A problemática do Centro
Histórico de Santarém está a ser, pelos vistos, uma história interminável, com peripécias
recorrentes que só mantêm, afinal, uma linha de continuidade; a estrutural e crescente
degeneração do mesmo.
Estrutural desertificação e decadência
socio-económica a que nos vamos gradualmente habituando. E para a qual vamos
sugerindo soluções a maior parte das vezes impraticáveis (ou, mesmo, contraproducentes),
mas que descansam e aquietam consciências.
Tudo isto nos vem à
lembrança na recente tentativa (pelos vistos pouco convicta) de abrir ao trânsito
o, assim chamado, largo do Seminário.
Vamos pôr as coisas
de maneira simples: Gosto de ver carros no Largo do Seminário? Não!
Acho que os carros
devem passar pelo Largo de Seminário? Sim!
E, porquê tão ambivalente opinião?
Porque, embora parte
de um todo muito maior, requerendo soluções de fundo e integradas (que ninguém
está interessado em desenvolver porque seriam sempre polémicas e, pela sua
temporalidade alargada, pouco condizentes com os calendários eleitorais), tal
situação é uma das poucas que se podem tomar imediatamente. Desde que haja um mínimo
de vontade política (coisa que escasseia por estas bandas) e, já se vê, alguma
clarividência.
Porque, também, as
problemáticas urbano/patrimoniais de Santarém são substancialmente diferentes
da maioria esmagadora das outras cidades. E as suas soluções não são, em grande
parte, aqui aplicáveis.
E ainda, afinal, porque, como
defende a sabedoria popular, o ótimo é inimigo do bom.
Os argumentos contrários a esta
opção, na dita reunião esgrimidos, são bem exemplo de quem, afinal, não está à espera
que a coisa alguma vez mude. Atentemos:
Argumento;
poluição: Que eu
saiba, será sempre maior com os carros a terem de dar a volta à cidade, percorrendo
subidas acentuadas até regressar, quase, ao ponto de partida. A não ser, que
algumas centenas de metros ao lado, já se possa poluir à vontade.
Argumento;
esplanadas:
acredito que os donos das explanadas (uma, duas?) naquele troço, cinquenta ou
sessenta metros da Rua Serpa Pinto, se sintam afetados. Mas, se posto em
alternativa, o beneficio coletivo tem de ter sempre primazia. E, afinal, para
quê esplanadas (essas e outras) se não existem pessoas (e existem cada vez
menos) que se sirvam delas?!
Argumento;
tirar os carros:
Não se preocupem que há, no C. H., cada vez menos carros. Naturalmente, em grande
parte, atrás dos carros têm vindo as pessoas.
Argumento;
abrir o C.H. às pessoas:
Quais? Aquelas que deixam os carros no Choupal ou no Largo da Feira (por
enquanto) e têm de se deslocar a pé, uma hora ou duas, para ir e voltar ao C.H.?
E fazer o quê, se o comércio e serviços já quase não existem?
Por mais explanadas
que existam ou venham a existir!
Sabem o que é mais
perverso neste argumento? É que quando menos precisarmos de nos deslocar ao C.H.,
mais fácil é (ao argumento, já se vê) utilizá-lo!
Até chegar uma altura (já não
muito distante) em que já não precisemos de todo de lá nos deslocar. E, aí, as
questões do tempo e espaço de deslocação deixam de ser problema.
Finalmente, o argumento; transportes públicos:
Esta é a grande
questão. De facto já deviam existir, há muito, transportes públicos. Adequados,
naturalmente, às especificidades do espaço urbano em presença.
Afinal se a solução
terá de ser sempre, como se disse, integrada e abrangente, este devia ser, não
obstante, o grande desiderato enquadrador.
Apetece, fazermo-nos
de ingénuos e perguntar, então porque é que não existem?
Porquê a introdução
dos parquímetros que, há uma década, reputei de “última machadada no Centro
Histórico (…) se não fosse acompanhada de uma rede adequada de transportes”, não
acarretou os mesmos?
Nem, afinal, depois disso?
Acho que a razão é
muito simples: para lá, naturalmente, da escassa convicção política, o problema
maior é que, tendo em conta o estado de desertificação a que o dito está votado
(sem habitantes, comércio, serviços e afins) quaisquer transportes são,
simplesmente, insustentáveis.
E são bem mais
hoje do que eram nos tais dez anos atrás!
A não ser, é
claro, que se esteja disposto a sustentar, conjunturalmente, eventuais défices
de exploração. Enquanto, eventualmente, se forem criando ações tendentes a
minorá-los. Que neste caso terão de ser sempre (pelo menos) a médio-prazo.
Então, não se deve fazer nada?
Deve-se; claro. Desde
logo identificar e diagnosticar a situação; criando, talvez, um órgão
independente dos mais variados (e alguns deles avariados) grupos de interesses
que pululam nesta cidade.
Depois estudá-lo. Conjugar
vontades políticas. Tentar obter apoios necessários.
E não continuar com este faz de
conta que faço e não faço. Faz de conta que quero e não quero.
Afinal, mais uma
vez, o executivo municipal pode respirar de alívio e responder a eventuais
críticas: nós quisemos fazer. Os outros (mentecaptos) é que não nos deixaram!
Enquanto a oposição
pode, novamente, congratular-se de, com a sua coragem e discernimento, ter
impedido, novamente, um hediondo crime ambiental.
O jeito que dá bloquearmo-nos aos
outros!
E se (já agora), como afirmou o
ex-Presidente da Câmara de Óbidos num rasgo de inspiração, num recente debate pretensamente
direcionado para esta problemática*: “os centros históricos são gigantes adormecidos”,
no caso de Santarém aplica-se, também, a frase imortal de um igualmente
inspirado filósofo que o tempo, contudo, já esqueceu: “O sono é a antecâmara da
morte”!
*Aliás,
fazer um debate sobre o C.H e trazer como convidado este autarca para tecer
considerações sobre medidas aplicáveis a Santarém (pois se não forem aplicáveis,
não são para aqui chamadas) constitui mais uma das, atrás referidas,
estratégias de faz de conta. Será
que é preciso explicar porquê?
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