A polémica
acerca do eventual exorcismo realizado recentemente pelo Papa Francisco, na Praça
de São Pedro, reacende uma polémica tão velha como a igreja, mas abre, igualmente,
um processo a longo prazo que, ou muito me engano, há-de elevar o referido
pontífice a santo canonizado pouco depois da sua morte, sucedendo, assim, ao
precocemente canonizado João Paulo II: o “papa sofredor”.
Na
verdade a imagem do Diabo (ou dos diabos) saltitando de pessoa em pessoa em sucessivos
processos de possessão demoníaca mais ou menos estapafúrdios, constitui uma reminiscência
medieval, com que a Igreja lida, hoje, com algum desconforto.
Afinal,
não pode negar a existência (nem sequer a importância) do Demónio. Tanto por razões
ideológicas (bíblicas, naturalmente) e doutrinárias, como por razões
operativas: a desvalorização da ação do “príncipe do mal” implica, necessariamente,
a desvalorização de Deus.
Deste
modo, novas conceções ideológicas, no interior da Igreja, inclinam-se cada vez
mais para encarar entidades ou lugares como o Diabo ou o Inferno, de um ponto
de vista mais simbólico: não corporalizável na matriz configurativa popular.
E,
embora não o esqueçamos, a Igreja detenha a competência divina no combate ao Demo
e, as práticas exorcistas (digamos, canonicamente legais) requeiram a aprovação
clerical e a respetiva delegação de competências, este é um assunto que não
sendo tabu se pretende, preferencialmente, secundarizar e relativizar.
Assunto
incómodo, hoje como ontem!
Ou se
quisermos, hoje, mais ainda que ontem!
E isto
leva-nos ao segundo ponto atrás referido: porquê esta questão relacionada com o
novel pontífice? Porque não, com os seus antecessores?
Quando,
afinal, reações destas são perfeitamente normais; tendo em conta o clímax momentâneo
e os personagens em presença?
Provavelmente,
porque este é um Papa oriundo de uma Igreja latino-americana.
O
primeiro não europeu há mil e trezentos anos. Aliás, se considerarmos que os restantes
foram oriundos da bacia mediterrânea à altura sacro-culturalmente plasmada do
cimento imperial ou pós-imperial, podemos dizer, o primeiro de sempre!
Ao que
parece, assumidamente (e não apenas como imagem de marca) simples e humilde.
Mais direto, menos rebuscado e menos formal. Mais próximo de uma igreja popular
que, com estas questões maniqueístas, convive mais intimamente.
Um “papa
do povo”, afinal.
Foco de
um pontificado a seguir com atenção.
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