*********************************************************************************************************************************************************************

Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


**********************************************************************************************************************************************************************


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Medo e vergonha

A queixa por maus tratos domésticos por parte do companheiro, feita por Isaura Morais, actual Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, constitui um episódio que marcou a agenda noticiosa regional nos últimos dias.
A explicação da autarca para só agora ter denunciado uma situação não recente (só agora “senti que tinha apoio para isso”) surge-nos como particularmente significativa e sugere, afinal, todo um mundo, oculto, de vergonhas, medos e incompreensões.

Estamos a falar de uma pessoa instruída, casada em primeiras núpcias com um antigo vereador, Presidente da Junta de Freguesia de Rio Maior, candidata vencedora e actual Presidente do respectivo Município.
Não, propriamente, da Ti Maria das Dores, camponesa e analfabeta, residente em Carquejais no interior, mais remoto, do concelho de Sátão.
E, mesmo assim, só agora a mesma “sentiu que tinha apoio” para tomar uma atitude que, em Portugal, ainda é (e não deveria ser) um acto de coragem!

Porque a lei não protege, nestes casos, convenientemente, as vítimas!
Porque a sociedade não compreende muitas vezes a reacção das mesmas, olhando-as como alguém “coitadas”, que “tiveram azar na vida”, mas a quem, agora, só resta sofrer, de preferência em silêncio, “ganhando assim (definitivamente), o céu!”
Porque as autoridades não encaram conveniente a situação, desvalorizando-a e desencorajando as denúncias, dentro da tal asserção popular (que também enforma a anterior perspectiva social) que “entre marido e mulher não se mete a colher”.

Não admira, assim, que embora sujeitas a agressões diárias e continuadas, mesmo as vítimas pertencentes a classes sociais mais elevadas tenham muitas vezes dificuldades em obter “apoio” para tal decisão: apoio moral, social e, quantas vezes, de segurança e integridade física!
Que tenham dificuldade, afinal, em reivindicar um dos mais básicos direitos individuais; o direito à protecção contra a violência, explícita e interminável, seja ela de que natureza for e venha de onde vier!

Sem comentários:

Enviar um comentário