realidade por disposição, sou professor
por opção e, essencialmente, investigador por vocação.
2 – Os
fenómenos religiosos, tais como as Aparições de Fátima, despertam a sua
curiosidade? O que vê nestes fenómenos que o fascina?
Todas as áreas do conhecimento me fascinam.
Especialmente aquelas em que tentamos perceber o universo que nos envolve
e da qual somos parte ínfima; embora não irrelevante.
E dentro dessas, aquelas que mostram que os Homens, desde sempre, lidaram
mal com respostas temporárias e parciais. E buscam na transcendentalidade (doutrinária
ou não) respostas acabadas e absolutas.
3 – Com a
publicação do livro “A 13 de Maio na Cova da Iria”, revela detalhes
desconhecidos do grande público sobre as Aparições de Fátima. Qual o impacto
que antevê que essas revelações possam ter na sociedade?
Os detalhes (sejam eles quais forem) resultam da análise e interpretação de
documentos não herméticos ou ignotos e, portanto, à disposição de quem os procure.
As conclusões (sempre as possíveis) resultam, do enquadramento dos mesmos em
conhecimentos estruturais de base e da aplicação de conhecidos processos de metodologia
científica.
Não se trata, portanto, de nenhuma revelação ou inspiração divinas.
Mais, com certeza, de uma certa dedicação e transpiração profanas.
4 – Pensa
que poderá haver alguma alteração da forma como o Santuário de Fátima e as
Aparições são percecionadas pelo público católico com a publicação deste
livro?
Não acho que isso venha a ser muito visível. Para alguns servirá, com
certeza, como repensar de verdades que se julgavam pacíficas. Para outros, como
reforço (positivo ou negativo) de interpretações em aberto.
Contudo tal tenderá a acontecer enquanto processos individuais e íntimos.
Afinal, este estudo é mais uma contribuição no sentido de fornecer aos
crentes e não crentes uma outra forma de entenderem os respetivos fenómenos.
Vivemos num mundo em que a nossa perceção se vai construindo a partir da súmula
de dados e opiniões a que vamos tendo acesso.
Que este livro seja mais uma ferramenta para formarmos (ou reformarmos) as
nossas convicções.
5 – A 13 de
maio deste ano, o Papa visita o Santuário por ocasião do centenário das
Aparições. Pensa que a Igreja poderá vir a canonizar os três pastorinhos sem a
necessária realização de um milagre por sua intercessão?
Acho que a canonização é inevitável (até para abrir caminho à necessária
canonização de Lúcia, de forma a prestigiar a personagem
que, afinal, esteve na origem do grande “altar do mundo” que Fátima, hoje, é.
E
daí, também, a Igreja ter admitido canonizar, os ditos, mesmo na ausência do
determinante milagre probatório. Tal como, há algum tempo, o admitiu o Cardeal
português Saraiva Martins; responsável pela Congregação da Causa dos Santos.
Mas não foi preciso recorrer a tal.
Foi tornado público, muito recentemente, o despontar do
tão ansiado e conveniente milagre (relacionado com a cura, por intermediação
dos “pastorinhos”, de uma criança brasileira) confirmando-se, assim, o esperado
acelerar dos processos.
Não
conheço, naturalmente, o plano de atividades da Igreja. Mas, de forma
conclusiva ou simplesmente de predisposição, esse será um assunto, aí, provavelmente
anunciado.
6 – Tem
planos para próximos títulos?
Manter-se-ão na área temática da cultualidade popular. Entre outras
opções avulta o processo de investigação (já em curso) relacionado com o culto
peculiar de São Gonçalo, numa investigação transatlântica: leia-se efetuado,
simultaneamente, em Portugal e no Brasil; de forma convergente e numa óptica da
perceção dos processos e condições de mudança.
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