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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Insensibilidade e mau gosto



“Não estamos em tempos de velhas tradições!” Deste modo, peremtório, Passos Coelho  sentencia a hipótese de conceder ponto no dia de Carnaval.
Segundo o mesmo, o tempo é agora de trabalhar mais e ganhar menos, sem queixumes e cara alegre!
Claro que Passos é um jovem Yuppie! Para ele a vida é um conjunto de números e cifrões! De índices de crescimento e estagnação. De confianças de mercados e agências de rating!
Não percebe que um povo (que é, afinal, a razão de ser da sua condição de governante) é bem mais que números e cifrões!
São pessoas! Muitas delas vivendo, hoje, nos limites da pobreza, sem a dignidade que a natureza humana deveria exigir. Entregues que deixaram, durante as últimas décadas, os destinos do país entregues à classe política de que Passos faz parte.
Tradicionalmente incompetente, irresponsável e corrupta!
Não! Uma nação são pessoas! Portadoras de uma cultura! Imbuídos de valores!
Em grande parte tradicionais!
Que se identificam pela sua pertença a um percurso histórico feito de altos e baixos, mas no qual se reconhecem e no qual assentam os seus referenciais.
Ainda, e sempre, tradicionais!
É a tradição o vínculo que vindo do passado nos configura como povo e nação.
Um povo sem tradição, não tem passado! E um povo sem passado, não tem futuro!
Aliás, em rigor absoluto só o passado existe! O futuro é apenas projeção, expectativa. O presente é instantâneo e, mal acontece, torna-se passado!
Afinal, se o meu amigo se apoiasse melhor no passado, se calhar não diria, no presente, tantos disparates, e estaria melhor preparado para enfrentar o futuro!
Já nos bastam os, cada vez mais tradicionais, disparates de Cavaco!


PS – Amigo Passos, sabe por acaso, porquê todas as sociedades humanas, atuais ou passadas, arcaicas ou civilizacionais, geraram tempos anuais dominados pela subversão? Tempos a que chamamos, hoje, Carnaval?
Porque todas as sociedades, mesmo as mais liberais, carecem de tempos que façam a rotura com o quotidiano: de forma a esvaziar, periódica e ritualmente, as tensões diariamente acumuladas!
Percebeu?
Para que não expludam inesperada e incontrolavelmente!
Porque, afinal, todas têm os seus limites! 

domingo, 20 de maio de 2012

Um meteoro em Santarém




Numa altura em que o papel autárquico de Moita Flores foi regularizado a tempo parcial, exigir-se-á, talvez, uma prévia reflexão sobre o exercício do mesmo, face a uma despedida que se percebe anunciada. Daquelas de que, como usa dizer-se: antes de ser já o eram!
É Moita um presidente que não deixa ninguém indiferente. Amado ou odiado. Sarcástico e populista. Tão capaz de um discurso acintoso e provocador como de uma pranteada oratória capaz de fazer chorar as pedras da calçada!
Alguém que passa velozmente por Santarém onde deixa alguma obra: não obstante, quase toda, controversa. A começar pelos jardins e parqueamentos, até chegar às polémicas empresas públicas.
Com aspetos positivos, como a conjuntural badalação mediática de Santarém e a aquisição de infraestruturas (símbolos históricos contemporânea da cidade) convertidos em espaços públicos sociais e culturais.
Como aspetos negativos (e para lá do equívoco burlesco da “praia fluvial”), o agravamento da dívida municipal (atingindo agora níveis de penúria), para muitos fruto de excessivas comemorações festivas que, aliás, lhe granjearam o epíteto de “Francisquinho das Festas”.
Um meteoro, afinal, na gestão autárquica scalabitana!
O problema é que os meteoros, quando visíveis, são, simultaneamente, “estrelas cadentes”!
Aparecem, brilham efémera e intensamente pela incandescência da fricção social e política e depois ardem, degeneram e acabam enterrados ou submersos, esperando ulteriores e improváveis ressurgimentos!
Queimando, entretanto, tudo em seu redor! Qual cratera estéril que precede o seu ocaso.
São fenómenos temporários e impetuosos. Mas igualmente caóticos e degenerativos.
De Moita Flores (por culpas próprias e alheias) fica a lembrança do acumular de dívidas aos diversos credores do Município, do desamparo das associações, do desleixo no apoio às freguesias.
E, principalmente, das recorrentes transmissões televisivas. Popularuchas, mas frívolas! Mediáticas, mas volúveis!
Sem pingo de consequências positivas para a população. A não ser em breves flashs de episódicas notoriedades. O minuto de fama que muitos, afinal, procuram!
Como tudo nesta história, transitório e virtual!
      

Carta aberta aos portugueses



Caros cidadãos portugueses:
Eu, Primeiro-Ministro de Portugal, venho por este meio manifestar a minha mais profunda indignação pela forma aziaga e pouco compreensiva com que vós tendes encarado o notável esforço que o Governo (a que tenho a honra de presidir) tem feito, enfrentando destemidamente o monstro da bancarrota.
A última diatribe tem a ver com a retenção dos subsídios!
Que diabo, qualquer um se pode enganar. Só os burros é que não se enganam. E, tenham lá paciência, mas burros é que não somos!
Já um governante não pode dizer que vai reter os subsídios de Natal e Férias em 2012 e 2013 e ter-se esquecido de 2014! Onde é que isto vai parar?!!!
Como disse alguém que me precedeu: “aqueles de vós que nunca se enganaram que atirem a primeira pedra!”
Acreditem que é com o coração a sangrar que digo isto mas, sinceramente, cada vez estou mais convencido que o grande problema de Portugal… são os portugueses!
Que chateiam os governantes com manifestações e reivindicações sobre as mais diversas insignificâncias: o direito ao trabalho, o direito à saúde, o direito à informação, o direito à dignidade e, ignomínia das ignomínias, o direito ao salário!
Direitos, direitos, direitos….
Mas quem é que vocês pensam que são?!
E depois ainda querem gozar feriados tradicionais!
Afinal, querem trabalhar ou querem descansar? Decidam-se!
Uma das falácias mais frequentemente suscitada é a da fome!
Mas qual fome? Os que os portugueses têm é apetite! Veja-se tudo o que é certame gastronómico!
Como dizia a minha avó: “fome…  é de quinze dias!”
E, afinal, toda a gente sabe que uma alimentação austera é condição para uma linha esbelta e saudável!
E se por acaso se exagerar (como usa dizer-se, mais vale errar por excesso) é da maneira que se livram, de vez, da crise económica! Nem mais!
Enfim, sem os portugueses (deixemos de fora os governantes, que alguém tem de gerir a crise) a recuperação económica seria um primor!
Sem necessidade de assistência médica, nem Segurança Social, nem pensões, nem subsídios de férias, nem rendimento mínimo, nem subsídios de desemprego. Nem desemprego, afinal.
Um paraíso!

Assim, pelo contrário, obrigam-nos, até, a criar leis dissimuladamente! E a arcar, depois, com o despeito e a injúria!
Vejam bem ao que nos sujeitamos!!
                                                                                                 
Com os melhores cumprimentos
Pedro Passos Coelho

O Retrocesso


A sociedade moderna tem percorrido um caminho de progresso social que, pese embora todas as sinuosidades de um percurso não linear, evoluiu de forma satisfatória no sentido de uma maior materialização daquilo a que podemos chamar uma perspetiva humanista.

Um humanismo que foi, afinal, transferindo a centralidade cósmica da existência, de ancestrais personagens mitológicas para o Homem.

Sistemas ideológicos de justiça social (nem sempre felizes) foram, não obstante, reconhecendo e consolidando inegáveis direitos ao Homem; enquanto trabalhador, enquanto deficiente, enquanto dotado de livre expressão, enquanto criança, enquanto mulher. Enquanto ser humano, afinal!

Homem que passou a ser visto como indivíduo dotado de direitos e deveres, intrínsecos e intransmissíveis.

Não que todos os homens deste planeta passassem a gozar de tais condições. Muito longe disso! Mas, pelo menos, tais princípios estavam formalmente estabelecidos e, admitia-se como suposta, sua futura e, mais ou menos próxima, generalização.

A abundância resultante de uma sociedade de consumo (cujos níveis de produção subiam para limites impensáveis) parecia assim capaz de dotar de invejáveis níveis de vida mesmo aqueles que viviam num estrato médio/baixo da hierarquia social.

De fora (mesmo nas sociedades desenvolvidas) ficavam, necessariamente, os desintegrados por fatalidade ou opção. Personagens face aos quais, sempre se podia, contudo, exercer convenientes caritatividades mais ou menos piedosas.

A lógica mercantilista parecia condicionada, pelo menos no que aos seus exageros mais radicais dizia respeito.

E se a igualdade continuava, naturalmente, como um ideal mais ou menos utópico, a igualdade de oportunidades surgia como um adequado substituto. Pelo menos, o substituto possível.

Os últimos tempos, contudo, têm provocado uma quase completa subversão destes propósitos.

Os desígnios de perfeição da competitividade capitalista (assentes num “saudável” darwinismo empresarial moderado pelo Estado Social) são, assim, adiados para ignotos futuros.

Tão distantes, afinal, como a expressão da nossa vontade. E da capacidade de sermos melhores do que os supostos melhores entre nós!

Aurélio Lopes
Aurelio.rosa.lopes@sapo.pt
aesfingedebronze.blogspot.com





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Direito da força


Após a queda do muro de Berlim, o mundo mudou numa dimensão que as gerações mais novas tem hoje, cada vez mais, dificuldade em medir e perceber. O mundo, dividido em dois blocos, áreas de influência de duas superpotências (na aldeia global em que se vinha tornando) tornou-se rapidamente em quintal da potência restante e das forças militares e políticas a esta, agregadas.
O direito internacional irá ser reconvertido às novas condições. A política de não ingerência, mantida pela força do medo do potencial deflagrar de um conflito mundial, será substituída pelo direito à intervenção desde que estejam reunidas determinadas condições.
Condições, com certeza, avaliadas por aqueles que possuem o poder e a legitimidade que daí advém!
Porque o poder não é só militar e político! É igualmente mediático e, inclusive, judicial!
Poder que transformou os Estados Unidos no policia mundial. Com os resultados que se conhecem. Que permitiu a lideres menores com G. W. Busch, o desenvolvimento de uma militante missão bélica que há décadas mantém tropas no Afeganistão e no Iraque, com efeitos colaterais de milhares de soldados ocidentais mortos, de soldados não ocidentais e um numero arrepiantemente maior de civis dos dois países.
Sem qualquer efeito positivo no controlo do terrorismo internacional, mas com a criação de condições para incrementar o recrutamento de novos membros!
Cuja alteração na situação israelo-palestiniana, se tem pautado pela construção aí de uma novo muro de Berlim e a fixação cada vez maior dos judeus em territórios ocupados dos quais qualquer eventual solução pacífica nunca poderá abdicar.
Em que as intervenções não tem como motivação a natureza dos regimes mas a sua fragilidade e o interesse no controle estratégico territorial ou de recursos. Por isso mesmo se invadiu e pulverizou a Jugoslávia, se apoiam os rebeldes tchetchenos e ajudam militarmente os rebeldes líbios. Mas não se forçou a Indonésia a libertar Timor, não se toma sequer uma posição clara sobre o Tibete e não se apoiam militarmente ou se invadem países submetidos a regimes autoritários como Coreia do norte ou a Birmânia e senhores da guerra como os da Somália embora estejam a por em perigo a circulação naval no Índico.
Curioso é verificar como os tribunais internacionais dos direitos do homem agem face a dirigentes com maior ou maior culpabilidade no desrespeito pelos ditos.
É apenas depois dos mesmos serem afastados do poder (ou estarem na iminência disso) é que aqueles os acusam de crimes contra a humanidade! Enquanto líderes, são muitas vezes mais úteis e necessários como aliados políticos; recebidos com todas as honras de estado, numa aprazível convivialidade como se faz com os amigos do peito.
Exemplo disso é o antigo presidente egípcio Hosni MubaraK e o ainda presidente líbio Muamar al Kadafhi.
O primeiro, um dos aliados privilegiados do ocidente durante décadas, considerado um moderado no mundo árabe, indispensável, aliás, na estratégia americana no médio oriente. Alguém em quem nunca se falava como ditador ao contrário por exemplo dos presidente da síria e do irão. Contudo a sua queda por força de uma revolta popular de contornos ocultos e consequência ainda imprevisíveis, colocou-o numa posição conveniente para servir de exemplo externo e satisfazer exigências internas dos novos dirigentes.
O segundo, encurralado pela santa aliança tribal e ocidental, vê o tribunal internacional, diligentemente, acusá-lo formalmente de um conjunto de acções que o ocidente conhecia de gingeira, há décadas, e nunca foram impeditivas de convenientes negócios e acordos económicos bem convenientes!
As acusações surgem assim como uma legitimação posterior da referida intervenção militar (ou doutra natureza), nalguns casos, até, contra todas e mais algumas condições do, já de si enviesado, direito internacional.
Portanto, ditadores deste mundo, não interessa o que fazem ou deixam de fazer: o segredo está em não caírem da cadeira do poder. E para isso convém que sejam ou, suficientemente poderosos para desincentivar intervenções da Nato ou, em alternativa, se terem tornado indispensáveis aos interesses do Ocidente.
Afinal a moral internacional pode ser sintetizada numa peculiar expressão popular portuguesa, que mostra bem a intemporalidade da moral quando esta se exprime numa lógica de poder: a um cão sarnento toda a gente lhe atira pedras!

Avieiros numa encruzinhada


Iniciado há meia dúzia de anos, o Projecto de Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional veio a constituir, uma interessante experiência de auto-organização de personagens e instituições regionais em torno de uma iniciativa, algo inédita, de desenvolvimento local. Não obstante e, simultaneamente, proporcionou também uma dispensável mostra da famigerada “política de quintinhas” que se vive entre nós.
Projectando o património material e imaterial da assim chamada “cultura avieira” (na verdade, não uma cultura, mas um conjunto de vivências culturais) a elemento pretextual de um projecto congregador de motivações e vontades, insuficiências diversas (inclusive organizacionais) têm contudo protelado a criação de condições determinantes e indispensáveis à consubstanciação do desígnio primevo. Desígnio, nas condições económicas actuais, mais difícil, ainda, de concretizar.
A reconversão reivindicativa, agora universal, deve se vista, naturalmente, como uma reinterpretação paradigmática num novo desígnio mobilizador; esgotado um pouco o objectivo inicial. Um novo desígnio afinal que, apesar de utópico, não deixe perder, em absoluto, o percurso até aqui desbravado.
A natureza ora prática do Projecto (deixando cair a componente intangível/investigativa) aposta, especialmente, em diversificados subprojectos turísticos, usando o património avieiro com catalisador simbiótico com outras áreas patrimoniais, construídas ou ambientais, culturais ou geofísicas que, como um todo, possam desenvolver em torno do Tejo actividades de valorização e divulgação, concomitantes com acções de intervenção administrativo-económicas de desenvolvimento regional auto-sustentado.
Infelizmente, hoje como ontem, a participação da maioria das instituições competentes (com honrosas excepções) sejam elas municipais, turísticas ou empresariais, tem sido distante e calculista.
A sua participação quando existe, reveste-se de contornos pouco dedicados e efusivos.
Num “esperar para ver”, que não deixa espaço a uma mais-valia mobilizadora.
Numa solidariedade orgânica pouco menos que incipiente!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cíclicas ilusões

Sucedem-se as avaliações ao novo Governo e aos seus ministros, vistos, pelos imperativos da necessidade, como uma espécie de salvadores da pátria, agora que as organizações de poder alternaram mais uma vez e nos esquecemos, já, das concomitantes responsabilidades de umas e outras.
Os analistas políticos, críticos, comentaristas e toda a fauna de politólogos (encartados ou não), tecem considerações de circunstância sobre as circunstâncias da formação de um governo que, de acordo com os deploráveis circunstancialismos actuais, deveria merecer um esforço o mais abrangente possível, de conjunção e adição de vontades e competências.
Percebe-se logo, contudo, que, mais uma vez, algumas das primeiras escolhas preferiram calçar as pantufas e assistir de poltrona a um difícil e naturalmente impopular processo económico e financeiro, necessário à superação de uma situação de facto que muitos deles, convenhamos, ajudaram a criar.
O nosso sentido de responsabilidade política e de solidariedade nacional é um espanto!
Tenhamos, porém, poucas ilusões, o próximo Governo, fosse ele qual fosse, estaria sempre (leia-se, estará sempre) fortemente condicionado pela desgraçada situação económica em que estamos mergulhados e pelos compromissos que assumimos ou assumiram em nosso nome.
Não nos iludamos, também, acerca das competências das troikas que nos enviam, como uma espécie de anjos vingadores dos erros e incompetências nacionais. A sua competência não é, afinal, maior (pelo menos, significativamente) que a dos políticos portugueses que nos meteram neste imbróglio.
Têm, contudo, algumas vantagens:
- Não necessitam de ser, periodicamente, submetidos a sufrágio eleitoral.
- Não se incomodam se as suas impopulares e draconianas soluções nos vão fazer ficar, ainda, mais de tanga do que já estamos.
- Não respondem a lobbys nacionais: partidários, corporativos ou outros.
Respondem a outros! Para os quais somos, apenas, um apêndice insignificante.
Para quem a pobreza é apenas um índice numérico de desenvolvimento.
E, a miséria, um efeito colateral de um desígnio global maior!