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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Bloqueemo-nos uns aos outros



A problemática do Centro Histórico de Santarém está a ser, pelos vistos, uma história interminável, com peripécias recorrentes que só mantêm, afinal, uma linha de continuidade; a estrutural e crescente degeneração do mesmo.
Estrutural desertificação e decadência socio-económica a que nos vamos gradualmente habituando. E para a qual vamos sugerindo soluções a maior parte das vezes impraticáveis (ou, mesmo, contraproducentes), mas que descansam e aquietam consciências.
Tudo isto nos vem à lembrança na recente tentativa (pelos vistos pouco convicta) de abrir ao trânsito o, assim chamado, largo do Seminário.
Vamos pôr as coisas de maneira simples: Gosto de ver carros no Largo do Seminário? Não!
Acho que os carros devem passar pelo Largo de Seminário? Sim!
E, porquê tão ambivalente opinião?
Porque, embora parte de um todo muito maior, requerendo soluções de fundo e integradas (que ninguém está interessado em desenvolver porque seriam sempre polémicas e, pela sua temporalidade alargada, pouco condizentes com os calendários eleitorais), tal situação é uma das poucas que se podem tomar imediatamente. Desde que haja um mínimo de vontade política (coisa que escasseia por estas bandas) e, já se vê, alguma clarividência.
Porque, também, as problemáticas urbano/patrimoniais de Santarém são substancialmente diferentes da maioria esmagadora das outras cidades. E as suas soluções não são, em grande parte, aqui aplicáveis.
E ainda, afinal, porque, como defende a sabedoria popular, o ótimo é inimigo do bom.
Os argumentos contrários a esta opção, na dita reunião esgrimidos, são bem exemplo de quem, afinal, não está à espera que a coisa alguma vez mude. Atentemos:
Argumento; poluição: Que eu saiba, será sempre maior com os carros a terem de dar a volta à cidade, percorrendo subidas acentuadas até regressar, quase, ao ponto de partida. A não ser, que algumas centenas de metros ao lado, já se possa poluir à vontade.
Argumento; esplanadas: acredito que os donos das explanadas (uma, duas?) naquele troço, cinquenta ou sessenta metros da Rua Serpa Pinto, se sintam afetados. Mas, se posto em alternativa, o beneficio coletivo tem de ter sempre primazia. E, afinal, para quê esplanadas (essas e outras) se não existem pessoas (e existem cada vez menos) que se sirvam delas?!
Argumento; tirar os carros: Não se preocupem que há, no C. H., cada vez menos carros. Naturalmente, em grande parte, atrás dos carros têm vindo as pessoas.
Argumento; abrir o C.H. às pessoas: Quais? Aquelas que deixam os carros no Choupal ou no Largo da Feira (por enquanto) e têm de se deslocar a pé, uma hora ou duas, para ir e voltar ao C.H.? E fazer o quê, se o comércio e serviços já quase não existem?
Por mais explanadas que existam ou venham a existir!
Sabem o que é mais perverso neste argumento? É que quando menos precisarmos de nos deslocar ao C.H., mais fácil é (ao argumento, já se vê) utilizá-lo!
Até chegar uma altura (já não muito distante) em que já não precisemos de todo de lá nos deslocar. E, aí, as questões do tempo e espaço de deslocação deixam de ser problema.
Finalmente, o argumento; transportes públicos:
Esta é a grande questão. De facto já deviam existir, há muito, transportes públicos. Adequados, naturalmente, às especificidades do espaço urbano em presença.
Afinal se a solução terá de ser sempre, como se disse, integrada e abrangente, este devia ser, não obstante, o grande desiderato enquadrador.
Apetece, fazermo-nos de ingénuos e perguntar, então porque é que não existem?
Porquê a introdução dos parquímetros que, há uma década, reputei de “última machadada no Centro Histórico (…) se não fosse acompanhada de uma rede adequada de transportes”, não acarretou os mesmos?
Nem, afinal, depois disso?
Acho que a razão é muito simples: para lá, naturalmente, da escassa convicção política, o problema maior é que, tendo em conta o estado de desertificação a que o dito está votado (sem habitantes, comércio, serviços e afins) quaisquer transportes são, simplesmente, insustentáveis.
E são bem mais hoje do que eram nos tais dez anos atrás!
A não ser, é claro, que se esteja disposto a sustentar, conjunturalmente, eventuais défices de exploração. Enquanto, eventualmente, se forem criando ações tendentes a minorá-los. Que neste caso terão de ser sempre (pelo menos) a médio-prazo.
Então, não se deve fazer nada?
Deve-se; claro. Desde logo identificar e diagnosticar a situação; criando, talvez, um órgão independente dos mais variados (e alguns deles avariados) grupos de interesses que pululam nesta cidade.
Depois estudá-lo. Conjugar vontades políticas. Tentar obter apoios necessários.
E não continuar com este faz de conta que faço e não faço. Faz de conta que quero e não quero.
Afinal, mais uma vez, o executivo municipal pode respirar de alívio e responder a eventuais críticas: nós quisemos fazer. Os outros (mentecaptos) é que não nos deixaram!
Enquanto a oposição pode, novamente, congratular-se de, com a sua coragem e discernimento, ter impedido, novamente, um hediondo crime ambiental.
O jeito que dá bloquearmo-nos aos outros! 
E se (já agora), como afirmou o ex-Presidente da Câmara de Óbidos num rasgo de inspiração, num recente debate pretensamente direcionado para esta problemática*: “os centros históricos são gigantes adormecidos”, no caso de Santarém aplica-se, também, a frase imortal de um igualmente inspirado filósofo que o tempo, contudo, já esqueceu: “O sono é a antecâmara da morte”!

*Aliás, fazer um debate sobre o C.H e trazer como convidado este autarca para tecer considerações sobre medidas aplicáveis a Santarém (pois se não forem aplicáveis, não são para aqui chamadas) constitui mais uma das, atrás referidas, estratégias de faz de conta. Será que é preciso explicar porquê?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Fandangando


António Ceia da Silva, responsável pela Associação Regional de Turismo do Alentejo e (parte do) Ribatejo, revelou há algum tempo atrás, no Cartaxo, estar em curso a candidatura do fandango ribatejano a património mundial.
Na altura escrevei um texto de opinião em que considerava que “a divisão do Ribatejo por associações regionais de turismo (de que é, essencialmente, apêndice), recebe como compensações, este tipo de rebuçados que servem para comprar consciências e adormecer resistências; num processo administrativo de morte anunciada”.
Afinal, o objetivo primeiro é candidatar o “montado de sobro” a património da humanidade e, a candidatura do fandango, uma espécie de cenoura que se coloca à frente do burro para que ele siga na direção pretendida.
São, como se dizia aí, “as cenouras do nosso percurso muar”.

Falava-se também, a talhe de foice, do modismo das candidaturas; afinal uma forma relativamente fácil e eficaz de promover aspetos particulares da cultura tradicional.
Que, contudo, pela sua recorrência, desvaloriza os reconhecimentos entretanto conseguidos ou a conseguir. Afinal, este tipo de reconhecimentos só serão importantes se escassos e difíceis de alcançar. Tal como os milagres; só são relevantes se forem raros.

Seja como for e no que respeita à dita Candidatura, dela, só por si, não virá, com certeza, grande mal ao mundo.
Resta saber como é que o fandango vai preencher o requisito que a UNESCO obrigatoriamente exige: o do objeto de candidatura ter de ser um padrão cultural vivo.
De facto, para que seja reconhecido como património mundial será assim necessário,  (como, aliás, aconteceu com o cante alentejano) criar aquilo a que podemos chamar um simulacro vivencial. Algo que se possa vender como se de uma realidade ainda viva; mesmo que, algo moribunda, se trate.
Apesar do objeto de candidatura ser, agora, uma dança, com todas as implicações lúdico-sociais daí decorrentes. Suponho, assim, que conseguir convencer os técnicos da UNESCO de que o Fandango é uma dança ainda hoje viva é, com certeza, bem mais difícil.
Estou contudo a imaginar, que se vão criar iniciativas diversas que ponham as pessoas a dançar, nalguns casos sem indumentária tradicional, em ambientes reais e com menos preocupações formais. Tudo devidamente filmado, fotografado e mostrado; para UNESCO ver.

Contudo, o fandango ribatejano1 está morto e enterrado (leia-se fossilizado) há, sei lá, seis/sete décadas!
E, não só não ressuscitou desde então, como não ressuscitará com o processo de candidatura, tanto no pós como no durante.
Afinal aquilo que os agrupamentos folclóricos hoje fazem é apresentá-lo (como aliás as outras danças, cantigas, indumentárias e afins; do seu reportório), como simples reconstituições; resultantes de formas, quase sempre prosaicas, de pesquisa etnográfica. Dito de outra maneira; divulgam-no como simples referencial lúdico de memória1.
Importante, convenhamos, para a compreensão e difusão das nossas raízes culturais (pelo menos parte delas) mas, apenas isso.

Recentemente os patrocinadores da Candidatura propuseram ao Fórum Ribatejo o estabelecimento de uma parceria que passe por integrar na dita, elementos do Fórum, com a área relacionados.
Naturalmente os estudos que publiquei, há alguns anos, como o meu amigo Bertino Martins “Fandango; Raízes, disseminação e diversidade“, em 1992 e “Fandangos” em 2005, (afinal os únicos alguma vez publicados sobre a matéria) levaram a que fosse, igualmente, convidado.
Convite que agradeço mas, declinei, por uma razão muito simples: a minha natureza de investigador (se quisermos, académico) não é conciliável com a participação num projeto (supostamente um estudo) em que o rigor científico será, como se disse, inevitavelmente sacrificado, para que o resultado final possa ser embrulhado em roupagens de faz de conta!
O que é, como se sabe, uma subversão completa do pressuposto investigativo.

Esperemos, pelo menos que a dita candidatura consiga ultrapassar a exagerada estilização que enforma, ainda hoje, grande parte das respetivas representações ditas folclóricas.
E não constitua, afinal, a consagração (em memória futura) do erro e do equívoco!
Estilização, esclareça-se da qual podemos equacionar cinco situações/padrão que, no seu conjunto, fazem (em grande parte) da atual imagem pública desta dança, uma completa mistificação que, o estereótipo, paulatinamente foi construindo.
Cinco equívocos que (citando a obra “Fandangos”, atrás referida) “no seu conjunto, têm moldado o senso comum contemporâneo construído em volta de uma representação paradigmática do Fandango que, convenhamos, com as suas raízes ancestrais possui hoje, apenas, circunstanciais semelhanças”.
E quais são eles afinal?
- Em primeiro lugar, que o Fandango não é uma dança mas, sim, um tipo de danças!
Como acontece com qualquer dança ribatejana ou não, proliferam as variantes de fandangos por todo o Ribatejo,... por todo o país!
Fandangos dançados (noutros tempos) em roda, em par ou em quadra. A três por oito ou a dois por quatro. Expressando competividades explícitas ou não. Cantados ou não. Dançados individualmente, em pares ou em grupos. Com ou sem atributos de complexização coreográfica. Nas tabernas ou nos bailes. Nos campos ou nas “modas”.

- Em segundo, que à semelhança de muitas outras danças, igualmente vistas como regionais, o Fandango não é uma dança estritamente ribatejana! Como os viras não são só minhotos, os corridinhos não são só algarvios, os “bailaricos” não são só saloios, as "saias" não são só norte-alentejanas!
Existem fandangos em diversas regiões, principalmente na Estremadura e no Minho mas, também, nas Beiras, nas Ilhas e até no Alentejo. Existem, a jusante, inúmeros fandangos em Espanha. A montante, diversos no Brasil.

- Em terceiro, que o Fandango não é, como se poderia julgar, uma dança em que o canto esteja, necessariamente, ausente!
À semelhança do que era comum nos teatros lisboetas de setecentos (donde o mesmo proveio), muitas versões eram, normalmente, cantadas. Não só no Ribatejo (onde, embora não dominantes surgem, ainda, algumas versões) mas, tanto quanto se sabe ainda, na Estremadura e nas Beiras, e igualmente, como modelo usual em terras minhotas. Também no Brasil e em Espanha tal situação era/é frequente.

- Em quarto, que o Fandango no Ribatejo não era só dançado por homens mas, indiferenciadamente, por homens e/ou mulheres. Isto tanto no bairro onde (embora relutantemente) se foi há mais tempo aceitando, como na charneca ou na lezíria2. Como acontecia no Vale de Santarém, em Torres Novas, nos Riachos, no Pego de Abrantes, no Cartaxo, na Glória do Ribatejo, em Benavente, na Moita, na Azambuja, em Alcanhões, etc.,...

- Em quinto (e talvez, hoje, o mais importante), que o Fandango não era, como hoje se julga, uma dança de movimentos rígidos, invariáveis, quase hieráticos mas, pelo contrário, uma dança cujas variações se expressavam, essencialmente, a nível coreográfico.
Coreografias feitas de passes criativos e personalizados, imagem de marca de cada fandanguista e dependentes, em última instância, da criatividade, dinâmica e resistência física daqueles.
Paradoxalmente, a mais espontânea das danças ribatejanas, está hoje (em termos de representação), transformada num modelo coreográfico que se caracteriza pela hieratização quase absoluta. Sendo assim, curiosamente, a mais estereotipada.
E, adiante-se, mal estereotipada.
A tradicional sucessão de passos e contrapassos, que só tinha limite na originalidade e criatividade de cada um (e constituía um elemento basilar do vetor competitividade), é agora substituída por uma variante uniforme, cuja eficácia reside nas variações melódicas que o acordeão cromático proporciona e na rapidez da execução, obrigatoriamente breve e repetitiva mas, até por isso, enérgica e vibrante.

Seja como for, se a dita Candidatura aceitar, pelo menos, propor como candidato o fandango ribatejano na sua natural diversidade e não apenas o conhecido estereótipo, o Fórum Ribatejo tal como foi acordado, irá participar na mesma.
Para isso ficarem “indigitados” o Nelson Ferrão, o Ludgero Mendes e o Daniel Café que, embora cientes desta incongruência sentem, com certeza, que o seu contributo pode vir a constituir uma significativa mais-valia.
Até, porque na lógica algo perversa (mas usual), dos que “os fins justificam os meios”; a candidatura pode vir a constituir (como é normal nestes casos) uma oportunidade para divulgar e promover o fandango e, através dele, o Ribatejo.
Seja este, ou não, reconhecido.

2 - Situação que, por exemplo, não acontece com grande parte dos fandangos brasileiros entretanto transformados em danças (muitas vezes rituais) ligadas, a festas religiosas ainda existentes como as de São Gonçalo ou do Divino Espirito Santo. Em que, inclusivamente, servem propósitos operativos de pagamentos de promessas
2 – Desde que naturalmente não fosse dançado nas tabernas. Que, como se sabe, as mulheres não frequentavam.




quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A América de Trump

  Inquietações ao correr da pena 
 

A crise das assim chamadas democracias ocidentais, com a nova ordem económica e o surgimento de novas causas e valores como a ecologia, a multiculturalidade, as questões de género e de transgénero que os partidos tradicionais não representam mas cujas adesões ou rejeições são susceptíveis de capitalizar apoios por parte de personagens especialmente populistas, constitui um dos aspetos que explicam de alguma forma o, à primeira vista inesperado, resultado presidencial no E U.
Constituindo bandeiras de muitos, facilmente são usados como ódio de estimação de muitos outros: como um convite à insegurança, como um desrespeito pelos valores tradicionais, como obstáculo ao desenvolvimento económico, como fomento de indecências e, em última instância, como feira de aberrações.
E, afinal, sejam qual forem as ideologias que os partidos veiculem, as mesmas são, hoje, pouco mais que balizas enquadradoras de muito largo espectro.
São assim, cada vez mais, as personagens que ganham as eleições.
Como aliás se tem verificado recentemente na Europa e se verificou agora (de forma aberrante), na direita americana.
Provocando-se estados emocionais intensos e polarizadores, mesmo que apresentando programas bizarros e totais inexperiências.
Mas, pelo menos, diferentes do monocórdio discurso de quem nada tem, de novo, a dizer.
A não ser a repetida alternativa de nenhures.
Ora, encontram-se hoje, os EUA, ameaçados no seu estatuto de potência hegemónica mundial.
Se quisermos, cavalgando um ciclo de decadência económica e politica cujas consequências, a médio prazo, facilmente se advinham.
Não só por razões próprias mas pela emergência de novas economias (como a China) cujas condições de afirmação global são, afinal, bem mais eficazes.
Com cinco vezes a população dos Estados Unidos, mão-de-obra abundante e barata, não reivindicativa, sociedade estável, motivação empresarial e regulação económico-administrativa forte e inquestionada, esta usufrui de uma conjugação das vantagens da motivação ideológica e centralidade musculada marxista com as vantagens de um capitalismo despudorado, consumista e produtivo.
Neste momento é já a maior economia do planeta. A reivindicação de papéis correspondentes,  políticos e militares, suceder-se-á.
Afinal, como todos os impérios (atuais ou não) também este quer ser mais que uma potência regional. Que até aqui se tem limitado a manter um visível controle na sua área (dir-se-á natural) de influência. De que a Formosa e o Tibete são exemplos paradigmáticos.
Para os americanos a maneira mais fácil de explicar toda esta situação tende a ser encontrada em insuficiências internas. A radicalização de princípios e ações passa a ser, quase sempre, vista como opção justificável E justificada.
As culpas são, muitas vezes, atribuídas àquela parte da população que por particularidades étnicas ou mais tardia integração é vista como minando a anteriormente existente (ou, supostamente existente) homogeneidade nacional.
Com implicações claras; políticas e económicas.
Da primeira, emerge uma certa maneira de ver (não assumida, totalmente) que culpabiliza a multiculturalidade existente por qualquer coisa como a degeneração da raça; dos valores e capacidades nacionais.
Minorias como os muçulmanos são, também, vistas como potenciais de insegurança e inquietação; trazida agora para a vizinhança dos cidadãos.
Dirigentes vistos como eleitos por essas e outras minorias (ou fazendo, inclusivamente, parte das mesmas) são encarados como responsáveis maiores por uma inaceitável fraqueza de liderança interna com implicações externas.
Afinal, a ação moderadora de Obama, a sua maior flexibilidade política e militar e a melhoria de relações com inimigos ancestrais como Cuba, indispôs com certeza muita gente, principalmente da área conservadora.
Também do ponto de vista económico são naturalmente as minorias e a fracas lideranças que as toleram que, são encaradas, como criando condições para a situação existente.
Neste sentido, para lá das estapafúrdias posições face ao aquecimento global (visto como um obstáculo à livre industrialização), as violações da fronteira sul por contrabando de bens e pessoas, surge como algo que ameaça não só à economia, como impregna, cada vez mais, de latinidade corruptora, quem se reivindica (de alguma forma) de uma purista origem anglo-saxónica; contudo, convenhamos, historicamente sempre muito mestiçada.
Daí o apoio eleitoral da Ku Klux Klan.
Daí a pretensão de construir um muro para isolar os americanos do vírus corruptor mexicano. À semelhança do “muro de Berlim” de triste memória e do atual “muro de Israel”, sobre o qual pende uma cortina de silêncio.
Afinal, a arte de encontrar culpados alheios para culpas próprias ou não, constitui uma das mais úteis capacidades políticas. 
Até onde irão os devaneios xenófobos e discriminatórios de Trump?
De que forma tal virá a influenciar os diversos conflitos em que o país está envolvido?
De que maneira a questão segurança vai obcecar a sua ação?
Será que iremos assistir a uma nova “caça às bruxas”?
Na verdade, ensina-nos a história,  que poucas coisas são piores que um dirigente bronco e autoritário à frente de uma grande potência!
Afinal, o mesmo congrega valências populistas, nacionalistas e, pouco disfarçadamente, racistas.
O que é que isto nos faz lembrar?