Numa sociedade individualista e competitiva em que vivemos,
a ambição, mesmo que desmedida, tende a ser encarada como inegável e estimável
virtude
Tentar superiorizarmo-nos aos outros pode garantir o
ambicionado lugar nas listas autárquicas ou parlamentares, uma rápida ascensão
na carreira empresarial ou uma afirmação da nossa empresa face a competidores
diretos e indiretos.
Num enviesado darwinismo social, passar por cima do outro
constitui, cada vez mais, atitude vista como resoluta e determinada. Própria de
um “animal político”, de um “atleta superior”, de um reputado advogado ou de um
hábil gestor ou executivo.
Neste momento o estereótipo padrão de tal é, um tal Cristiano
Ronaldo.
Frases como “Quero ser o melhor em tudo aquilo que faço”,
dão corpo a chamativas manchetes e servem de sórdida inspiração a muitos.
Despertando, igualmente, o aplauso da maioria dos, assim
chamados, comentadores desportivos, cuja proliferação de canais informativos,
tornam ainda (se tal é possível) mais prosaicos e obtusos.
Para quem os fins, desde que se traduzam em sucessos,
justificam sempre os meios. E quem vence tem sempre razão.
E, afinal, bastaria abdicar de um simples prenome: “Quero
ser ( ) melhor em tudo aquilo que faço”.
Uma simples letra, mas veiculadora de um universo de
diferenças.
Em que o adversário deixa de ser apenas o outro e passa a
ser, igualmente, a superação dos nossos próprios limites.
É, na verdade, uma filosofia mercantilista e narcisista
aquela que, paulatina e alegremente (a obscena dimensão promocional destes
personagens) vem, entre nós, construindo.
Em que a materialidade egoísta é padrão divino e se exalta,
o ídolo, até ao insensato.
E a solidariedade fica reservada a putativos episódios,
geradores de uma artificiosa imagem mediática; caridosa e solidária.
Da qual, afinal, se sente, periodicamente, a necessidade de
vestir a pele.
Esquecendo-se que o valor de qualquer dádiva não está,
afinal, naquilo que se dá, mas naquilo com que se fica depois de se dar!
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