A corrupção tem sido um tema recorrente nas análises político-sociais
que venho fazendo nos últimos anos. Corrupção com que nos habituámos a viver e
cuja importância, ativa ou passiva, consciente ou inconsciente, frequentemente menorizamos.
Que não é apenas um atavismo imoral e egoístico da classe politica e
respetiva estrutura administrativa, governamental ou não. Antes fosse, estavam criadas
condições para a sua superação.
Vem toda esta conversa aproposito de uma afirmação de uma conhecida
analista politica num periódico recente: A corrupção não ´um cancro que
mestatize este regime: A corrupção é rede que o sustenta”.
É alguém que se aproxima da realidade, mas reduz a dimensão corruptora
a um determinado regime.
Contudo o problema não é em rigor absoluto deste
regime; entendendo, este, como uma forma de governo, enquadrado em valores e interpretado
por determinados lóbis de uma classe politica mas vasta.
Nem deste, nem do anterior. Ou do que o antecedeu.
Mas, sim, algo que nos impregna como povo e nação.
Que, como algumas vezes já afirmei, tem a ver com persistências extemporâneas
de ancestrais mentalidades comunitárias e com as decorrentes insuficiências nos
imperativos de cidadania que nos deviam enformar.
Que afeta a natureza das nossas matrizes sociais e morais. Culturais
mesmo, se quisermos.
De que os nossos governantes constituem, apenas, a
elite: dos poderosos e oportunistas.
Dito de outra maneira daqueles que partilhando de
igual moralidade, têm o poder e a oportunidade necessários e suficientes para a
executarem.
Em ações de imoralidade, tendentes para a ilegitimidade e desta para a ilegalidade.
De uma forma, corrente, natural, habitual.
Sempre que particulares valores económicos e interesses pessoais mais altos
se levantem.
Portanto, não é a classe política que é corrupta. Somos todos nós.
E os respetivos regimes enquadram apenas aqueles
que face a esta predisposição podem tirar (e tiram) maior partido. Um partido
extremamente lesivo do interesse nacional.
São apenas os catalisadores da vontade e os intérpretes das ações.
Alguns, convenhamos, extremamente propensos a tal.
Mas que, quando são denunciados, acusados, julgados ou até condenados
como criminosos, merecem, do povo que somos, a maior das solidariedades.
Vejam-se as Fátimas Felgueiras, os Miguel Relvas, Isaltino Morais, os Valentim Loureiros,
os Pintos da Costa, os Ferreiras Torres, etc.,…
Afinal, eles estão no lugar que nós gostaríamos de estar. Partindo e
repartindo e…. ficando com a melhor
parte.
Não sei se caracterizar a corrupção como um cancro constitui
a analogia mais adequada. Sei, contudo que à semelhança do mesmo não só nos
permite ir vivendo enquanto condenados, como nos obriga a estar condenados
enquanto vivemos.
Ou melhor, sobrevivemos.
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