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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Taumatúrgico e casamenteiro : Santo António e as conceções solsticiais

De acordo com a conceção mítica tradicional, o Mundo, dotado que é de uma natureza entrópica inexorável, corrompe-se periodicamente e morre. Carecendo, portanto, de ser recriado. Dando assim corpo, ao que chamamos o tempo cíclico (anterior ao tempo histórico que hoje vivemos) que todos os anos se acredita esgotar e diluir no limbo primevo. Que todos os anos nasce de novo; regenerado e recriado. Por isso, os fins dos anos foram, durante milénios, vistos como “fins dos mundos” e estes, por seu turno, encarados como espaços temporais de morte e recriação. Para isso, os deuses criadores se tornarão, com o tempo, elementos sacrificiais e, o seu sacrifício, condição necessária de recriação e salvação. Por isso, tradições populares exóticas e subversivas (algumas, ainda existentes), celebravam os “fins dos anos” enquanto representações simbólicas dos “anos velhos” que passavam. Envergando máscaras que representavam o velho e decadente e/ou sendo portadoras de variados símbolos de regeneração. Ou criando lutas rituais entre personagens solsticiais simbolizando “o velho” e “o novo”, o corrompido e o rejuvenescido, o inverno e o verão, o pecaminoso e o puro. Na verdade, muitas das nossas tradições assentam nesta raiz ancestral, frequentemente pré-cristã, que celebra ciclicamente os fins dos diferentes períodos anuais, gerando festas diversas, caraterizadas pela rotura e pelo excesso. Em que predominam os tais símbolos de transição e transformação: máscaras, transvestismo, inversões sociais, subversões, fertilidades regenerações. Que “os tempos entre os tempos” , funcionalmente, induzem. Por isso, os momentos solsticiais são, ainda hoje, ocasiões em que se celebra o ciclo de vida. A nova vida que irrompe da morte; no solstício de inverno. O apogeu da vida, no solstício de verão: clímax, que é, da dominação solar e da fertilidade imanente da natureza. É assim, este último, tempo da celebração festiva da vitalidade que a primavera induz: de uma natureza, afinal, grávida de vida. Por isso os santos, aí comemorados, se impregnam do poder fecundante e criador, na altura celebrado. E se no Solstício de Inverno será colocada a celebração do nascimento de Cristo (enquanto cristianização do natal de Mitra), São João que, segundo o calendário solsticial nasce seis meses antes (condição condizente com o modelo arcano solsticial), vai ser, dir-se-á naturalmente, o percursor, o anunciador: aquele que vem “preparar o caminho do Senhor”. Aliás, na construção do mito cristão, a figura de São João Baptista, embebe-se de um simbolismo solar indubitável. Nasce segundo o ciclo solsticial, atinge a apoteose do brilho no auge da pregação, assinala com o batismo o seu sucessor a quem passa o testemunho do poder e se assume como servidor (o tal de “quem nem é merecedor de desatar as correias das sandálias”), correspondendo, portanto, à entronização de um novo rei. Finalmente, findo o seu tempo, degenera e morre, para permitir a anunciada ascensão da nova divindade, do “novo sol”; Jesus Cristo! Dando assim origem, à prodigiosa “noite de são João”. Em que a natureza é sagrada e se reveste de prodigiosas qualidades. Sejam as águas, as plantas ou árvores, o orvalho ou os rios, o fogo ou o fumo, as flores ou as searas. Em que, em tempos idos, decorriam flamejantes cortejos luminosos, se dançava e cantava nos bosques em redor de árvores ou, com o mesmo propósito, se transportavam, as mesmas, para os largos das aldeias. Em que se realizavam orgias sagradas. Em que os banhos eram “santos”. O orvalho, “benfazejo”. O fogo, purificante. E se defumavam casas, gados e pessoas. Em que se queimava a alcachofra e a “erva pinheira”. Acto de adivinhação e propiciação que, este tempo, permitia acontecer. Em que as pessoas se mascaravam e trasvestiam, se invertiam situações sociais, económicas e de género. Se roubavam flores, carros de bois e cancelas. Se desencadeavam pantominas subversivas como, a ainda hoje sobrevivente, “bugiada” do Sobrado, no concelho de Valongo. Daí as particularidades que São João adquire e o tornam santo casamenteiro. Das quais Santo António e São Pedro irão, igualmente, beber. Mas, este último, relacionado com uma iconografia sénior, apresenta traços iconológicos que, em termos populares, o afastam, da matriz sentimental. São Pedro por ser velhinho Deve ter muito juízo Por isso Deus lhe entregou A chave do Paraíso! Afinal, os santos casamenteiros são sempre, iconograficamente, jovens: susceptíveis de uma mais fácil identificação com a função sentimental que desempenham. Serão, assim, São João e Santo António que, essencialmente, irão partilhar da licenciosidade namoradeira que é própria de um santo casamenteiro que se preza. Daí as similaridades na poesia popular. Percebe-se que os dois santos, se revelam como expressões semelhantes de uma mesma hierofania. Ambos são casamenteiros, brejeiros e mulherengos, patronos dos gados domésticos e, estão ligados, direta ou indiretamente, à problemática, sempre latente (e neste caso particularmente abrangente), das curas milagrosas. Para lá da invocação geral que muitos “ensalmos” populares comprovam um pouco por todo o país, os dois possuem áreas de intervenção taumatúrgicas, especialmente alargadas e diversificadas. Pode assim dizer-se, que a popularidade de António, o “santo menino”, resulta tanto da referida conexão astral como, igualmente, de uma multifacetada taumaturgia que, numa hagiologia especialmente rica e a sua natureza de santo português, cultualmente promovido pela capital, vai consolidando. Pode, aliás, dizer-se, que todos os santos casamenteiros são populares. Apresentando-os como mulherengos e bons garfos, como qualquer homem da nossa sociedade tradicional, os cancioneiros locais refletem na sua caracterização, laivos de companheirismo e, algumas vezes até, irónica e insólita camaradagem! Onde mora Santo António Que o quero para vizinho Mora para lá da ponte Para cá do ribeirinho. Camaradagem que facilmente resvala para atitudes de relação face-a-face que a “imagem” permite, assim ocasionando (nalguns casos) confrontações várias, algumas revelando, até, ostensivas manifestações de desagrado. Afinal, o contrato oral com o santo (mesmo que intimista) à semelhança daqueles que eram comuns nos negócios desenvolvidos nas sociedades tradicionais, acarretam uma obrigação contratual recíproca. Assumida pelo crente no ato de prometer e pelo santo, implicitamente dir-se-á, pela sua natureza de protetor daquela área e, afinal, por não ter rejeitado a mesma. No entanto, se o santo não concede a graça ou a mesma demora, a insatisfação individual ou coletiva poder-se-á tornar particularmente visível. E se, supostamente concedida, evoluções posteriores vêm a revelar recaídas diversas, então a irritação pode eclodir e levar a ações de desagravo ou retaliação desenvolvidas, ostensivamente, sobre as suas “imagens”. E, nesse aspeto, Santo António pela sua familiaridade, muitas vezes comunitária, adquire papel saliente. Vieira Natividade, por exemplo, relata, em Alcobaça, um insólito episódio em que Santo António é até, literalmente, esbofeteado por uma rapariga claramente frustrada no seu desígnio amoroso. Outros, bem mais comuns, emergem de um ideário particularmente pitoresco em que como castigo ou mera coação se costumam (atente-se) mergulhar as imagens dos santos em água. Leite de Vasconcelos, por exemplo, relata uma situação observada, no Porto, em que uma família tinha colocado uma imagem de Santo António num poço com a cabeça para baixo, por não ter atendido uma prece. Também em Alcobaça se fazia o mesmo, por razões semelhantes, com a “imagem”, atrás referida, do mesmo Santo António. Ou, ainda, em Serpa em que as raparigas, que tardavam em casar, costumavam suspender o santo por uma corda (igualmente de cabeça para baixo) mergulhando-o num poço, até que se efetuasse o casamento. Afinal, as divindades, sejam elas de que natureza forem (empíricas ou refletivas) mais não são, poder-se-á dizer, que arquétipos de uma sociedade transfigurada e entendida simbolicamente. Mas não só os santos ditos populares (de impregnação solsticial) possuem atributos sentimentais e fecundantes. A exemplo de São Valentim, cuja hagiologia pouco sustentável o localiza no século III D.C, e o apresenta como um sacerdote cristão que, “por acreditar muito no Amor e valorizar o casamento e a família”, teria sido morto pelo imperador Cláudio II, que teria proibido os casamentos. Se atentarmos a que este é o período em que os teólogos cristãos desaconselham, eles sim, o casamento e a as relações carnais, desvalorizam a mulher e chegam até a defender a santificação das virgens e a proibição dos casamentos a todos os cristãos (de que o celibato atual é resultado de um compromisso possível) podemos aferir da sustentalidade de tal ideário. Aliás, São Valentim, apenas a partir de 1840, na Inglaterra vitoriana (quando as formas de sedução adquirem contornos de sofisticação mundana) adquiriu importância que, hoje, a sociedade de consumo, tornou numa mais oportunidade de consumo. Diferente é São Gonçalo; afinal um reconhecido especialista na matéria. Santo que incorpora intensos atributos operativos de antigas e ignotas divindades fecundantes, delas subsiste o conjunto escultório denominado “o diabo e a diaba” (representando antigas potências sexuais) aos quais os devotos de São Gonçalo, ancestralmente, solicitavam tais graças. Afinal, destas entidades, herdou o santo a capacidade de “casar velhas, feias e prostitutas”: situações particularmente difíceis que requerem intensas valências fecundantes. Delas, parece ter, ainda, herdado os famosos bolos fálicos que, hoje, inícios do século XXI, continuam a ser vendidos e até expostos face à liberalidade atual de tempos e modos. Mas o irreverente lascivo é aqui, ainda, mais diversificado. Rapariga encalhada que vá às festas de São Gonçalo e deseje casar, deve puxar, três vezes, o cinturão da “imagem” do santo. Caso não o faça, corre o risco de nunca casar! Indo, assim, engrossar o clube das tias crónicas e solteironas. Apesar de beato (cujo culto, afinal, só foi reconhecido na Diocese de Braga e entre os dominicanos) São Gonçalo é particularmente popular no Minho mas, igualmente, em cidades onde existiam mosteiros ou igrejas dominicanas. E embora não tendo, nunca, uma intensa e homogénea penetração nacional, o mesmo irradiou, depois, para outras localidades principalmente do norte do país. Chegou, ainda ao Brasil onde adquiriu novas funcionalidades e ainda hoje permanece como um dos mais importantes cultos populares em grande parte dos estados brasileiros. É aí chamado de “santo de viola” e possuidor de uma iconografia que evoluiu, frequentemente, para contornos literalmente profanos. Preservando-se aí, o assim chamado, “baile de São Gonçalo” ou “dança de São Gonçalo”, onde os devotos, em espaços particulares e frente a um improvisado “altar do santo” vão, de forma ritual (prescrita e orientada) cantar e “dançar para o santo” pagando assim, hoje como ontem, as respetivas promessas. Poder-se-á dizer, então, que, na Europa, os “santos casamenteiros” resultam de duas e diferenciadas causalidades. Ou participam das valências fertilizantes de uma temporalidade solsticial estival (como São João ou Santo António e, apesar de tudo, São Pedro) ou resultam da substituição sincrética de um culto local fertilizante/fecundante; como São Gonçalo. Ou ainda, se quisermos, de uma interpretação hagiológica muito peculiar; tornada referencial sedutor de classes superiores; como São Valentim. Em termos históricos (ou pelo menos historicizados) Santo António de Lisboa (onde terá nascido a 15 de Agosto de 1191/5), também conhecido como Santo António de Pádua, (onde morreu a 13 de junho de 1231), de sobrenome incerto mas batizado como Fernando, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII. Primeiramente foi frade agostinho no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa. Tornou-se franciscano em 1220 e, no ano seguinte, fez parte do Capítulo Geral da Ordem em Assis, a convite do próprio Francisco de Assis: que o convidou, também, a pregar contra os albigenses. Foi transferido depois para Bolonha e de seguida para Pádua, onde faleceu: para uns aos trinta e seis, para outros aos quarenta anos. A sua fama de santidade levou-o a ser beatificado pela Igreja Católica pouco depois de morrer, distinguindo-se como teólogo, místico, asceta e sobretudo como notável orador e grande taumaturgo . Situação que a lenda releva no conhecido “sermão de Santo António aos peixes”. António é, de facto, tido como um dos intelectuais mais notáveis de Portugal do período pré-universitário. Possuía uma sólida cultura, documentada pela coletânea de sermões escritos que deixou, onde fica evidente que estava familiarizado tanto com a literatura religiosa como com diversos aspetos das ciências profanas. Segundo a lenda, que a hagiologia perpetuou, nasceu e viveu em Lisboa e lá ajudou a concretização de muitos casamentos felizes e orientou muitos homens e mulheres para encontrarem o cônjuge que iriam amar até o fim da vida. Seus auxílios e intercessões aos namorados e noivos teriam, então, despertado uma grande devoção popular entre os portugueses. Devoção que os seus milagres, os seus escritos e a sua reconhecida intercessão sentimental, há séculos, alimentam. Protetor nas viagens, libertador de presos, achador das “coisas perdidas”, dissipador de trovoadas, Santo Antônio é especialmente conhecido como padroeiro dos casais e dos namorados, dos doentes e das mulheres grávidas e dos pobres. Tais abrangências milagrosas (principalmente as sedutoras), envolvem-no em peculiares quadras amorosas , donde participam oferendas de manjericos, fontes, “bilhas partidas” e seduções de moçoilas numa particularmente fértil hagiologia popular. Mais frequentes enquanto loas joaninas, surgem também, frequentemente, na poética popular relativa a Santo António. Santo António, n’esta fonte De águas claras e amigas Quantas vezes consertastes As bilhas às raparigas? No Brasil, entre muitas outras funções, Santo António, especializou-se em fazer as pazes entre os casais desavindos. Parafraseando uma ação ritual, também comum em Portugal (aqui, contudo, mais como conciliação que reconciliação), para isso, se usa um cravo e uma rosa. Os talos devem ser amarrados juntos com uma fita verde, na qual serão dados treze nós. Durante o procedimento, o devoto deve acreditar, naturalmente, que Santo António vai uni-los outra vez. Hoje as festas de Santo António em Lisboa (e também por razões miméticas noutras zonas do país), são especialmente conhecidas pelas, já tradicionais, “marchas populares”. Há pouco tempo surgiam, ainda, as fogueiras, acesas nos largos ou ruas dos bairros alfacinhas, bem como das aldeias e vilas deste país, enfeitados a preceito com luminárias e papéis, ramagens e flores, enquanto estralejavam as bombas e assobiavam as “bichas de rabiar”, entre gritos de alegria e interjeições de admiração de crianças e adultos . E o lúdico, mágico e purificador, emergia então, pujante, quando a chama da fogueira se utilizava para “queimar as alcachofras” ou quando, o fumo, era utilizado para “defumar” pessoas e animais . Saltar à fogueira constitui, na verdade, um ato mágico de fertilização; em que o calor e a luz, expressões operativas do poder solar, vão energizar potências fecundantes em futuras ligações sentimentais. Do fundo dos tempos chegavam-nos ainda costumes (que aliavam as virtudes exorcísticas da vegetação ao poder fecundante das fogueiras) de espetar tições nas leiras dos pomares e hortas, de forma a impregná-las de poder fecundante e potenciar assim, ainda mais, a magnanimidade da Terra-mãe. Pois, saúde e fecundidade (condições necessárias de fertilidade) constituíam, como vimos, a dicotomia presente na simbologia flamejante da fogueira solsticial. Herdeira dos antigos cortejos de fogo; hoje presente nas luminárias (já não flamejantes, mas eletrizantes) dos arcos florais e ornamentais. Fogueiras celebrando o apogeu do sol (no cimo dos montes ou no centro da aldeias): centros e “umbigos do mundo”, afinal! Centralidades que o “mastro”, “pinheiro” ou “carvalho de São João” ou o “mai pole” das calendas de Maio (de temporalidade céltica) tão claramente simbolizavam. Ou encarnavam, um pouco por toda a Europa, em personagens florais ou efigies antropomorfas (verdadeiros espíritos da vegetação) como os “maios-moços”, o “Jorge Verde” da Caríntia e da Rússia ou o “Jack The Green” das Ilhas Britânicas. Que, em Portugal, nos surgem já em Gil Vicente, mais precisamente no Auto da Festa: San Juan Verde, passó por aqui Quan garradiço, o vi venir Efigies antropomorfas que persistiram até recentemente nos bonecos queimados na fogueira ou nos pinheiros e “mastros” associados. Imolados pelo fogo num contexto mítico/ritual de morte/renascimento. Ou até nos “tronos de santo António”; criativas consagrações rituais de uma devoção popular . Espécie de relicário familiar trazido para um espaço público; de forma a expressar publicamente a respetiva devoção e afirmando a religiosidade comunitária individual e familiar. Que, como todas as iniciativas populares tradicionais (nomeadamente de natureza sagrada como o “pão por Deus” ou o “tostãozinho p´rá maia” ou das solicitações de dádivas nas “cantigas dos reis”, do natal ou do ano novo) também se vieram a traduzir no “tostãozinho p`ró Santo António”, sendo as crianças os sujeitos da ação como, com certeza, formaram cada vez mais os elementos motivadores e sustentadores da mesma. E finalmente pelos “arraiais” que, em Lisboa, assentavam e ainda assentam nas organizações de vizinhos que os pátios consubstanciam (hoje, naturalmente, turistificados), onde se come, canta e dança e se desenvolvem atitudes licenciosas e sentimentais. E, sempre, a presença da natureza! No caráter esconjuratório dos “alhos porros”, preservados até recentemente no Porto e hoje substituídos pelos simpáticos martelinhos. Nas quadras populares propiciatórias e nos manjericos (plantas aromáticas sensíveis e cheirosas, que têm de ser regadas para crescer e florescer; como o amor afinal) e que se encontram, neste tempo, especialmente verdejantes. Mas cujo cheiro só resulta do toque pessoal e íntimo e, deste modo, se não difunde, facilmente, pelos outros. E a relação popular como o santo é de tal maneira próxima que, antigamente em Lisboa, no seu dia, se entregavam formalmente a Santo António, oficiosas petições em que se lhe pedia toda a sorte de coisas, mesmo as mais ilícitas, e que {atente-se} eram escritas em papel selado, por “escrivães públicos, instalados nas vizinhanças das igrejas”. E se podemos dizer que “todos falamos com Deus e com os santos, mas que, o prodígio, que faz o milagre, está em Deus falar connosco”, a relação popular com Santo António, levava até, algumas vezes, por paradoxal que seja, a uma resposta escrita e endereçada, assinada, nem mais nem menos, que pelo punho do santo! Exemplo mais acabado de tentativa de apropriação institucional das qualidades taumatúrgicas de santos, por definição populares, será difícil encontrar.

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