A recente reação islâmica
às, assim consideradas, ofensas ao Profeta (que tem posto a ferro e fogo o
mundo muçulmano e levou à morte diversas pessoas), vem lançar de novo a
discussão acerca dos limites, ou não, da liberdade de expressão.
Membros de uma sociedade
hoje paladina de liberdades individuais mais ou menos consagradas, os europeus
tendem a sacrificar tudo à inalienável liberdade de opinião.
Esquecem-se que nem todos
os povos do mundo partilham dos nossos valores morais: eventualmente mais
avançados, longe de serem perfeitos.
Possuem outros que,
melhores ou piores (face à nossa avaliação ocidental), têm afinal todo o
direito a possuir!
É um facto que na Europa
prevalecem, naturalmente, as leis europeias. E nelas a liberdade de opinião
é-nos inquestionável.
Mas também é verdade que qualquer
coisa que façamos hoje, aqui, se reflete em qualquer parte do mundo.
O que levanta uma outra questão:
não devemos, então, exercer a liberdade de expressão apenas porque pode
provocar reações violentas, noutras partes do mundo?
Afinal, se tivéssemos seguido
esse princípio, ainda hoje o trabalho seria escravo, a mulher propriedade do homem,
as crianças tratados como investimento a longo prazo!
É um facto! E a questão
que emerge de tudo isto pode então ser assim formulada: independentemente do nosso
direito à liberdade de opinião, até que ponto é justificável criar situações
que sabemos irem provocar graves conflitos em muitas partes do mundo: com manifestações,
atentados, reacender de conflitos armados, mortos e feridos, diretos e indiretos?
Principalmente quando se
sabe que tais conflitos são não só previsíveis como quase inevitáveis?
Não será hipócrita refugiarmo-nos
nos nossos diretos inalienáveis para atacar aquilo que os outros consideram os
seus direitos inalienáveis? E provocar, gratuitamente, o reacender de tensões
naquele que é, hoje, o mais grave foco de tensão mundial?!
Será que não nos estamos
esquecer de nada?
Por exemplo, que a
liberdade exige correspondente responsabilidade!
Será que as “fitas” e “caricaturas”
(geradas com propósitos economicistas) justificam o agravamento do insuportável
clima de tensão que hoje se vive hoje no Mundo? Responsável, indireto, por
sucessivas guerras e dezenas de milhares de vítimas?
Ou será que estamos
convencidos que tais iniciativas estão a contribuir para um esclarecimento das
massas populares islâmicas?
Ou para o estabelecimento
de um clima de tolerância recíproca?
Em suma, não seria melhor
adotar aqui, sim, uma atitude ponderada e de bom senso?
Que evitasse, afinal, o
atual milagre da multiplicação de fundamentalistas islâmicos?!
PS – Esclareçamos uma
coisa: o islão, enquanto religião, não é, nem mais nem menos radical ou
intolerante que outras religiões como o cristianismo!
Como o cristianismo foi
durante séculos, pode contudo ser interpretado num contexto bélico de “guerra
santa”, que hoje serve de enquadramento ideológico a um choque civilizacional
bem dispensável. E em que nós estamos muito longe de estar isentos de culpas.
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