Assiste-se
hoje a uma proliferação de cerimónias de homenagem, e de homenagens de
cerimónia, às figuras públicas (culturais, políticas, artísticas, autárquicas
ou desportivas) da nossa sociedade contemporânea, por razões ocultas, dita
civil.
Não
há gato-pingado que não seja alvo de mais ou menos grandiosa e, sempre solene,
consagração pública, pelo seu inigualável trabalho, inexcedível dedicação e espírito
de sacrifício, com prejuízo, já se sabe, dos seus interesses pessoais,
profissionais e familiares.
Não
há instituição que se preze, seja Rancho Folclórico, Clube Desportivo,
Associação Recreativa, Cultural ou Patrimonial, Sociedade artística ou
Filarmónica, Autarquia, Grupo Humanitário ou de Excursionismo, Comissão de
Festas ou de Beneficência, que não desencadeie o seu processo de homenagens em
série, dirigidas aos seus dirigentes presentes e passados, colaboradores,
beneméritos, sócios mais antigos, fundadores, filhos (ou enteados) ilustres,
amigos e ... conhecidos!
Ora
as homenagens são assim como os milagres: a sua multiplicação exagerada
vulgariza-as e desvaloriza-as. Progressivamente vai-as tornando banais e insignificantes!
Mas
enquanto tal fator não é determinante, as mesmas vão crescendo como os
cogumelos. E se algumas são gostosas outras não deixam, à semelhança dos ditos,
de serem incómodas e perigosas. Há-as até, de alguma forma, venenosas!
Mas
mais ou menos gostosas, mais ou menos sinceras, o que elas são principalmente é...
numerosas! São as associações que homenageiam em pacote as dezenas de sócios
fundadores.
São as autarquias que homenageiam
de enxurrada toas as pessoas vivas, mortas ou moribundas que nelas
desempenham/desempenharam funções.
São, finalmente, as consagrações
intensivas de cidadãos mais ou menos ilustres que, dizem as más línguas, estão
começando a provocar escassez de homenageáveis adequados. Diz-se!
Por
isso, amigo, vá-se preparando! Garanta já a aquisição ou o simples aluguer da
fatiota! Casaco de bom corte, calças a condizer, camisa de marca e gravata
apropriada. Os sapatos poderão ser os mesmos, desde que devidamente engraxados
e devidamente ocultos por detrás da mesa da presidência.
É
que atendendo ao ritmo que as coisas levam e se excluirmos os cidadãos por
natureza não homenageáveis, o seu tempo aproxima-se vertiginosamente.
Se
não é já criança ou adolescente (nesse caso terá de esperar mais algum tempo),
nem velho caduco (cuja vez com certeza, já terá passado), se goza dos seus
direitos civis e políticos, se não é marginal assumido ou considerado como tal
pela vizinhança, se já foi, pelo menos, 3º Vogal da Secção de Campismo de uma
qualquer Sociedade Recreativa ou organismo afim, apreste-se que a sua vez está
a chegar!
A
sua não,... a nossa!
Sem comentários:
Enviar um comentário