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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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sábado, 15 de outubro de 2016

Emoções e… manipulações



De vez em quando surgem, entre nós, causas sociais, vendidas como desígnios éticos e morais pelas agências internacionais de informação, geradoras de mobilizações de vontades quantas vezes sinceras, mas ingénuas.
É, de alguma forma, o que acontece hoje com a, assim denominada, “crise migratória”.
Aliás, a própria terminologia adotada é, desde logo, sintomática: pretendendo resumir a crise aos processos migratórios que a guerra ocasionou e desde logo, esquecer a natureza da mesma, bem como as condições que a geraram e deram origem à presente deslocalização das populações.
Porque fogem? De quem fogem?                         
Quem criou as condições que fomentaram a dita e proporcionou o aparecimento do Estado Islâmico: paraíso na terra de todos os radicalismos?
Brincando aos polícias do mundo, o Ocidente vende-nos tais conflitos como combates entre o mal e o bem.
O problema é que numa situação como a atual, em que as alianças mudam ao ritmo das alterações no terreno, inimigos de ontem, como o Governo de Assad, “radical” quando combatia as forças sírias pró-ocidentais, é hoje visto como aliado dito “governamental”, pois combate o Estado Islâmico em que muitas dessas forças (e as suas congéneres iraquianas) se transformaram. As tribos sírias que combatiam Assad e eram apodados de “rebeldes” e “guerrilheiros” são, hoje, em grande parte, “radicais islâmicos”. Os Curdos, são “guerrilheiros” quando combatem o dito E.I. e “radicais” quando combatem a Turquia; seu inimigo intemporal.
Seja como for, com a consciência algo pesada, as nações europeias vêm-se agora a braços com cenários  que, tradicionalmente, se verificavam longe das suas fronteiras. Que afetavam outras nações, suficientemente distantes para não constituírem problema nosso.
Mesmo que envolvendo situações abomináveis de miséria e repressão. E fosse qual fosse a nossa responsabilidade na matéria.
Agora calha-nos a nós.
A nós! O Éden, afinal, para grande maioria dos “países pobres do mundo”.
Que fugidos, neste caso, do inferno de crueldade e intolerância (que são afinal todas as guerras), estão dispostos a tudo e mais alguma coisa para aproveitar a conjuntura. De forma a serem aceites na Europa.
Até porque os países que atravessam não estão (naturalmente) interessados na sua permanência, nem em ver-se a braços com dezenas de milhares de refugiados em campos de refugiados nas suas zonas fronteiriças.
Conjugam-se, assim, os interesses que fazem desaguar fluxos cada vez maiores de refugiados muçulmanos no interior da Europa.
Corporizando, deste modo, mais um drama migratório, a juntar ao já nosso conhecido que, oriundo do norte de Africa, demanda, igualmente, a Europa.  
Populações, estas últimas, se possível, ainda mais pobres e mais abandonadas. Entregues a indivíduos sem escrúpulos, gastando os últimos tostões em superlotadas e deploráveis embarcações sem quaisquer condições de navegalidade.
Originando recorrentes tragédias em que centenas de pessoas (incluindo mulheres e crianças) perdem a vida nas águas do Mediterrâneo. Arriscando tudo em contentores selados; gerando mortes horríveis como aquelas que, recentemente, vieram a lume.
Ponta de icebergue de uma situação africana mais grave ainda: feita de guerras intermináveis e genocídios abomináveis. De limpezas étnicas, misérias e fomes.
Há longas dezenas de anos.
Mas que as agências noticiosas, pouco noticiam. A não ser, conjunturalmente, face a inolvidáveis episódios dramáticos acontecidos, já, próximo de nós.
Afinal, a morte de centenas de pessoas (todos os dias) no interior da África, de fome e subnutrição (quando não de epidemias ou genocídio organizado), não é infelizmente notícia, neste mundo!
Que fazer, então, com estes crónicos refugiados, fugidos da perseguição e tortura que, não tendo nada a perder, arriscam tudo (inclusive a própria vida e a dos seus) para chegar ao Hemisfério Norte.
Quem se preocupa com eles? Quem cria causas em seu favor?
Esquecemo-los, simplesmente (como vimos fazendo) apenas porque não fazem parte de causas badaladas?
Ou relativizamo-los por estarem, para já, mais longe de nós?
Ou por, em relação a eles, entendermos a nossa culpa como mais difusa e indireta?
Ou, já agora, por serem africanos?
Calculo que, por qualquer coisa, como uma perversa simbiose de tudo isto!

A evidência do ser




Sabe-se como muitos estudos sociais (nomeadamente os devidamente encomendados pelas instituições interessadas) constituem meros validadores e consagradores de evidências ou eventuais quantificadores das mesmas.
Está, neste caso, um estudo recente, noticiado pela Agência Lusa, e encomendado pela Presidência da República, que chegou à brilhante conclusão que cinquenta e sete dos jovens portugueses entre os 15 e o 24 anos “não demonstram qualquer interesse pela política”.
Não temos acesso aos resultados completos do mesmo, mas basta este item para vincar bem o conhecido desinteresse dos mais jovens (e, em grande parte, dos menos jovens) por uma atividade que, afinal, congrega a governação e deste modo tem condicionado o nosso passado e continuará a condicionar o nosso presente e futuro.
Porquê, então, os tais jovens não sentem ponta de interesse pela atividade politica?
Poder-se-ia dizer que se trata de um reflexo da imagem negativa dos políticos portugueses.
E não deixaria de ser verdade.
Mas esta verdade é afinal mais ampla.
Porque a política é vista, grosso modo, como a ação dos partidos.
Os partidos de poder, vistos como meros mecanismos de carreira. Oportunidade para competentes e incompetentes (mais, estes, que aqueles) tratarem do seu futuro.
Os da oposição, pequenos e utópicos, vistos como inconsequentes e ilusórios desperdícios de tempos e vontades.
Deste modo, se os jovens (por opção ou inadequação ao carreirismo politico) não são daqueles que buscam nos partidos de poder a sua cota parte de participação no dirigismo público político e empresarial e, ao mesmo tempo, não desejam embarcar em aventuras (que mesmo que defendendo causas, constituem atividades muita vezes estigmatizadas, não remuneradas e feitas de um inexorável percurso de derrotas), porque se hão-de, então, interessar pela política.
Não é com certeza pelo apelo à causa pública, em que já ninguém acredita e cujo enxovalho é quotidianamente noticiado em escândalos de corrupção e atitudes de indiferença pela pobreza e miséria que grassa no nosso país.
Cujos responsáveis são cada vez mais paus mandados de poderes políticos e financeiros externos.
Poderes tão cínicos como eles mas (se possível for) mais afastados ainda de uma eventual solidariedade com as condições de vida e os interesses do povo português.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Má sorte ter nascido




Basta olharmos para o nosso país numa perspetiva um pouco crítica (o que é, convenhamos, pouco frequente neste país de analfabetos funcionais) para parecer, às vezes (muitas vezes, diga-se de passagem) que vivemos, literalmente, num país de doidos!
Ou, se quisermos, de deficientes mentais, em fase de negação.
País em que, por exemplo, os primeiros-ministros se esquecem de pagar impostos.
E ministros e primeiros-ministros ganham licenciaturas na Farinha Amparo.
Em que os processos judiciais, por mais importantes que sejam, prescrevem, irremediavelmente, sem culpa formada
Onde empresas sólidas vão à falência, em pouco meses, sem ninguém ser responsável.
Em que modernos estádios de futebol (construídos, também, às nossas custas), não servem, hoje, sequer de galinheiros.
Em que o território se encontra retalhado por autoestradas que se cruzam e entrecruzam; numa teia viária em grande parte deserta.
Em que ninguém se apercebe do potencial turístico do património paisagístico, mas se aperceberam, rapidamente, do potencial fiscal.
Em que os corruptos obtém, quase sempre, folgadas vitórias eleitorais.
Em que, afinal, a corrupção é uma virtude e o egocentrismo uma qualidade.
E a boa educação e respeito pelos outros; sintomas, inequívocos, de insegurança.
Em que as leis não são para cumprir mas para potenciar as condições de coima.
Em que um selecionador de futebol tem de andar a “pedir por amor de Deus” para conseguir o mínimo de atletas para competir nos Jogos Olímpicos.
E, em contrapartida, damos o nome de um jogador (ainda por cima de caráter pouco exemplar) a um aeroporto internacional.
Um país em que oferecer prendas a um filho carece de comunicação às Finanças.
E comprar uma pastilha elástica de cinco cêntimos exige o preenchimento de uma fatura.
E neste hospício, à beira-mar plantado, parece assim (para nosso mais completo azar) que a única coisa que é eficaz, é o fisco.
Somos os melhores a cobrar cada vez mais impostos, a quem tem cada vez menos.
O desígnio sublime alcançar-se-á quando atingirmos, afinal, a eficácia absoluta: conseguirmos cobrar tudo a que já não tem nada!




Culpas e razões



No início de 2016, em entrevista de fim de ano conduzida pelo Diretor do Correio do Ribatejo, tive oportunidade de afirmar, a propósito, que o afluxo de refugiados vindos do Médio Oriente e resultantes das guerras no Iraque e na Síria (que deram origem ao, assim denominado, Estado Islâmico), iriam agravar consideravelmente as ondas de choque culturais que se vinham desenhado na Europa.
“Para lá das questões de segurança (de ignotas consequências) mas sempre mais difíceis de gerir em sociedades multiculturais, existem depois os choques culturais; às vezes surdos, outros… ruidosos”.
Choques culturais que alguns municípios franceses incentivam, ainda mais, quando proíbem a “burka” e, agora, aquilo a que chamam o “burkini”; expressando de forma paradigmática a intolerância face à cultura islâmica. Algo que só tem paralelo na crescente islamofobia.
Portanto, este fluxo de refugiados, veio complexizar uma temática já particularmente sensível, mesmo antes dos últimos acontecimentos.
Aliás [como aí se lembrava], provenientes da Africa, afluem sistematicamente à Europa números incomportáveis de migrantes (grande parte muçulmanos) que aqui pretendem entrar”.
E aproveitando as deslocações populacionais que tais guerras provocaram e a, podemos dizer,
“consciência pesada europeia (foram, não o esqueçamos, as intervenções ocidentais na Síria e no Iraque que permitiram o esvaziamento de poder nas vastas áreas destes países, ocupados depois, pelos radicais islâmicos) o que explica a atitude de maior tolerância que a Europa tem mantido, em relação a estes últimos.
Tolerância que tem sido aproveitada por tudo o que é refugiado das atuais e anteriores guerras naquela zona. Não só sírios e iraquianos mas, igualmente paquistaneses, curdos e afegãos, por exemplo. Que tentam aproveitar a boleia.
Para eles é a oportunidade, há tanto tempo esperada, de chegar à Europa; preferencialmente aos países ricos do norte”.
Pela sua dimensão, pela sua natureza (famílias completas e componentes alargadas de clãs e tribos: logo, portadores de padrões culturais abrangentes) estes são grupos que, inevitavelmente, iriam agravar os, já de si complicados, imperativos de multiculturalidade e aumentar os riscos de segurança; independentemente de, na sua grande maioria, serem, naturalmente, pessoas moderadas e fartas da guerra.
Até porque, como aí se dizia,
“É possível que para os radicais islâmicos seja, igualmente, uma oportunidade a aproveitar. Oportunidade de conseguir colocar elementos seus nos países europeus que, de outra forma, teriam bem mais dificuldades em entrar e, principalmente, em permanecer”.
Apesar de, como também era lembrado,
“a sociedade multicultural já existir, e apenas se ir gradualmente incrementando. Para o bem e para o mal, o futuro será feito de sociedades cada vez mais pluriculturais”.
Deste modo pode dizer-se que as recentes ações e decisões verificadas na Europa apenas surpreendem pela precocidade. E, já agora, pelo manifesto radicalismo.
As coisas estão, ainda, piores do que pareciam!
E os guetos, que também se previam e cuja resposta à probabilidade da sua criação, defendia que, tal, era quase inevitável:
“Muito provavelmente: explícitos ou implícitos. A questão será se os mesmos expressarão, ou não, razões essencialmente institucionais. O que seria uma forma de segregação”,
estão, atualmente, a ser causa e razão de conflitualidades diversas entre populações francesas e refugiados; dando origem a uma inquietante radicalização de posições.
E para compor o ramalhete, o governo holandês acaba de tornar público um comunicado que rejeita o estado multicultural e faz a apologia dos valores e pressupostos culturais nacionais: numa iniciativa que (a fazer fé no que a história nos tem mostrado) não augura, afinal, nada de bom!