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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Némesis



      
O recente massacre acontecido em Orlando, na Flórida, tem sido visto, essencialmente, como uma violenta reação homofóbica, sentindo-se (de alguma forma) nas autoridades federais, um mal disfarçado alívio (pese embora a posterior reivindicação por parte do E. I.) por tal episódio não surgir, de modo constitutivo, associado a organizações terroristas.

Afinal, sempre é mais fácil conceber que a tragédia decorra da ação tortosa e perturbada de uma mente desviante que, reconhecer mais uma vez, vulnerabilidades de segurança.

Contudo, a dimensão da tragédia e a natureza individualizada da ação, não devem ser vistas, muito longe disso, como algo de menor importância, no contexto da “guerra santa” em curso nos nossos dias.

Afinal, a existência da mesma reveste não só os pressupostos doutrinários como as ações políticas de um antagonismo moral exacerbado.

Tal como a igreja se opõe aos novos pressupostos de igualdade na diferença (hoje em dia em ações de mobilização politica dos seus apoiantes diretos e indiretos) também o islamismo (religião de semelhantes contornos doutrinários) se opõe às novas ideias que considera blasfemas.

Só que, aqui, dois fatores incrementam tais vontades:

Por um lado o fato de enformarem sociedades especialmente conservadoras.

Por outro, a perceção de que tais valores estão a ser introduzidos nos seus países numa tentativa de corromper a sua juventude e destruir o seu modo de vida.

Poder-se-á dizer, portanto, que as questões homofóbicas ou de discriminação face à diferença adquirem, no crente islâmico, especial importância. Constituindo mais uma razão de reforço da abominação do corrupto e diabolizado Ocidente.

Constitui, portanto, mais uma área alvo privilegiada da “Jihad” em curso. Um área particularmente vulnerável, diga-se de passagem. E que alarga, assim, o âmbito já de si extremamente lato, das vitimas preferenciais.

Mas a ilação mais grave a tirar deste episódio não é, ainda, esta.

Vejamos, se os atentados terroristas que exigem aturados planeamentos, verificados um pouco por todo o mundo, não tem sido parados (apesar de todo o esforço internacional nesse sentido) como enfrentar outro tipo de atentados (como os acontecidos, há pouco, em França) que dependem apenas da existência de motivos (omnipresentes, afinal) e de alguém disposto a morrer pela causa.

Compra-se uma arma no mercado legal, se possível, ou no mercado negro, se necessário. Em países como os EUA; ainda bem mais fácil.

Como defesa, as forças da ordem pouco mais podem fazer que seguir previamente eventuais conexões com organizações suspeitas ou susceptíveis de constituir associações radicais.

Contudo, contra indivíduos como Omar Mateen (e outros que podem, até, não possuir qualquer ligações familiares islâmicas) nem tal é, sequer, possível.

Sem ligações a organizações terroristas, doutrinados nas redes socais, sem qualquer cadastro ou indício prévio revelador.

O maior pesadelo de quaisquer forças da segurança.

Os homossexuais e afins foram, neste caso, o alvo. Poderiam ter sido as prostitutas, os jornalistas, as organizações feministas ou qualquer outro grupo visto como símbolo da abominável perversão ocidental.

Ou poderá ser qualquer um de nós. Culpado, afinal de ser parte do mundo “demoníaco” que o Ocidente enforma.

O que se poderá fazer, então, para obstar a isto?

Talvez perceber o que leva tantos jovens a sacrificar a própria vida, desde que arrastem consigo um número substancial de outros!

Que lhes parece tão importante que justifique isso?

E como podemos evitá-lo?

Matá-los, só por si, não serve de nada. Se servisse já há muito que tal era visível e mensurável.

Porque a sua “guerra santa” (perversa para nós, inspirada para eles) alimenta um fluxo interrupto de candidatos a mártires.

E, cada um que morre, constitui um paradigma exemplar. Modelo sagrado que entusiasma e motiva futuros sacrifícios na procura, exangue, da salvação eterna.

A solução, seja ela qualquer for, passará sempre (em grande parte) por impedir este “milagre da multiplicação dos mártires”.

E sobre isso, convenhamos, existe muito que os dirigentes ocidentais podem fazer.

Assim queiram abdicar de interesses geoestratégicos e económicos. E deixem de ver nesta escalada de ódio e violência, uma situação de alguma forma conveniente, que (em época pós-guerra fria) fundamenta investimentos militares, relativiza outras causas e justifica reforços de segurança; limitadores (entre outras coisas) das nossas liberdades individuais.


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