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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Culpas e razões



No início de 2016, em entrevista de fim de ano conduzida pelo Diretor do Correio do Ribatejo, tive oportunidade de afirmar, a propósito, que o afluxo de refugiados vindos do Médio Oriente e resultantes das guerras no Iraque e na Síria (que deram origem ao, assim denominado, Estado Islâmico), iriam agravar consideravelmente as ondas de choque culturais que se vinham desenhado na Europa.
“Para lá das questões de segurança (de ignotas consequências) mas sempre mais difíceis de gerir em sociedades multiculturais, existem depois os choques culturais; às vezes surdos, outros… ruidosos”.
Choques culturais que alguns municípios franceses incentivam, ainda mais, quando proíbem a “burka” e, agora, aquilo a que chamam o “burkini”; expressando de forma paradigmática a intolerância face à cultura islâmica. Algo que só tem paralelo na crescente islamofobia.
Portanto, este fluxo de refugiados, veio complexizar uma temática já particularmente sensível, mesmo antes dos últimos acontecimentos.
Aliás [como aí se lembrava], provenientes da Africa, afluem sistematicamente à Europa números incomportáveis de migrantes (grande parte muçulmanos) que aqui pretendem entrar”.
E aproveitando as deslocações populacionais que tais guerras provocaram e a, podemos dizer,
“consciência pesada europeia (foram, não o esqueçamos, as intervenções ocidentais na Síria e no Iraque que permitiram o esvaziamento de poder nas vastas áreas destes países, ocupados depois, pelos radicais islâmicos) o que explica a atitude de maior tolerância que a Europa tem mantido, em relação a estes últimos.
Tolerância que tem sido aproveitada por tudo o que é refugiado das atuais e anteriores guerras naquela zona. Não só sírios e iraquianos mas, igualmente paquistaneses, curdos e afegãos, por exemplo. Que tentam aproveitar a boleia.
Para eles é a oportunidade, há tanto tempo esperada, de chegar à Europa; preferencialmente aos países ricos do norte”.
Pela sua dimensão, pela sua natureza (famílias completas e componentes alargadas de clãs e tribos: logo, portadores de padrões culturais abrangentes) estes são grupos que, inevitavelmente, iriam agravar os, já de si complicados, imperativos de multiculturalidade e aumentar os riscos de segurança; independentemente de, na sua grande maioria, serem, naturalmente, pessoas moderadas e fartas da guerra.
Até porque, como aí se dizia,
“É possível que para os radicais islâmicos seja, igualmente, uma oportunidade a aproveitar. Oportunidade de conseguir colocar elementos seus nos países europeus que, de outra forma, teriam bem mais dificuldades em entrar e, principalmente, em permanecer”.
Apesar de, como também era lembrado,
“a sociedade multicultural já existir, e apenas se ir gradualmente incrementando. Para o bem e para o mal, o futuro será feito de sociedades cada vez mais pluriculturais”.
Deste modo pode dizer-se que as recentes ações e decisões verificadas na Europa apenas surpreendem pela precocidade. E, já agora, pelo manifesto radicalismo.
As coisas estão, ainda, piores do que pareciam!
E os guetos, que também se previam e cuja resposta à probabilidade da sua criação, defendia que, tal, era quase inevitável:
“Muito provavelmente: explícitos ou implícitos. A questão será se os mesmos expressarão, ou não, razões essencialmente institucionais. O que seria uma forma de segregação”,
estão, atualmente, a ser causa e razão de conflitualidades diversas entre populações francesas e refugiados; dando origem a uma inquietante radicalização de posições.
E para compor o ramalhete, o governo holandês acaba de tornar público um comunicado que rejeita o estado multicultural e faz a apologia dos valores e pressupostos culturais nacionais: numa iniciativa que (a fazer fé no que a história nos tem mostrado) não augura, afinal, nada de bom!

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