Bem se esforçam os
comerciantes do centro histórico de Santarém (cada vez mais histórico e menos
centro*) por animar ruas e praças, tentando assim, em desespero de causa,
atrair os cada vez mais ausentes e relutantes clientes.
Como vem acontecendo
nos últimos anos, o Natal serve de pretexto a mais uma tentativa. Tentativa
hercúlea que luta contra todas, ou quase todas, as sinergias de mercado
próprias dos tempos modernos.
Não bastava já,
afinal, a famigerada crise que tão graves efeitos induz em termos de mercado.
Persistindo na zona mais
antiga de Santarém em que os problemas de conservação urbana são cada vez mais
evidentes, com problemas de acesso rodoviário que os diversos executivos municipais
têm contribuído para agravar e ainda maiores problemas de estacionamento (agora
que o parqueamento vai cumprindo eficazmente a sua função de desertificação) e
sem qualquer tipo de transporte público (pese embora as recorrentes promessas
nesse sentido) que podem fazer afinal, os comerciantes, da zona histórica?!!
Zona em que até a
insignificante vantagem de um posicionamento urbano que permitiria algum acesso
pedonal (em horário laboral) lhe foi maquiavelicamente usurpada pela instalação
de uma grande superfície em pleno centro da cidade.
Zona em que os
encerramentos se sucedem e sobrevivem, apenas, aqueles cujos fatores de
produção (instalações próprias ou aluguer antigo e/ou utilização de mão de obra
própria ou familiar) permitem a manutenção da atividade que, muitas vezes, mais
não é que uma atitude de teimosia ou uma rejeição liminar de uma reforma
miserável feita de polimentos diários dos bancos do jardim.
Zona em que o atual
executivo municipal não querendo ficar atrás do consulado “Moitista” (a quem,
reconheça-se, cabe a honra de ter dado a machadada final nesta zona da cidade)
resolveu alindar a saída do largo do seminário (escoamento natural do trânsito
da cidade) fechando de todo o mesmo e condenando o trânsito urbano a voltas e
reviravoltas, saindo e entrando por travessas e ruelas, dando, literalmente, a
volta a cidade.
Num cenário destes, os
referidos esforços da Associação Comercial de Santarém parecem mais aquelas
patéticas (que não patetas, esclareça-se) tentativas de esvaziar o mar com um
balde.
Bem se esforçam. Honra
lhes seja feita.
Embora tal seja cada
vez mais um esforço inglório.
Ou, mais precisamente,
um esforço feito inglório pela microcefalia dos nosso autarcas.
Para quem a cidade é uma
espécie de “bibelot” para turista ver. E para candidaturas a prémios
arquitetónicos.
Na qual as pessoas não
tem lugar**.
Afinal, foi já por
isso que a Candidatura de Santarém (leia-se, em grande parte, o centro histórico
de Santarém) a Património Mundial, falhou rotundamente.
*No sentido de que vai irredutivelmente passando à “história”. E que de “centro”
que nunca foi geográfico e há muito tempo não é social, vai sendo cada menos
comercial.
**Acho, aliás, que ao sonho do autarca/padrão português é, um
dia, poder presidir a um município sem munícipes.
Que, afinal, não são mais que um incómodo. Que se acham com todos
os direitos e mais alguns. Enquanto transeuntes. Enquanto residentes. Enquanto
peões. Enquanto condutores. Enquanto consumidores. Enquanto vendedores.
Enquanto cidadãos…
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