No início de 2016, em entrevista de fim de ano conduzida
pelo Diretor do Correio do Ribatejo, tive oportunidade de afirmar, a propósito,
que o afluxo de refugiados vindos do Médio Oriente e resultantes das guerras no
Iraque e na Síria (que deram origem ao, assim denominado, Estado Islâmico),
iriam agravar consideravelmente as ondas de choque culturais que se vinham desenhado
na Europa.
“Para lá das questões de segurança (de
ignotas consequências) mas sempre mais difíceis de gerir em sociedades
multiculturais, existem depois os choques culturais; às vezes surdos, outros…
ruidosos”.
Choques
culturais que alguns municípios franceses incentivam, ainda mais, quando proíbem
a “burka” e, agora, aquilo a que chamam o “burkini”; expressando de forma paradigmática
a intolerância face à cultura islâmica. Algo que só tem paralelo na crescente
islamofobia.
Portanto,
este fluxo de refugiados, veio complexizar uma temática já particularmente sensível,
mesmo antes dos últimos acontecimentos.
“Aliás [como aí se lembrava], provenientes da Africa, afluem
sistematicamente à Europa números incomportáveis de migrantes (grande parte
muçulmanos) que aqui pretendem entrar”.
E
aproveitando as deslocações populacionais que tais guerras provocaram e a,
podemos dizer,
“consciência
pesada europeia (foram, não o esqueçamos, as intervenções ocidentais na Síria e
no Iraque que permitiram o esvaziamento de poder nas vastas áreas destes
países, ocupados depois, pelos radicais islâmicos) o que explica a atitude de maior
tolerância que a Europa tem mantido, em relação a estes últimos.
Tolerância que tem sido aproveitada por
tudo o que é refugiado das atuais e anteriores guerras naquela zona. Não só
sírios e iraquianos mas, igualmente paquistaneses, curdos e afegãos, por
exemplo. Que tentam aproveitar a boleia.
Para eles é a oportunidade, há tanto
tempo esperada, de chegar à Europa; preferencialmente aos países ricos do norte”.
Pela
sua dimensão, pela sua natureza (famílias completas e componentes alargadas de
clãs e tribos: logo, portadores de padrões culturais abrangentes) estes são
grupos que, inevitavelmente, iriam agravar os, já de si complicados, imperativos
de multiculturalidade e aumentar os riscos de segurança; independentemente de, na
sua grande maioria, serem, naturalmente, pessoas moderadas e fartas da guerra.
Até
porque, como aí se dizia,
“É possível que para os radicais
islâmicos seja, igualmente, uma oportunidade a aproveitar. Oportunidade de
conseguir colocar elementos seus nos países europeus que, de outra forma,
teriam bem mais dificuldades em entrar e, principalmente, em permanecer”.
Apesar
de, como também era lembrado,
“a sociedade multicultural já existir, e
apenas se ir gradualmente incrementando. Para o bem e para o mal, o futuro será
feito de sociedades cada vez mais pluriculturais”.
Deste
modo pode dizer-se que as recentes ações e decisões verificadas na Europa apenas
surpreendem pela precocidade. E, já agora, pelo manifesto radicalismo.
As
coisas estão, ainda, piores do que pareciam!
E
os guetos, que também se previam e cuja resposta à probabilidade da sua criação,
defendia que, tal, era quase inevitável:
“Muito provavelmente: explícitos ou
implícitos. A questão será se os mesmos expressarão, ou não, razões
essencialmente institucionais. O que seria uma forma de segregação”,
estão,
atualmente, a ser causa e razão de conflitualidades diversas entre populações francesas
e refugiados; dando origem a uma inquietante radicalização de posições.
E
para compor o ramalhete, o governo holandês acaba de tornar público um
comunicado que rejeita o estado multicultural e faz a apologia dos valores e
pressupostos culturais nacionais: numa iniciativa que (a fazer fé no que a história
nos tem mostrado) não augura, afinal, nada de bom!
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