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sexta-feira, 8 de abril de 2016

O edifício misógino



 Depois de ter reconhecido um “lobby gay” no Vaticano, o Papa Francisco surpreendeu tudo e todos ao assumir, agora, como natural, a inclinação sexual dos padres gays e dessa maneira (e por maioria de razões) dos gays não padres.
Um enorme passo em frente na milenar hipocrisia canónica. Com o qual, contudo, muitos cristãos discordam.
Até, porque está aqui implícita, a tolerante compreensão (ora reafirmada) para com aqueles que tendo tendências homossexuais as exercem ou manifestam.
Afinal, muito deles vivem em universos predominantemente masculinos; às vezes quase exclusivamente.
E também porque, tal tolerância, levanta algumas interrogações no seio da Igreja. Interrogações merecedoras de reflexão.
Tolerância que traz à baila a questão da castidade e do celibato.
Ou será que se compreende a homossexualidade e espera-se que os homossexuais, em ambientes propícios, manifestem absoluta e completa contenção?
Ou são só os heterossexuais que têm de ser castos?!
Ou admitem-se as relações homossexuais masculinas e não as heterossexuais?
Ou é tudo apenas uma questão de celibato?
Admitindo-se (hipocritamente) as reações sexuais, desde que os sacerdotes não se casem?
Afinal o problema continua a ser a abominável mulher que o cristianismo recebeu de uma pastoril herança semita?
Fonte de pecado e tentação!
Criada para assistir e servir o homem.
De quem, ainda em 1930, Pio XI dizia: “o casamento (…) implica o primado do marido sobre as mulheres e os filhos e a submissão solícita da mulher, assim como a sua obediência espontânea6”.
Fazendo, assim, o estigma transitar do “abominável pecado da carne” e concentrar-se, ainda mais, na misógina subvalorização da mulher.
Que persiste há dois milénios!
Suportada hoje, afinal, pela inércia da tradição e milenar conservadorismo.
E, se quisermos, por bizarros interesses corporativos de género.




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