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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ponderar o Ribatejo


Revestiu-se do maior interesse, o debate organizado, sábado, dia 18, pelo Forúm Ribatejo e pelo Correio do Ribatejo, destinado a reflectir de forma clara e sem tabus sobre o passado próximo e o presente de Ribatejo bem como sobre as suas previsíveis evoluções futuras.
Segunda iniciativa do género, esta insere-se num projecto de debates regionais a realizar em diversos concelhos da região, com organização endógena e subordinados a problemáticas regionais e locais.
O aproveitamento do capital turístico e do lazer das zonas ribeirinhas, foi o tema da discussão realizada em Maio, no Patacão, em Alpiarça.
A conservação e promoção das paisagens do Vale do Tejo e zonas limítrofes (desde a “lezíria” à “serra”, passando pela “charneca” e o “bairro”) será temática a discutir, a 30 de Outubro, em Rio Maior.
Apesar de estar uma prazenteira tarde de sábado, a convidar outros espaços, o espaço do Forúm Mário Viegas agregou algumas dezenas de convidados interessados em ponderar o Ribatejo e ouvir os oradores (também convidados) Carlos Guedes de Amorim, Francisco Moita Flores, Luísa Mesquita e Paulo Fonseca, despidos (temporariamente) de cargos e funções partidárias.
Foram assim discursos, grosso modo, menos formais e institucionalizados. Menos feitos para audiência ouvir e jornalistas registarem. Mais próximos da compreensão de uma realidade multifacetada e heterogénea, na qual se cruzam interesses diversos, legítimos ou não, justificados ou não.
Consonantes foram as críticas à divisão artificial do Ribatejo que enfraquece decididamente a sua capacidade de influenciar futuras decisões regionais. À marca Tejo e a uma visão estereotipada das identidades nacionais. A uma visão megalómana do desenvolvimento urbano, preferindo as grandes infra-estruturas e o crescimento em altura, ao crescimento harmonioso condição, afinal, de qualidade de vida.
Consonantes, ainda, as percepções de que o Ribatejo possui, apesar de tudo, potencialidades que importa relevar e promover. A capacidade patrimonial e turística das paisagens ribatejanas, o património monumental, o turismo religioso, a fertilidade agrícola, a sua situação de charneira rodoviária nacional, e uma identidade (ou se quisermos um conjunto de identidades) específicas e marcantes.
O que nos leva a pensar se o problema do Ribatejo não são, vistas bem as coisas,… os ribatejanos!
Aurélio Lopes

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Capitalidades

Recentes proximidades com entidades museológicas ribatejanas, têm-me feito descobrir (e, nalguns casos, redescobrir), uma realidade cultural a que não tem sido dado o devido valor.

Instituições não sediadas em grandes cidades, nem ligadas à grande monumentalidade, mas cada vez mais conformes as modernas exigências da museulogia. No importante material exposto (fruto de novas e velhas pesquisas), nas formas inovadoras de exposição, nos rigores interpretativos e classificatórios e, ainda, cada vez mais, na importante vertente pedagógica, lançando mão, inclusive, da dimensão virtual.
Etnográficos como o Museu do Vinho do Cartaxo, o Museu Rural dos Riachos, o Museu Etnográfico da Glória do Ribatejo, o núcleo museulógico de São João da Ribeira ou o Museu Sebastião Arenque da Azambuja. Ou, ainda, museus municipais de forte vocação arqueológica, à semelhança dos de Coruche ou de Mação.
Todos, à sua maneira, preciosos. Que, aliás, nos fazem reflectir, a propósito, acerca da conhecida analogia das “pérolas” e dos “porcos”!

A não existência de uma simbiótica sincronia promocional entre estas e outras instituições similares (situadas em cidades como Santarém, Tomar, Torres Novas, etc.,…) e as diversas entidades turísticas regionais (tenham elas o nome que tiverem), num contexto patrimonial mais vasto que englobasse, igualmente, a monumentalidade ribatejana, as diversificadas paisagens da região, o património mais ou menos intangível, as festividades cíclicas e o turismo religioso cada vez mais importantes (enquadrados todos eles, naturalmente, na matriz tejana), é lacuna cada vez mais visível e evidente!

Por outro lado, a inexistência em Santarém (capital de distrito e pretensa líder regional) de um museu etnográfico veiculador das matrizes culturais regionais, é incongruência que salta à vista do mais distraído!
A tentativa frustrada da criação do Museu Distrital que, ainda hoje, tanto quanto sei, conserva armazenadas peças sem destino nem futuro, constitui apenas mais um episódio de uma capitalidade marcada pela ineficácia de décadas.
Imagem, afinal, do Ribatejo que temos!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Medo e vergonha

A queixa por maus tratos domésticos por parte do companheiro, feita por Isaura Morais, actual Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, constitui um episódio que marcou a agenda noticiosa regional nos últimos dias.
A explicação da autarca para só agora ter denunciado uma situação não recente (só agora “senti que tinha apoio para isso”) surge-nos como particularmente significativa e sugere, afinal, todo um mundo, oculto, de vergonhas, medos e incompreensões.

Estamos a falar de uma pessoa instruída, casada em primeiras núpcias com um antigo vereador, Presidente da Junta de Freguesia de Rio Maior, candidata vencedora e actual Presidente do respectivo Município.
Não, propriamente, da Ti Maria das Dores, camponesa e analfabeta, residente em Carquejais no interior, mais remoto, do concelho de Sátão.
E, mesmo assim, só agora a mesma “sentiu que tinha apoio” para tomar uma atitude que, em Portugal, ainda é (e não deveria ser) um acto de coragem!

Porque a lei não protege, nestes casos, convenientemente, as vítimas!
Porque a sociedade não compreende muitas vezes a reacção das mesmas, olhando-as como alguém “coitadas”, que “tiveram azar na vida”, mas a quem, agora, só resta sofrer, de preferência em silêncio, “ganhando assim (definitivamente), o céu!”
Porque as autoridades não encaram conveniente a situação, desvalorizando-a e desencorajando as denúncias, dentro da tal asserção popular (que também enforma a anterior perspectiva social) que “entre marido e mulher não se mete a colher”.

Não admira, assim, que embora sujeitas a agressões diárias e continuadas, mesmo as vítimas pertencentes a classes sociais mais elevadas tenham muitas vezes dificuldades em obter “apoio” para tal decisão: apoio moral, social e, quantas vezes, de segurança e integridade física!
Que tenham dificuldade, afinal, em reivindicar um dos mais básicos direitos individuais; o direito à protecção contra a violência, explícita e interminável, seja ela de que natureza for e venha de onde vier!

sábado, 26 de junho de 2010

Morreu José Saramago


Morreu José Saramago!
Personagem controversa, constituía, contudo, a mais importante figura da actual literatura de língua portuguesa.

Figura que, para uns, era um mal disposto crónico, plasmado das certezas que o marxismo induz. Para outros, uma pessoa de ideias próprias, sem paciência para um mundo onde domina a lógica de rebanho e a ilusão do faz de conta.
Para uns, alguém que desmistificando mitos ancestrais, não receou enfrentar a toda-poderosa hierarquia católica. Para outros, alguém que se serviu de uma imagem conveniente de “anti-cristo” para potenciar, ainda mais, a promoção das suas obras.

A sua morte lançou mais uma vez a polémica!
Para alguns, o Estado não soube separar diferentes (mas naturais) visões do Mundo, do facto incontroverso de se tratar de um dos poucos portugueses de dimensão mundial. “Anti-fachista” e personalidade de inegável sentido de justiça social.
Outros, argumentam com a sua perspectiva totalitária e com o facto de “não ser um democrata” e “defensor, inequívoco, da liberdade”.

Todos, naturalmente, absolutamente convictos da sua verdade! Sem perceber, aliás, a relatividade das coisas!
Afinal, a liberdade permite e fomenta a desigualdade e pode reduzir a justiça social a níveis, muitas vezes, incipientes.
Já a limitação da mesma (chamemos-lhe assim), embora possa impor níveis de justiça e equidade maiores, acarreta formas de imposição e coerção que tolhem e oprimem a autonomia individual.

O ideal seria viver numa sociedade, simultaneamente, mais justa e mais livre!
Enquanto isso não acontece, vamos defendendo sistemas políticos que impõem coercivamente a justiça social ou permitem, livremente, discriminações e desigualdades várias.

Sem que, em qualquer dos casos, nos possamos vangloriar dos mesmos constituírem um ideal simultaneamente sublime e realizável.
Pelo menos, inequivocamente sublime e inequivocamente realizável.


Aurélio Lopes

A esfinge tejana


Do alto da colina, em atalaia, a esfinge, intemporal, observa a planície a seus pés!
- O grande rio, matriz genética da Região, cuja vestuta idade exigiria bem mais respeito.
- As aldeias avieiras do Patacão, das Caneiras e da Palhota, imagens paradigmáticas de um património turístico-cultural desprezado.
- A zona ribeirinha de Santarém, cuja recuperação se projecta numa eternização futura.
- O Palácio da Rainha, na Azambuja, provavelmente o maior desperdício de turismo fluvial do país.
- Os incontáveis e estivais festivais de folclore. Recorrentemente, cada vez mais “festivais” e, menos, “de folclore”!
- A persistência, difícil, da festa brava. Fruto de conflitos entre as razões da tradição e os imperativos de modernidade.
- A anacrónica divisão administrativa do Ribatejo; criação inolvidável dos inúmeros e antagónicos lobbys políticos. Responsáveis, afinal, pela actual situação de apêndices regionais da Grande Lisboa e agora, até, do Alentejo.
- Uma prosaica classe política; maioritariamente amorfa, egoísta e incompetente.
- O cheiro peculiar do Alviela, cuja problemática odorífera flutua entre uma excessiva quantidade de dejectos, uma excessiva insuficiência de água e uma excessiva (e particular, dir-se-á) sensibilidade dos seus peixes.
- A Feira Nacional da Agricultura, cada vez menos nacional e em que, apenas, as atracções circenses vão mantendo um populista simulacro de grandeza!
E enquanto o mundo, em seu redor, permanece, a esfinge tejana observa, impassível!

Aurélio Lopes

sábado, 29 de maio de 2010

O Visitante de Saturno

Estes terráqueos são loucos!
Uns mais outros menos, claro, mas sensatez é algo que, ao que parece, não abunda neste mundo interior do sistema!
Há alguns anos saturninos que me venho debruçando sobre esta espécie indígena do terceiro planeta e, ainda hoje, muitos dos seus comportamentos constituem para mim um completo e absoluto mistério.
Raramente dizem o que pensam e, muitas vezes, nem sequer pensam o que dizem!
É vê-los, impassíveis, cogitar uma coisa, dizer uma outra e fazer quase sempre uma terceira, algumas vezes, por incrível que pareça, literalmente contrária!
Por exemplo, no seu desporto mais popular, “o futebol”, a atitude típica de “despedimento” de um “treinador” parece exigir, previamente (e por mais absurdo que seja), um reafirmar público da solidez do seu contrato e um firme desmentido da eventualidade, mesmo que remota, de uma rotura. Por outro lado, “dar os parabéns” a um árbitro pelo seu desempenho parece querer dizer, pura e simplesmente, que o mesmo foi particularmente desonesto!
Esta lógica alienígena é, de facto, de loucos!
Nos últimos tempos tenho dirigido a minha atenção para uma pequena e peculiar nação localizada no extremo ocidental do grande continente a que os terráqueos chamam “Euro-Ásia”. A análise das suas emissões electromagnéticas (que aqui se designam por T. V.) revela-nos os mais excêntricos comportamentos e mostra-nos que, à semelhança de todos os outros, também estes humanos são dotados de uma moral algo tortuosa e de uma ética pouco menos que inacessível às espécies galácticas mais evoluídas. Aí, os rituais de acasalamento constituem uma verdadeira obsessão!
Uma observação, mesmo que superficial, mostra-nos cobaias impiedosamente acorrentadas e expostas publicamente, utilizando-se tal indignidade, ao que parece, para estudar formas sexuais e de sedução em situações limite. Vítimas indefesas são encarceradas por longos períodos, com certeza para analisar as tensões sociais e os mecanismos de acasalamento que se desenvolvem nas permanências em espaços fechados, bem como avaliar os níveis de agressividade daí decorrentes.
Parece que dantes usavam “ratos”. Ainda não é perfeitamente claro porque passaram a utilizar pessoas!
Aliás, mesmo a utilização de animais inferiores neste tipo de experiências é, como se sabe, uma problemática candente um pouco por toda a Galáxia. Agora, utilizar animais sapientes (pelo menos pretensamente sapientes) e ainda por cima da mesma espécie, eis um costume capaz de chocar o mais volúvel dos Sirianos!!
Mas este tipo de absurdos perpassa toda a sua vivência. Queimam folhas secas de uma planta a que chamam “tabaco” ingerindo o fumo de que são muito gulosos. Mas enquanto o consumo desta substância é perfeitamente legal e até prestigiado (aliás à semelhança de outras como o “álcool” ou a “cafeína”) algumas como a “marijuana” e o “haxixe”, de natureza idêntica e gravidade semelhante, são terminantemente proibidas e os seus consumidores (tão viciados como os outros, assinale-se) estigmatizados e marginalizados!
Há aqui, com certeza, qualquer coisa que me escapa!
Um aspecto particularmente curioso respeita ao comportamento dos seus líderes e dirigentes a que, na linguagem indígena, se chama “políticos”. Estes são personagens assaz peculiares que falam profusamente “do povo”, “pr’ó povo” e “pelo povo” mas curiosamente, não parecem apreciar, especialmente, a sua presença! Apregoam aos quatro ventos serem apenas motivados por inexcedíveis “espíritos de missão” e de “sacrifício pelo bem público” mas, paradoxalmente, parecem resistir a todos e mais alguns esforços desenvolvidos para os aliviar de tão penoso fardo!
Tendem a agrupar-se em estruturas associativas denominadas “partidos”, supostamente constituídas por “políticos” com ideias e ideais semelhantes. Tais semelhanças não são, porém, muito perceptíveis para um observador externo. Na verdade, a competitividade herdada do seu passado “primata e predador” é permanente, e adquire até, muitas vezes, contornos violentos, principalmente quando em disputa determinados lugares a que aqui, por razões obscuras, se denominam “tachos”.
E, incongruência das incongruências, tudo isto acontece enquanto estes e outros dirigentes do mesmo grupo vão proferindo publicamente discursos atrás de discursos, salientando a invulgar coesão interna e a inexcedível solidariedade partidária!!
Enfim! Sei que a exo-biologia é a ciência do surpreendente! Mas,... (por Zarkan!) como é que uma espécie que cultiva assim a irracionalidade conseguiu, até hoje, sobreviver?!
O seu sistema governativo, por exemplo, assenta naquilo a que chamam “democracia”: uma espécie de populismo controlado semelhante ao nosso período pré-Zarkiano. É suposto que, nesse contexto, quanto maior for a participação popular (tanto eleitoral como de acompanhamento das decisões tomadas) mais forte e saudável é o “sistema democrático”. É suposto!
Apesar disso os discursos políticos são incompreensíveis para a larga maioria da população! Mais ainda, alguns são até incompreensíveis em absoluto, isto é; não só não dizem nada como não pretendem dizer seja o que for!
Parecem funcionar apenas como uma espécie de soporíferos; fórmulas estereotipadas destinadas a sugestionar pela forma e a cativar audiências. São assim como mecanismos de verbalização hipnótica que estes hominídeos parecem particularmente apreciar.
E eu que podia estar confortavelmente estudando os “homens-lagartos” de Procrion ou os “vampiros energéticos” de Belteugese! Quem me mandou optar pelos esquisitóides dos terráqueos?!
Ainda agora, após toda a classe política ter feito profissão de fé na necessidade urgente de aumentar a participação dos “portugueses” (nome que estes alienígenas dão a si próprios) tanto na vida pública como política (na sequência, aliás, de uma “eleição” escassamente concorrida) o governo prepara-se para aprovar uma lei para os “municípios” (espécie de governos locais) que na prática retira aos pequenos “partidos”, aos “independentes” e às “organizações cívicas” toda e qualquer possibilidade de intervir na política municipal!
E dizer que é esta a espécie dominante no planeta!
Aliás, penso até que estes espantosos dados irão relançar a velha questão filosófica de saber se as espécies planetariamente dominantes terão de ser sempre, e forçosamente, espécies sapientes!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Anestesiados

O país está em crise!
Nada a que não estejamos habituados! Afinal, é a trigésima sexta crise desde o 25 de Abril!
O país está desmotivado!
Sem chama nem alma!
Já nem os inegáveis atributos oratórios do Senhor Engenheiro (que, assim como assim, bem podia ter encomendado uma licenciatura em Direito) nos conseguem animar!
O país está descrente!
Há muito que não acreditamos nos dirigentes deste país!
Mas agora, nem estes parecem acreditar em si próprios! Ou pelo menos, acreditar que nos possam fazer acreditar de novo!
O país está anestesiado!
Já não reage. Já não “tuge nem muge”!
Aceita passivamente, os escandalosos aumentos da gasolina, em situação bem diferenciada do mercado energético!
Os índices desesperantes de desemprego e o, cada vez maior, emprego precário!
Os brutais aumentos imediatos dos impostos (directos e indirectos), por aqueles que se comprometeram a não os aumentar.
O aumento mediato da carga fiscal que a construção, manutenção e previsível défice de exercício corrente do TGV vai originar, num país cuja “tanga” se parece cada vez mais com um elegante “fio dental!
O país está resignado!
Acabrunhado! Convencido da inevitabilidade das coisas e da inutilidade de as contestar!
Já não se indigna com as repetidas fraudes e corrupções que parecem fazer do nosso um país de corruptos!
Já não se reconhece nas forçadas expectativas de um hipotético brilharete no Mundial, esforçadamente repetidas pelos responsáveis da Selecção!
Já não se entusiasma com a visita do Papa!
Já não se revolta com a inqualificável eternização do Processo Casa Pia!
Pelos vistos, as únicas coisas que ainda fazem parte significativa do país vibrar, são as vitórias do Benfica!
O que até pode ser gratificante para o clube!
Mas é, com certeza, deplorável para o país!

Aurélio Lopes