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terça-feira, 26 de julho de 2016

O burro e a cenoura




António Ceia da Silva, responsável pela Associação Regional de Turismo do Alentejo e (parte do) Ribatejo, revelou recentemente no Cartaxo que está em curso a candidatura do “montado de sobro” a património da humanidade e que, o “fandango”, virá a ser, igualmente, candidato a esse estatuto.
Enfim! Parece que a divisão do Ribatejo por associações regionais de turismo (de que é, essencialmente, apêndice), recebe como compensações, este tipo de rebuçados que servem para comprar consciências e adormecer resistências; num processo administrativo de morte anunciada.
E que, afinal, com ou sem nexo, custam muito pouco.
São as cenouras do nosso percurso muar.
Neste Ribatejo à beira-Tejo plantado
Na sequência de tão agradável desiderato e, naturalmente expressando o seu regozijo, o presidente do Município do Cartaxo (o meu amigo Pedro Ribeiro) terá referido, entre outras coisas, “que o concelho tem ranchos em todas as freguesias e que todos apresentam diferentes tipos fandangos, o que permitirá potenciar a candidatura ainda em estudo”.
Pois….
Convenhamos que se vier a ser liderada e potenciada com os “diferentes tipos de fandangos existentes no concelho de Cartaxo”, está bem entregue a tal candidatura!
Naturalmente o Presidente da Câmara do Cartaxo (como, aliás, de qualquer outra) não tem de ser um especialista em cultura tradicional.
Agora que a Câmara não possua ninguém minimamente esclarecido acerca destes e doutros “fandangos” que pululam na maioria dos agrupamentos do concelho do Cartaxo e de outros “cartaxos” (muitos deles que nunca fizeram, sequer, um arremedo de pesquisa nas suas localidades), isso é que é, já, mais difícil de explicar.
E fiquemos por aqui…
Quanto às candidaturas (algo que, pelos vistos, está na moda) delas, só por si, mesmo que pouco compreensíveis, não virá, com certeza, mal ao mundo.
O “montado de sobro” tem algum sentido: embora a vulgarização destes tipos de classificações tenha vindo (e tenderá cada vez mais) a desvalorizar os reconhecimentos entretanto obtidos e outros que se venham a obter.
Resta saber como é que o fandango vai preencher o requisito que a UNESCO usualmente exige: o de se tratar, obrigatoriamente, de um padrão cultural vivo.
É um facto que a “cante alentejano” é, também ele, um padrão cultural praticamente fóssil e a respetiva candidatura conseguiu vendê-lo como algo, se não vivo, pelo menos ainda ligado a uma qualquer máquina de reanimação.
Suponho, contudo, que conseguir convencer os técnicos da UNESCO de que o Fandango é uma dança ainda hoje viva é, com certeza, bem mais difícil.
Seja como for, se o fandango é uma dança morta há diversas décadas, de que os grupos folclóricos vão essencialmente preservando a memória, dela se pode dizer que é, talvez, a mais deficientemente representada no elenco programático dos grupos ribatejanos.
Aquela, afinal, que constituía inegavelmente o padrão cultural mais variado e que é hoje, curiosamente, a mais estereotipada.
E, convenhamos, mal estereotipada.
Esperemos, portanto que, a acontecer, a dita candidatura consiga ultrapassar a exagerada estilização que enforma, ainda hoje, grande parte das suas representações.
E não constitua, afinal, a consagração (em memória futura) do erro e do equívoco!

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