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Espaço de comunicação que se espera interactivo, este é um instrumento que permite estar próximo de amigos,presentes e futuros, cujas contingências da vida tornam distantes mas nem por isso menos merecedores de estimas e afectos.


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quarta-feira, 16 de março de 2016

Narciso de calções



Numa sociedade individualista e competitiva em que vivemos, a ambição, mesmo que desmedida, tende a ser encarada como inegável e estimável virtude
Tentar superiorizarmo-nos aos outros pode garantir o ambicionado lugar nas listas autárquicas ou parlamentares, uma rápida ascensão na carreira empresarial ou uma afirmação da nossa empresa face a competidores diretos e indiretos.
Num enviesado darwinismo social, passar por cima do outro constitui, cada vez mais, atitude vista como resoluta e determinada. Própria de um “animal político”, de um “atleta superior”, de um reputado advogado ou de um hábil gestor ou executivo.
Neste momento o estereótipo padrão de tal é, um tal Cristiano Ronaldo.
Frases como “Quero ser o melhor em tudo aquilo que faço”, dão corpo a chamativas manchetes e servem de sórdida inspiração a muitos.
Despertando, igualmente, o aplauso da maioria dos, assim chamados, comentadores desportivos, cuja proliferação de canais informativos, tornam ainda (se tal é possível) mais prosaicos e obtusos.
Para quem os fins, desde que se traduzam em sucessos, justificam sempre os meios. E quem vence tem sempre razão.
E, afinal, bastaria abdicar de um simples prenome: “Quero ser (  ) melhor em tudo aquilo que faço”.
Uma simples letra, mas veiculadora de um universo de diferenças.
Em que o adversário deixa de ser apenas o outro e passa a ser, igualmente, a superação dos nossos próprios limites.
É, na verdade, uma filosofia mercantilista e narcisista aquela que, paulatina e alegremente (a obscena dimensão promocional destes personagens) vem, entre nós, construindo.
Em que a materialidade egoísta é padrão divino e se exalta, o ídolo, até ao insensato.
E a solidariedade fica reservada a putativos episódios, geradores de uma artificiosa imagem mediática; caridosa e solidária.
Da qual, afinal, se sente, periodicamente, a necessidade de vestir a pele.
Esquecendo-se que o valor de qualquer dádiva não está, afinal, naquilo que se dá, mas naquilo com que se fica depois de se dar!




terça-feira, 15 de março de 2016

Estupidificação



O recorrente hábito de realizar pretensas sondagens televisas acerca de estapafúrdias  questões destinadas a serem parodiadas nos inefáveis programas da manhãs, em  canal aberto, constituem um exemplo estupidificante e oportunista das limitados discernimentos e requisitos de qualidade do povo consumidor que somos.
Sondagens que, afinal, nem sequer o são (já que muitas vezes os repórteres sugerem previamente, aos entrevistados, as respostas a dar) sobre temas que não pretendem ser, nem são, mais que meros fixadores de audiências; mesmo que para isso se tenha de baixar o respetivo nível até ao nível de acefalia funcional.
Aqui há algum tempo atrás, deparei com uma equipa que perguntava aos homens “se achavam que as louras eram mais estúpidas que as morenas”!
Mais recentemente, questionava-se “se era verdade que as mulheres de formas mais arredondadas tendiam, ou não, a ter filhos mais inteligentes”.
Dois, disparates entre muitos outros.
Pode-se argumentar com a irrelevância das questões. E a sua insípida vacuidade. Brincadeiras, afinal.
Contudo e não falando já da evidente estupidificação que a recorrente utilização  destas temáticas induz em muitos de nós, existe algo mais (que está subjacente, pelo menos a temas como os atrás referidos) suponho que inconscientemente: a crença, que vem de longe, de que os carateres físicos têm correspondência, necessária e absoluta, nas respetivas capacidades intelectuais.
Crença, afinal, que devidamente integrada em correspondentes sistemas de valor e ideologicamente enquadrada em doutrinas seculares, sustentou durante milénios sistemas esclavagistas e sustenta, ainda hoje, étnicos genocídios bem como (assumidas ou não) seculares e diversificadas doutrinas xenófobas e racistas.


Virtude e preconceito



Reconheço que nunca tive uma particular predileção por papas. Dando de barato a sua suposta santidade e infalibilidade, os mesmos são afinal chefes de uma organização religiosa (como todas as organizações religiosas, particularmente conservadora) que, embora nos seja teológica e culturalmente próxima, possui um historial de intolerância, no mínimo, tenebroso.
Deverei, assim, abrir uma exceção para o atual.
Cuja ostensiva simplicidade e compreensibilidade, convenhamos, ao princípio me fez desconfiar. Simplicidade de forma, de imagem e de discurso, cogitei. Sem correspondência com a compreensibilidade daqueles aspetos. tanto teológicos como socioculturais e políticos que, afinal, fazem deste mundo aquilo que ele, infelizmente, é.
Hoje, contudo, acho que o seu papel (o papel que pretende desempenhar) é de alguém que se assume como incómodo para com os inúmeros vícios e intolerâncias que ainda, hoje, grassam na Igreja.
As intervenções sobre os mais variados assuntos (como aconteceu, ainda recentemente, com a sugestão de que o radicalismo islâmico deve ser enfrentado não exclusivamente de forma repressiva mas, igualmente, através de uma alteração na nossa maneira de ver o outro) revelam não só uma inaudita coragem (face às bolorentas atitudes politicamente corretas do Vaticano) como, ainda, uma significativa clarividência.
Sugestão desassombrada e contracorrente, que lançou mais vez a polémica*. Incomodando muitas posturas tradicionalmente acomodadas e confortavelmente instaladas.
Tal como tinha acontecido, já, com as suas opiniões manifestas sobre os homossexuais, o papel das mulheres, o celibato dos padres e, grosso modo, a hipocrisia caritativa.
Afinal, aquilo que vem, de forma ainda surda, provocando uma divisão na Igreja.
Entre as massas católicas pouco canonizadas que o adoram e grande parte das estruturas pastorais e eclesiásticas (bem como a própria hierarquia do Vaticano) que, por enquanto, o censuram de forma inversamente proporcional à respetiva responsabilidade hierárquica.
A tal hierarquia mais ou menos atacada do famoso “alzheimer espiritual”.
Naturalmente existirão sempre diferenças entre as nossas maneiras de ver as coisas.
Reconheço, contudo, que preferiu a inquietude de afrontar os “vendilhões do templo” a optar pelo habitual e farisaico papel de arquétipo moral de uma organização, afinal, de enviesada moralidade.
E isso é algo que nos deve merecer o maior respeito.

* Uma pergunta apenas a propósito deste tema que tanto tem emocionado a opinião pública portuguesa: será que optarmos por não ridicularizar os outros naquilo que eles consideram mais sagrado, é estar a abdicar do nosso direito à liberdade de expressão?
Não estaremos a confundir direitos com deveres?
Ou será que achamos que é a mesma coisa?
O que é extraordinário é precisar de ser o Papa a alertar para uma coisa destas.



“Non ou a vã glória de… tentar



Bem se esforçam os comerciantes do centro histórico de Santarém (cada vez mais histórico e menos centro*) por animar ruas e praças, tentando assim, em desespero de causa, atrair os cada vez mais ausentes e relutantes clientes.
Como vem acontecendo nos últimos anos, o Natal serve de pretexto a mais uma tentativa. Tentativa hercúlea que luta contra todas, ou quase todas, as sinergias de mercado próprias dos tempos modernos.
Não bastava já, afinal, a famigerada crise que tão graves efeitos induz em termos de mercado.
Persistindo na zona mais antiga de Santarém em que os problemas de conservação urbana são cada vez mais evidentes, com problemas de acesso rodoviário que os diversos executivos municipais têm contribuído para agravar e ainda maiores problemas de estacionamento (agora que o parqueamento vai cumprindo eficazmente a sua função de desertificação) e sem qualquer tipo de transporte público (pese embora as recorrentes promessas nesse sentido) que podem fazer afinal, os comerciantes, da zona histórica?!!
Zona em que até a insignificante vantagem de um posicionamento urbano que permitiria algum acesso pedonal (em horário laboral) lhe foi maquiavelicamente usurpada pela instalação de uma grande superfície em pleno centro da cidade.
Zona em que os encerramentos se sucedem e sobrevivem, apenas, aqueles cujos fatores de produção (instalações próprias ou aluguer antigo e/ou utilização de mão de obra própria ou familiar) permitem a manutenção da atividade que, muitas vezes, mais não é que uma atitude de teimosia ou uma rejeição liminar de uma reforma miserável feita de polimentos diários dos bancos do jardim.
Zona em que o atual executivo municipal não querendo ficar atrás do consulado “Moitista” (a quem, reconheça-se, cabe a honra de ter dado a machadada final nesta zona da cidade) resolveu alindar a saída do largo do seminário (escoamento natural do trânsito da cidade) fechando de todo o mesmo e condenando o trânsito urbano a voltas e reviravoltas, saindo e entrando por travessas e ruelas, dando, literalmente, a volta a cidade.
Num cenário destes, os referidos esforços da Associação Comercial de Santarém parecem mais aquelas patéticas (que não patetas, esclareça-se) tentativas de esvaziar o mar com um balde.
Bem se esforçam. Honra lhes seja feita.
Embora tal seja cada vez mais um esforço inglório.
Ou, mais precisamente, um esforço feito inglório pela microcefalia dos nosso autarcas.
Para quem a cidade é uma espécie de “bibelot” para turista ver. E para candidaturas a prémios arquitetónicos.
Na qual as pessoas não tem lugar**.
Afinal, foi já por isso que a Candidatura de Santarém (leia-se, em grande parte, o centro histórico de Santarém) a Património Mundial, falhou rotundamente.


*No sentido de que vai irredutivelmente passando à “história”. E que de “centro” que nunca foi geográfico e há muito tempo não é social, vai sendo cada menos comercial.
**Acho, aliás, que ao sonho do autarca/padrão português é, um dia, poder presidir a um município sem munícipes.
Que, afinal, não são mais que um incómodo. Que se acham com todos os direitos e mais alguns. Enquanto transeuntes. Enquanto residentes. Enquanto peões. Enquanto condutores. Enquanto consumidores. Enquanto vendedores. Enquanto cidadãos…


A exceção e a regra


A corrupção tem sido um tema recorrente nas análises político-sociais que venho fazendo nos últimos anos. Corrupção com que nos habituámos a viver e cuja importância, ativa ou passiva, consciente ou inconsciente, frequentemente menorizamos.
Que não é apenas um atavismo imoral e egoístico da classe politica e respetiva estrutura administrativa, governamental ou não. Antes fosse, estavam criadas condições para a sua superação.
Vem toda esta conversa aproposito de uma afirmação de uma conhecida analista politica num periódico recente: A corrupção não ´um cancro que mestatize este regime: A corrupção é rede que o sustenta”.
É alguém que se aproxima da realidade, mas reduz a dimensão corruptora a um determinado regime.
Contudo o problema não é em rigor absoluto deste regime; entendendo, este, como uma forma de governo, enquadrado em valores e interpretado por determinados lóbis de uma classe politica mas vasta.
Nem deste, nem do anterior. Ou do que o antecedeu.
Mas, sim, algo que nos impregna como povo e nação. Que, como algumas vezes já afirmei, tem a ver com persistências extemporâneas de ancestrais mentalidades comunitárias e com as decorrentes insuficiências nos imperativos de cidadania que nos deviam enformar.
Que afeta a natureza das nossas matrizes sociais e morais. Culturais mesmo, se quisermos.
De que os nossos governantes constituem, apenas, a elite: dos poderosos e oportunistas.
Dito de outra maneira daqueles que partilhando de igual moralidade, têm o poder e a oportunidade necessários e suficientes para a executarem.
Em ações de imoralidade, tendentes para a ilegitimidade e desta para a ilegalidade. De uma forma, corrente, natural, habitual.
Sempre que particulares valores económicos e interesses pessoais mais altos se levantem.
Portanto, não é a classe política que é corrupta. Somos todos nós.
E os respetivos regimes enquadram apenas aqueles que face a esta predisposição podem tirar (e tiram) maior partido. Um partido extremamente lesivo do interesse nacional.
São apenas os catalisadores da vontade e os intérpretes das ações. Alguns, convenhamos, extremamente propensos a tal.
Mas que, quando são denunciados, acusados, julgados ou até condenados como criminosos, merecem, do povo que somos, a maior das solidariedades. Vejam-se as Fátimas Felgueiras, os Miguel Relvas, Isaltino Morais, os Valentim Loureiros, os Pintos da Costa, os Ferreiras Torres, etc.,…
Afinal, eles estão no lugar que nós gostaríamos de estar. Partindo e repartindo e….  ficando com a melhor parte.
Não sei se caracterizar a corrupção como um cancro constitui a analogia mais adequada. Sei, contudo que à semelhança do mesmo não só nos permite ir vivendo enquanto condenados, como nos obriga a estar condenados enquanto vivemos.

Ou melhor, sobrevivemos.

Estigmas e preconceitos



Ao contrário do que se verifica noutros países, em Portugal, a cultura tradicional e os meios académicos vivem de costas voltadas, mantendo entre si uma fronteira de preconceitos que contextos históricos, relativamente recentes, ajudam a perceber.
Movimentada maioritariamente por aquilo a que usualmente se chama ranchos folclóricos (e mais correto seria chamar grupos ou agrupamentos de folclore) a pesquisa e divulgação do cultura tradicional portuguesa tem-se caraterizado por uma ação quase estritamente dirigida para o espetáculo (de preferência frenético e pitoresco), surgindo, assim, a eventual investigação (quando existe), mais como um meio ocasional do que como um fim em si próprio.
Naturalmente, quando se servem propósitos de espetacularidade, o princípio da objetividade que deve presidir a qualquer pesquisa/divulgação é fortemente afetado. O rigor das pesquisas, da análise documental e dos pressupostos da divulgação, tornam-se  incipientes ou simplesmente inexistentes.
Este aspeto, aliado à opção fóssil da grande maioria do conteúdo cultural que os agrupamentos pretendem e assumem representar e, ainda, à imagem que persiste do folclore enquanto criação panfletária do Estado Novo, ajuda a explicar porquê os meios académicos olham com evidente menosprezo esta área da cultura popular.
Atitude à qual os responsáveis do movimento folclórico respondem do mesmo modo.
Não com menosprezo, mas com alheamento e desconfiança. Olhando para os académicos como corpos estranhos ao conhecimento tradicional; despojados que estão do conhecimento vivencial de experiência feito, portadores apenas do saber livresco, não fundamentado na experiência direta e pessoal.
E exteriores, ainda, ao conhecimento típico do laborioso folclorista/etnógrafo local: uma vida ao serviço de uma pesquisa quase estritamente oral, num saber descritivo, quantitativo e terminológico.
Subjacente a esta atitude existe, ainda, uma inconfessada tendência para ver os mesmos como alguém que, de uma forma ou doutra, ameaçam o estatuto dos atuais dirigentes e, em última instância, o seu precioso lugar.
Portanto, enquanto se recorre aos mesmos, esporádica e pontualmente, para prestigiar alguma realização pretensamente refletiva e analítica (quase sempre em faz de contas coloquiais ou congressionais, para compor calendário) vai-se reforçando (para consumo interno) o discurso da superioridade do saber prático e vivido face ao saber teórico e escolástico.
E, assim, vai o Folclore Português alegremente fluindo ao sabor das contingências opinativas dos seus (assim considerados) especialistas: quase sempre pomposamente denominados “conselheiros técnicos”. Personagens emergentes dos agrupamentos folclóricos; líderes locais tornados regionais ou nacionais, de forte personalidade e prosaico conhecimento.
Eis, assim, porquê a área da cultura popular que mais gente movimenta neste país e a área por excelência da produção do saber, vivem de costas voltadas.
Numa dicotomia de rejeição igualmente disparatada.
Uns deixando cada vez mais (se é que tal é possível) o objeto do seu trabalho ser menorizado e destituído de qualquer valor para lá da sua função social e lúdica.
Outros, deixando entregues a si próprios a grande massa de agentes culturais* que se debruçam, afinal, sobre as nossas raízes.
Importante seria que essa “grande massa” refletisse uma mais rigorosa análise e reflexão.
Condição em que os meios académicos deveriam ter uma importante palavra a dizer.
Desde que, naturalmente, abandonassem os preconceitos**.
E deixassem de ter uma atitude narcisística de sobranceria.
Que só lhes fica mal.

*Aliás mesmo que reduzíssemos o milhar e meio de agrupamentos ditos folclóricos à uma ou duas centenas que desempenham um verdadeiro e sistemático papel de pesquisa e divulgação da cultura local e regional, mesmo assim, esta continuariam a ser, entre nós, a área cultural que mais gente movimenta.
**Nem todos os sectores académicos partilham de tal atitude, reconheça-se. Apenas, dir-se-á, os suficientes para fazerem senso-comum.




A invenção do sagrado



A criação da “Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo”, resultante das estratégias promocionais do Projeto de Candidatura da Cultura Avieira, constitui um interessante fenómeno de religiosidade popular.
Independentemente do mais ou menos insignificante móbil que lhe esteve na génese, a criação, por geração mais ou menos espontânea, para efeitos turísticos (que tem merecido diversas criticas) não é afinal inédita. Muito longe disso!
Com maior ou menor base hierofânica (com patrocínio eclesiástico ou exterior à Igreja), reconstituem-se cultos adormecidos (Santíssimo Milagre, Senhora do Castelo) ou diluídos (Senhora da Boa Viagem), para só falar da Região, cultos suportes cultuais são hoje requeridos para promover vilas, cidades e municípios.
Afinal o turismo religioso está na moda.
Entre a possibilidade de utilizar cultualidades existentes na Borda d´água e caras aos avieiros (mas institucionalizadas e controladas nas suas funcionalidades), os responsáveis pelo Projeto resolveram criar uma nova entidade que pudesse, de alguma forma, relacionar-se com as diversas aldeias avieiras e se identificasse, afinal, com estas comunidades piscatórias do Tejo.
E eis assim, como que por milagre, surgiu a “Nossa Senhora de Tejo e dos Avieiros”.
Não foi, de todo, uma má ideia.
O que não falta são divindades promovidas institucionalmente por instituições profanas, como os municípios.
O que não falta são situações em que os propósitos (políticos, sociais, turísticos ou patrimoniais) são completamente exteriores às questões devocionais.
E, afinal, a atual dimensão cultual mariana, aliada a sucessivos marketings cerimoniais e especialmente processionais (de particular popularidade) bem como, à identificação da personagem como elemento simbólico agregador de avieiros e descendentes pode, inclusivamente, gerar um novo culto.
Que, a acontecer, será interessante estudar. E, naturalmente, refletir.
Afinal (guardadas as devidas proporções) foi só quando se transformaram na “noite das bruxas” que as antigas festas célticas do “shamain”, depois “festas das calendas”, depois “dia de todos os santos”, se universalizaram.
Só quando a coca-cola resolveu criar a figura publicitária do Pai Natal, o dito natal extravasou a dimensão cristã e se tornou um fenómeno mundial. E o “Filho” acabou por ser assinado pelo “Pai”. Ainda, por cima, um “Pai” ilegítimo.
Provando assim, se necessário fosse, que os aspetos de marketing são hoje determinantes.
As críticas, no entanto, têm sido, como usa dizer-se, “mais que muitas”.
Dizem, alguns, que se trata de uma fraude. De brincar com coisas sérias. Uma divindade inventada de acordo com propósitos teológicos não justificados, nem justificáveis.
Contudo, todas as “nossas senhoras” são uma e uma só entidade. As suas diversas personagens, consubstanciadas nas diversas “imagens”, somente expressam invocações diferentes: dotadas de diferentes atributos.
Dizem, outros, tratar-se de uma divindade de conjuntura e oportunidade pontual (uma espécie de divindade descartável) e que serve, simultaneamente, interesses políticos, turísticos e cultuais: uma espécie de três em um!
Dizem outros, ainda, criticando a ligeireza do processo, que “os santos não caem do céu aos trambolhões”.
Não obstante, os santos de génese popular, poder-se-á dizer, acabam de uma forma ou doutra, por “cair do céu”.
Não “aos trambolhões”, convenhamos, mas transportados em brilhantes nuvens brancas, radiantes arco-íris ou fluorescentes raios de sol.
Poisando depois, ou não, numa qualquer azinheira.