A Quadra que atravessamos é, hoje em dia, mais sagrada ou mais profana?
- Vivemos um tempo em que se
desenvolve um processo de crescente profanização. Profanização que acompanha o
processo de mudança que vem alterando formas vivenciais e conteúdos
tradicionais.
Contudo, a mudança é um
processo intemporal; contínuo e inevitável. Afinal o que hoje chamamos Natal Tradicional
foi, igualmente, resultado de uma construção ritual; no tempo e no espaço.
O presépio, por exemplo, só se
divulgou a partir do século XII/XIII. A árvore de natal, de origem nórdica, só
na segunda metade do século vinte passou a integrar a nossa tradição.
Podemos dizer, sim, que mais
que profano, o Natal está hoje invadido de um caráter mercantil que afeta e
reconverte o seu sacralismo.
Convenhamos que é algo
deprimente ver substituídos desígnios morais que enformam a nossa matriz
cultural (independentemente de mais ou menos atuais) por meras filosofias consumistas,
em que a nova divindade é agora o dinheiro e, a nova doutrina, os intocáveis imperativos
de consumo.
A Religiosidade Popular tende a perder-se? Faz sentido falar-se, ainda,
na espiritualidade de uma ‘Missa do Galo’, ou nas festividades associadas à
Quadra Natalícia ou à Passagem do Ano, nomeadamente as gastronómicas?
- Naturalmente essas ações (que
aliás partilhavam de uma ambivalência profano/sagrado) encontravam a sua razão
de ser numa funcionalidade temporal socio-cultural específica. Que,
naturalmente, se vai esvaindo.
Desaparecendo, assim, à
semelhança do “madeiro de natal”, do “lume novo”, dos cânticos natalícios, do
“chocalhar os reis”, etc.,,..
Outras, contudo, não mudam tão
facilmente, pois se mantêm as suas funcionalidades rituais e constituem ações
facilmente inseridas nas modernas vivências celebratórias. É o caso de muitas tradições
gastronómicas, das formas de divinização como as “doze passas” ou “bagos de
romã”, das libações festivas da passagem de ano, etc.,…
Afinal, tal como a religião
oficial, também a religiosidade popular (da qual é em grande parte, reflexo) se
adequa às novas circunstâncias.
Não um reflexo óptico. Mas uma
adaptação, da mesma, a vivências sociais e culturais específicas: num contexto histórico e mental determinado.
É a vitória do Pai Natal perante um Menino Jesus que parece ter perdido
influência nesta Quadra?
- Mais que a vitória do Pai
Natal sobre o Menino é, como dissemos, a vitória do mercantilismo consumista sobre os valores cristãos, que o Natal,
historicamente, tem simbolizado.
Substituídos agora por toda uma complexa mitologia consumista que
agrega “pais natais” (ícone publicitário criado pela Coca-Cola) “mães natais”, trenós,
duendes, renas, “palácios de gelo do Pólo Norte”, fábricas de brinquedos e afins.
O Menino Jesus e as restantes personagens do
cenário idealizado do nascimento de Cristo (Maria, José, pastores, vaca, burrinhos
e magos) vão sendo esquecidos e constituindo, cada vez mais, meros referenciais
simbólicos; esvaziados e estilizados.
Aliás, a simbologia da morte de Cristo; relevando a humildade e a
pobreza (não necessariamente como fim, mas como meio) é hoje, quanto muito, aproveitada
para cumprir cíclicas e piedosas obrigações caritativas. Ao mesmo tempo que, na
prática, se atropelam as mesmas pela multiplicação do consumo. Encarado, agora,
não como meio, mas como fim.
Deste modo, a absoluta dominância do Pai Natal, arrasando assim a
memória tradicional do Menino, é bem exemplo de um simbólico infanticídio contra
o qual a Igreja luta, hoje, estoica e ingloriamente.
Acha que a crise politica e religiosa que vivemos pode aproximar as
pessoas de tipos de fenómenos religiosos, que se estavam a perder, como o culto
da ‘Santa da Ladeira’?
- É verdade que situações de
crise politica ou religiosa (com implicações sociais graves) tendem a fazer os
crentes volver, com mais fervor, as suas preces para Deus.
Foi, aliás, o que aconteceu em
Fátima: fruto de uma tensa conflitualidade entre a República e a Igreja, nos inícios
do século XX.
Contudo tais aproximações não
tendem a fazer reanimar cultos ou santuários adormecidos. Para isso é
necessário um novo estímulo desencadeador; milagroso já se vê.
No caso da Ladeira, desaparecida
a “santa” e esvaziado assim um culto popular católico/ortodoxo que a mesma liderara
e justificara, resta um pequeno e remanescente culto ortodoxo, assente numa
igreja sem qualquer tradição em Portugal.
Sem condições hierofânicas
para converter os católicos ou, ecuménicas, para atrair as, quantitativamente
escassas, massas ortodoxas que existem entre nós.
E, na medicina tradicional, os curandeiros também poderão voltar a
estar mais na moda?
- Os curandeiros nunca
deixaram de estar na moda.
Os curandeiros tradicionais (“benzedeiras”
e “virtuosos”, entre outros), esses sim, foram caindo em desuso (embora de forma
desfasada) conforme a sociedade se modernizou.
Mas a necessidade transcendental
da cura não desapareceu e o nicho rapidamente foi ocupado por outros
personagens mais adaptados a realidades urbanas, universalistas e mediáticas.
Afinal (na ótica popular) se o
curandeiro não dispõe do saber da ciência (logo do saber do Homem) “apenas”
pode dispor do saber de Deus!
O seu prestígio tende, assim,
a permanecer.
Não admira, portanto, a proliferação
atual dos chamados “profº”, de designação nominal exótica e, mais exótica ainda
suposta origem, que condensam em si as valências de “médiuns”, curandeiros, astrólogos,
espiritistas, cartomantes, etc.,…
Um tudo em um, afinal!
O Papa Francisco confirmou a visita a Fátima, em 2017, nos cem anos das
aparições. Que significado poderá ter essa visita?
- A
continuação da aposta na marianologia. E em Fátima como seu foco irradiador.
Fátima
que garante à Igreja Portuguesa uma importância universal que, de outro modo,
não teria. Situação (pela nossa pequena dimensão) conveniente tanto para esta
como para o Vaticano, já que não acarreta, afinal, o perigo de um excesso de
influências exteriores à Cúria Papal.
E que tem na figura do Cardeal
Saraiva Martins, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, uma das figuras
mais proeminentes do Vaticano. Que, por exemplo, segundo disposições já manifestadas,
se prepara para resolver, de uma vez por todas, o bloqueado (por falta de um
milagre catalisador), processo de canonização de Jacinta e Francisco.
É que urge iniciar o processo
de Lúcia e não se compreenderia se os primos ficassem, eternamente, como
beatos.
Qual a importância, hoje, do assim chamado
turismo religioso?
- O turismo religioso constitui hoje uma área em crescimento e
sustentação; tirando partido da sua temporalidade não necessariamente sazonal e
da existência, por toda a Europa, de uma população sénior cada vez maior e
detentora de meios económicos e exigências qualitativas que vão muito para além
da valência balnear.
Mesmo uma atividade pontual como acontece com eventuais festas
cíclicas (como a Festa dos Tabuleiros em Tomar ou a Festa da Boa-Viagem, em
Constância) contribui para colocar, o respetivo lugar, no mapa do turismo
religioso nacional e até internacional.
O ideal será
contudo uma atividade continuada (o que obriga a um foco devocional ativo) como
acontece em Fátima, mas tem vindo, igualmente, a acontecer (a outro nível dimensional)
com a reanimação do culto do Santíssimo Milagre, em Santarém.
Acha, assim, que o Santíssimo Milagre pode servir
tais propósitos?
Claro, Santarém que deixou cair devoções como Santa Iria ou a Senhora da
Saúde tem no Santuário do Santíssimo milagre um novo potencial de turismo.
Culto urbano, este, que não permite um foco devocional corporizável,
encontrava-se moribundo em parte devido, precisamente, a esta incorporalidade.
Mas, também por isso, merece hoje, da Igreja, especial incentivo. Aliás
o seu transcendental lendário, transversal ao território europeu, para isso,
igualmente, contribui.
O mesmo dá hoje origem a um fluxo regular de turistas religiosos;
peregrinos na ótica dos responsáveis pelo Santuário.
Tem faltado contudo clarividência e vontade politica para tornar, este,
um fenómeno bem mais importante. Encarando-o, verdadeiramente, como um
potencial turístico e económico. Especialmente, a dois níveis: na logística referente
ao Santuário (nomeadamente na questão dos acessos) e na indispensável diversificação
da oferta.
Até que ponto a vinda de refugiados pode
ser afetada, no ‘julgamento popular’, pelos atentados que têm ocorrido,
sobretudo na Europa?
A questão migratória era já
uma temática sensível antes dos últimos acontecimentos. Aliás, provenientes da Africa,
afluem sistematicamente à Europa números incomportáveis de migrantes (grande
parte muçulmanos) que aqui pretendem entrar.
Contudo, os novos refugiados
do médio oriente vieram mudar, pelo menos temporariamente, o paradigma da
imigração europeia.
Afinal, por razões de consciência
pesada (foram, não o esqueçamos, as intervenções ocidentais na Síria e no
Iraque que permitiram o esvaziamento de poder em vastas áreas destes países, ocupados
depois, pelos radicais islâmicos) a Europa tem mantido, em relação a estes últimos,
uma atitude de maior tolerância.
Tolerância que tem sido aproveitada
por tudo o que é refugiado das atuais e anteriores guerras naquela zona. Não só
sírios e iraquianos mas, igualmente, curdos e afegãos, por exemplo. Que tentam
aproveitar a boleia.
Para eles é
a oportunidade há tanto tempo esperada de chegar à Europa; preferencialmente aos
países ricos do norte.
É possível que para os radicais
islâmicos seja, igualmente, uma oportunidade a aproveitar. Oportunidade de conseguir
colocar elementos seus nos países europeus que, de outra forma, teriam bem mais
dificuldades em entrar e, principalmente, em permanecer.
Por isso mesmo, o recente
acordo assinado com a Turquia que pretende estacar, em grande parte, os fluxos
crescentes destes imigrantes. Naturalmente custou muito dinheiro à Europa e,
mais importante ainda, custou o desbloquear do interminável processo de adesão
da Turquia à União Europeia.
Que, não o esqueçamos, quando
concretizado, vai permitir a livre circulação dos cidadãos turcos (muçulmanos,
já se vê) por toda a Europa.
Em que medida é que estes fenómenos migratórios (num contexto de
radicalismo islâmico) vão afetar as gerações futuras?
Recentemente o E. I. divulgou
uma lista de países considerados “inimigos de Deus”, onde está, também, o nosso
país. Tal decorre do facto de Portugal (ao contrário de outros países europeus)
ser recorrentemente seguidista das opções geoestratégicas ocidentais, mesmo
quando elas chocam com os valores e causas islâmicas.
Isso torna-nos um alvo
potencial.
Para lá destas questões de
segurança (de ignotas consequências) mas sempre mais difíceis de gerir em sociedades
multiculturais, existem depois os choques culturais; às vezes surdos, outros
ruidosos.
Mas essa sociedade
multicultural já existe, apenas se vai gradualmente incrementando. Para o bem e
para o mal, o futuro será feito de sociedades cada vez mais pluriculturais.
Na sua opinião vão ser criados guetos culturais ou a aculturação será
natural?
Muito provavelmente:
explícitos ou implícitos. A questão será se os mesmos expressarão, ou não, razões
essencialmente institucionais. O que seria uma forma de segregação.
Seja como for, o aumento de
medidas de segurança traz sempre, como arrastamento, uma limitação da liberdade
de todos nós.
O que constitui um perigo a
ter em conta.
Deste modo, se não soubermos gerir
o terror, podemos afinal, andar para traz, no que às liberdades individuais diz
respeito.
E também, neste caso, os terroristas
terão ganho.
Em relação ao islamismo como é possível, na
sua opinião, uma crença radicalizar-se ao ponto de converter-se num movimento
fundamentalista religioso?
- As religiões não são más, nem
boas. São expressões de matrizes culturais tradicionalizadas: agregando corpos
de valores e envolvendo desígnios de salvação.
A utilização que se faz delas
depende muito da interpretação das suas doutrinas; muitas vezes heterogéneas e
multivalentes. Podendo-se deduzir daí, como usa dizer-se, determinados
princípios e o seu contrário, se preciso for.
A exemplo do cristianismo que agregou
os escritos sagrados dos judeus convivendo, assim, com dois corpos ideológicos muito
diferentes, a começar pela natureza da respetiva divindade. Que os cristãos têm
usado, historicamente, conforme os interesses e desígnios de momento.
O radicalismo que hoje enforma
muitos muçulmanos, é idêntico àquele que, durante séculos, vigorou entre nós.
Contudo deve ser interpretado num
contexto bélico de “guerra santa”, que serve de enquadramento ideológico a um
choque civilizacional bem dispensável. E em que nós estamos muito longe de
estar isentos de culpas.
Sabendo que ninguém poderá prever o local
ou a hora do próximo atentado, como se gere o medo, numa situação como esta?
Talvez considerando
a insignificância de Portugal no mundo. Afinal, um atentado ou tentativa de atentado
ou até uma suposta tentativa (às vezes servem o mesmo propósito: simplesmente lançar
o terror) desenvolvida em Portugal, não tem a importância política e mediática das
efetuadas em Nova Iorque, Londres, Paris, Bruxelas ou Berlim.
Contudo,
nunca fiando.
Naturalmente
temos de nos defender, de usar os mais diversos meios, ao nosso alcance, para tentar
eliminar os focos de irradiação de terror.
Mas a solução face ao radicalismo
islâmico não passa, exclusivamente, por mais ou melhor tecnologia militar e de
segurança, mas por mais e melhores relações politicas e sociais com o Islão.
Valorizar menos as vertentes
geoestratégicas e o domínio económico das produções petrolíferas. Resolver o
problema de Jerusalém: a mãe de todos os fundamentalismos islâmicos.
Criando assim condições, para
que a indignação islâmica seja atenuada.
Afinal, até
por definição, este é o tipo de guerra que nunca se ganha; sejam os atentados
coroados de êxito ou não. Sejam os intervenientes mortos ou não.
Na verdade,
desde que exista um fornecimento inesgotável de candidatos a mártires, com
acesso fácil a meios de destruição e rodeados de alvos vulneráveis, não se vislumbra
maneira de impedir, em absoluto, tais ações.
Existirá o perigo de fenómenos religiosos serem manipulados por
governos ou poderes instituídos?
As religiões enquanto mecanismos
eficientes de controlo de mentes e vontades foram desde sempre manipuladas por
poderes instituídos ou constituíram, elas mesmas, esses ditos poderes.
Veja-se a supremacia do Papa face
aos poderes reais europeus durante séculos. Numa altura em que o papado era não
só um poder espiritual mas igualmente temporal; reinando como qualquer senhor
feudal sobre grande parte da Itália.
Veja-se o tenebroso poder da
Inquisição (que em muitos casos se sobrepunha aos estados) durante os primeiros
séculos da, assim chamada, Idade Moderna!
Vejam-se as guerras santas que
as cruzadas constituíram; tanto contra os ditos “infiéis” como, no século XII,
contra cristãos, ditos heréticos, como os Cátaros e/ou os Albigenses.
Vejam-se os genocídios destinados
à ocupação de territórios e à conquista de almas (mesmo que, às vezes, já
separadas dos corpos) durante a colonização europeia.
Enfim, só muito recentemente,
no Ocidente, a religião se separou do poder temporal.
Em muitos estados muçulmanos, tal
ainda não se verificou.
Considera que isso aconteceu com o nosso ‘Fado, Futebol e Fátima’?
Fátima resulta, em parte, da
luta de poder entre o Governo da República e a Igreja Católica. Desde o início
que é marcada por esta luta de poder.
Nos anos
trinta a setenta, uma santa aliança Igreja-Estado, elevará Fátima a catalisador
do grande desígnio nacional, reanimando assim, até certo ponto, um orgulho
nacional que irá sendo desgastado pela perda de um império colonial que se esvai
por entre os dedos.
E foi,
em parte, esta participação governamental em Fátima (numa altura, não o
esqueçamos, em que muitos países europeus partilhavam de uma liberalidade de
ideias e costumes inexistente, ainda, entre nós) que em parte lhe garantiu o
apoio do Vaticano e a relevância atual.
É coordenador do Fórum Ribatejo que este ano reuniu para apelar, a quem
de direito, um olhar mais profundo sobre o Rio Tejo. O ‘SOS’ foi lançado. Com
que resultados concretos?
A este nível,
os resultados são sempre mais sentidos que explicitados.
Digamos que
é visível, nos últimos tempos, uma maior consciencialização das pessoas e das
instituições (especialmente autárquicas) para a importância desta temática.
Suponho que
existe aqui, igualmente, um resultado estrutural resultante das mudanças de lideranças
autárquicas que a nova lei de limitação de mandatos proporcionou. Aliás, muitos
dos anteriores presidentes de câmaras (para lá de uma eventual acomodação ao
problema) estiveram próximos dos governos que negociaram tais acordos.
Gostamos de
pensar que também vai resultando, em parte, da nossa ação.
Em comunicado assinado pelo coordenador, Aurélio Lopes, o Fórum
Ribatejo entende ainda que os Movimentos de Cidadania e as Organizações Não
Governamentais da bacia hidrográfica do Rio Tejo, “deverão continuar a
contribuir na procura de condições de minimização para a situação atual do Rio
Tejo, divulgando publicamente as suas posições”.
Numa questão em que, para lá
da poluição, a problemática mais grave resulta dos evidentes défices de caudal resultantes
dos acordos internacionais assinados, a possibilidade de sensibilizar os nossos
responsáveis de forma a induzir-lhes a necessidade de voltar à mesa das negociações
não é (nem nunca será) tarefa fácil.
Afinal, a questão põe-se logo
no atual cumprimento, ou não, do acordo alcançado. Que só os responsáveis pelo
mesmo e pela sua fiscalização podem conhecer.
Agora, o que parece certo é o
seguinte: ou o acordo não está a ser cumprido (e urge reagir contra tal) ou não
serve e urge, rapidamente, denunciá-lo e renegociá-lo.
E é ai que entra o papel insubstituível
das ONG portuguesas relacionadas com o Tejo. Como fator de pressão sobre as
instituições e de informação e esclarecimento das populações.
O Fórum desenvolve a sua atividade desde 2009. Nota algumas melhorias,
institucionais ou não, na forma como o Ribatejo é visto pelos poderes políticos
e/ou autárquicos que sejam resultado da vossa ação de consciencialização?
- Acho que o retorno respeitante
à ação do Forúm Ribatejo é visível essencialmente na naturalidade com que os
organismos autárquicos da Região encaram o Forúm. Naturalidade e
respeitabilidade, acrescente-se.
E como consideram útil e
normal funcionar em parceria com o mesmo.
Que não o esqueçamos, surge
como uma entidade exterior à lógica da bipartição regional; duas regiões de
turismo, duas associações de municípios, duas comunidades urbanas e duas comissões
regionais.
Suponho que existe agora uma
predisposição maior para considerar o Ribatejo como um todo. Do ponto de vista cultural,
com certeza, mas igualmente social e patrimonial.
Os efeitos disto em termos políticos/administrativos
não são fáceis de medir mas, pelo menos, não serão, com certeza, negativos.
Como vê o futuro político/administrativo do Ribatejo?
- O Ribatejo tem sido vítima
da manipulação de interesses políticos que acabaram por enfeudar a sua eventual
afirmação numa futura regionalização.
A bipartição regional, aqui
operada, tem levado à multiplicação dos cargos públicos (uma espécie de
“milagre da multiplicação dos tachos”) com vantagens evidentes para a classe
política regional e prejuízos, ainda mais evidentes, para a imagem de coesão e homogeneidade
do Ribatejo.
A atual ligação ao Alentejo
(justificada por conveniências económicas conjunturais), é, afinal, mais um
passo no caminho traçado da subordinação administrativa.
Pode-se assim dizer, que se o
Ribatejo enquanto futura região administrativa morreu, não morreu de morte
natural.
Alguém o assassinou! E, alguns
outros, vão ajudando, diligentemente a enterrá-lo!
Quais serão em 2016 as próximas iniciativas do Fórum?
- O Forúm ribatejo não é uma
associação formal com órgãos dirigentes e planos de atividades anuais. As ações
a desenvolver decorrem das livres expressões de vontade dos seus membros, que
depois se organizam (melhor dizendo, auto-organizam) nesse sentido.
Para 2016 prevê-se
realizar, em Santarém, provavelmente em Maio, um espetáculo que pretende ser
uma mostra de interações de diversas expressões artísticas (inclusive o
Folclore) num todo configurativamente coerente.
Ir-se-á
realizar em 29 de Outubro, em Montalvo/Constância, um colóquio temático, “O
Ribatejo e a Grande Guerra”, como sempre em parceria; desta vez com a Câmara de
Constância.
Realizar-se-á
ainda, com certeza, o habitual Encontro de Historiadores do Ribatejo: de novo
na Golegã.
Eventualmente,
outras iniciativas surgirão.
Enquanto crítico político, o que acha que
podemos esperar do novo governo de esquerda?
Mais ou menos
o que poderíamos esperar do anterior; num tom, agora, mais progressista.
É natural
que questões legais de princípio relacionadas com causas e valores mais
liberais (sociais e de cidadania) como aconteceu com a recente lei sobre “a adoção
de crianças por casais homossexuais”) encontrem ali (numa maioria parlamentar
mais ou menos solidária) condições de aprovação.
Bem como algumas
decisões políticas e sociais, avulso.
Quanto a
opções económicas e políticas de fundo,… a nossa autonomia é, hoje, fortemente
condicionada por Bruxelas.
Seja qual
for o Governo.
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