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terça-feira, 15 de março de 2016

Virtude e preconceito



Reconheço que nunca tive uma particular predileção por papas. Dando de barato a sua suposta santidade e infalibilidade, os mesmos são afinal chefes de uma organização religiosa (como todas as organizações religiosas, particularmente conservadora) que, embora nos seja teológica e culturalmente próxima, possui um historial de intolerância, no mínimo, tenebroso.
Deverei, assim, abrir uma exceção para o atual.
Cuja ostensiva simplicidade e compreensibilidade, convenhamos, ao princípio me fez desconfiar. Simplicidade de forma, de imagem e de discurso, cogitei. Sem correspondência com a compreensibilidade daqueles aspetos. tanto teológicos como socioculturais e políticos que, afinal, fazem deste mundo aquilo que ele, infelizmente, é.
Hoje, contudo, acho que o seu papel (o papel que pretende desempenhar) é de alguém que se assume como incómodo para com os inúmeros vícios e intolerâncias que ainda, hoje, grassam na Igreja.
As intervenções sobre os mais variados assuntos (como aconteceu, ainda recentemente, com a sugestão de que o radicalismo islâmico deve ser enfrentado não exclusivamente de forma repressiva mas, igualmente, através de uma alteração na nossa maneira de ver o outro) revelam não só uma inaudita coragem (face às bolorentas atitudes politicamente corretas do Vaticano) como, ainda, uma significativa clarividência.
Sugestão desassombrada e contracorrente, que lançou mais vez a polémica*. Incomodando muitas posturas tradicionalmente acomodadas e confortavelmente instaladas.
Tal como tinha acontecido, já, com as suas opiniões manifestas sobre os homossexuais, o papel das mulheres, o celibato dos padres e, grosso modo, a hipocrisia caritativa.
Afinal, aquilo que vem, de forma ainda surda, provocando uma divisão na Igreja.
Entre as massas católicas pouco canonizadas que o adoram e grande parte das estruturas pastorais e eclesiásticas (bem como a própria hierarquia do Vaticano) que, por enquanto, o censuram de forma inversamente proporcional à respetiva responsabilidade hierárquica.
A tal hierarquia mais ou menos atacada do famoso “alzheimer espiritual”.
Naturalmente existirão sempre diferenças entre as nossas maneiras de ver as coisas.
Reconheço, contudo, que preferiu a inquietude de afrontar os “vendilhões do templo” a optar pelo habitual e farisaico papel de arquétipo moral de uma organização, afinal, de enviesada moralidade.
E isso é algo que nos deve merecer o maior respeito.

* Uma pergunta apenas a propósito deste tema que tanto tem emocionado a opinião pública portuguesa: será que optarmos por não ridicularizar os outros naquilo que eles consideram mais sagrado, é estar a abdicar do nosso direito à liberdade de expressão?
Não estaremos a confundir direitos com deveres?
Ou será que achamos que é a mesma coisa?
O que é extraordinário é precisar de ser o Papa a alertar para uma coisa destas.



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